A transmissão das emissoras de rádio com vídeo pela internet não é uma novidade. No entanto, em 2022, na capital e no interior, essa estratégia consolidou-se, sendo talvez o ponto mais positivo a se destacar no ano. Aqui, alguns exemplos:
Um lembrete e uma última observação.
Primeiro, o lembrete. O desafio desse tipo de transmissão está em não esquecer que o meio central é o rádio. Não se trata de televisão. Nem todo o público acompanha a imagem. Provavelmente, a maioria seja mais ouvinte do que internauta ou telespectador.
Por fim, a observação: se você duvida do poder da hibridização, observe que a maioria dos trechos de programação de rádio que ilustram este balanço, como nos anos anteriores, podem ser encontrados na internet e assistidos como vídeos.
Voltemos ao início do século. No jornalismo da Grande Porto Alegre, apesar da liderança da Gaúcha e dos sempre presentes interesses empresariais e políticos, havia concorrência. Band e Guaíba tinham equipes consideráveis. Pampa corria por fora. Era inimaginável que um comunicador abrisse o seu voto. Dentro das emissoras, os próprios profissionais pressionavam para que, bem ou mal, todos os lados fossem ouvidos. Havia desconforto nas redações em relação a posições exacerbadas de alguns. Em 2022, ano de eleições, a conversão integral das rádios Guaíba e Pampa à propaganda política bolsonarista e o movimento semelhante de parte da programação da Band sepultaram, na prática, a concorrência.
No jornalismo, alguma disputa ainda existe graças à cobertura de futebol, em especial da Grenal, mas com a Band e a Guaíba oferecendo alternativas. No entanto, influenciadores digitais já avançam sobre o que era terreno dominado pelas rádios. É o caso das iniciativas lideradas por Fabiano Baldasso e Farid Germano Filho.
No restante da programação, a falta de concorrência é tanta que a Gaúcha se deu ao luxo de fazer programação normal em pleno segundo turno das eleições. A emissora preocupa-se, ocasionalmente, com a Caiçara, popular, ou com a Grenal, especializada em futebol. Isso explica, por exemplo, o porquê de, ao longo do ano, a Gaúcha deixar as soft news preponderarem em alguns dos seus programas – caso do Timeline e do Gaúcha+ –, além de ter dado mais 30 minutos, a partir de 8 de agosto, para o futebolístico Sala de Redação.
Na Grande Porto Alegre, sobram pouquíssimas opções para quem é sensato e busca notícia com credibilidade e análise ponderada, mas não gosta da rádio do Grupo RBS. As alternativas são os programas comandados por Oziris Marins, na Band, e algumas faixas de programação da BandNews. O ouvinte pode optar, ainda, pela escuta de rádios de formatos mais híbridos, como ABC e União, ambas de Novo Hamburgo. Uma alternativa é apelar para estações de São Paulo ou podcasts noticiosos.
Maquiados como jornalismo, o polemismo e a propaganda política, com certeza, deixaram mais pobre o rádio do Rio Grande do Sul em 2022.
Em 2022, o ouvinte repetiu o que já se tornou um hábito: acompanhar a apuração das eleições pela Gaúcha. Com o apoio da maior equipe de reportagem do estado, a transmissão do final do pleito em 30 de outubro teve precisão e emoção sob o comando de Andressa Xavier. Com a qualidade de sempre, Rosane de Oliveira comentou e Antônio Carlos Macedo acrescentou conteúdo com seu olhar atento sobre os números do Tribunal Superior Eleitoral. O “subiu” e o “desceu” de Macedo deixaram apoiadores de candidatos com as orelhas em pé no que foi, muito provavelmente, um dos momentos de maior audiência da emissora ao longo do ano.
Única emissora do Rio Grande do Sul com equipe própria no Catar, a Rádio Gaúcha transmitiu todos os jogos da Copa do Mundo de Futebol. O principal narrador esportivo do estado, Pedro Ernesto Denardin, foi homenageado pela Fifa por estar cobrindo o seu 12º mundial. A Gaúcha fez uma cobertura profissional e bem realizada, mesmo com equipe menor do que em outros certames – 16 no conjunto do Grupo RBS contra 21 em 2010 e 20 em 2018, desconsiderando-se 2014, quando a copa foi no Brasil. Com atuação multimidiática nos diversos veículos do conglomerado da família Sirotsky, foram enviados para o Catar: Alice Bastos Neves (apresentadora, repórter e colunista), André Gonçalves (técnico de operações), Diogo Olivier (comentarista e colunista), Eduardo Gabardo (repórter e colunista), Geder Fernando (técnico de operações), Kelly Costa (apresentadora e repórter), Leonardo Oliveira (comentarista e colunista), Luciano Périco (apresentador e colunista), Luciano Potter (apresentador e comentarista), Maurício Saraiva (comentarista e colunista), Pedro Ernesto (narrador, apresentador e colunista), Rhadam Miranda (coordenador técnico), Rodrigo Adams (apresentador e repórter), Rodrigo Oliveira (repórter), Tiago Cirqueira (coordenador geral) e Zé Alberto Andrade (repórter e colunista). Ao contrário de outras copas, a eliminação do Brasil não fez com que a intensidade da cobertura diminuísse. Assim, na final entre Argentina e França, Pedro Ernesto Denardin fez uma narração de qualidade proporcional a uma das partidas mais emocionante da história do torneio da Fifa.
Foi um dos grandes momentos da história do jornalismo do Rio Grande do Sul – em especial, se considerarmos os tempos mais recentes. O Grupo RBS bancou a ida de Rodrigo Lopes para a fronteira da Ucrânia, acompanhando a situação dos refugiados nos primeiros momentos da invasão daquele país pelas forças armadas da Rússia. A viagem rendeu reportagens emocionantes, além de um livro – Trem para Ucrânia – Viagem a um lugar de onde todos querem sair –, que é uma aula de cobertura de conflitos.
Antônio Carlos Macedo mudou o início das manhãs dos ouvintes da Gaúcha. Na fase anterior do Gaúcha Hoje, a opinião do apresentador predominava sem muito espaço para o contraditório. Com a experiência de quem soube valorizar a opinião do público no Chamada Geral, Macedo transformou o programa. Assim, o Gaúcha Hoje deixou de ser uma espécie de monólogo a expressar o posicionamento de seu âncora. Além da participação do ouvinte, a notícia e a reportagem ganharam importância. Valorizando a linguagem radiofônica, Macedo soube incluir, em doses precisas, a música, gerando ainda mais interação. Ao completar 20 anos à frente do Gaúcha Hoje, em 2 de dezembro de 2022, o comunicador consolida-se como o jornalista que melhor sabe compreender, na atualidade, o que é ser radialista: simular uma conversa com o ouvinte, bater papo coloquialmente com os demais participantes do programa, usar com habilidade as redes sociais, não esquecer que a prioridade é o microfone, oscilar entre a notícia e a análise dos fatos e pender, com precisão, entre hard news, soft news, serviço e entretenimento.
De 4 a 8 de abril de 2022, a Atlântida comemorou os 15 anos da principal atração do rádio musical jovem no Sul do país, o Pretinho Básico, programa criado por Alexandre Fetter.
A pioneira das emissoras universitárias brasileiras comemorou 65 anos em 18 de novembro de 2022. Com produção, pesquisa, montagem e apresentação do jornalista André Grassi, a Rádio da Universidade lançou a série Arquivo 1.080, recuperando em 13 edições parte da história da estação operada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em 14 de julho de 2022, o Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul comemorou 60 anos, festejando a data com um evento a respeito do futuro do rádio e da televisão. Na contramão dos radicalismos sem sentido, convidou como debatedores, entre outros, representantes do patronal Sindicato das Empresas de Rádio e TV. Foi um momento importante de valorização do rádio e da televisão do estado e dos trabalhadores que fazem a grandeza desses meios.
Em 12 de novembro de 2022, a Associação Riograndense de Imprensa homenageou três grandes nomes do rádio e da comunicação do Rio Grande do Sul. Naquele sábado pela manhã, o empresário Otávio Gadret passou a integrar a Galeria dos Notáveis na sede da entidade. O fundador da Rede Pampa tem papel fundamental para a história do rádio do estado. Afinal, foi um dos primeiros a apostar na segmentação, base da recuperação do meio após o surgimento da televisão.
À tarde, os frequentadores da tradicional Feira do Livro de Porto Alegre puderam reviver os momentos mágicos do espetáculo radiofônico dos anos 1930, 1940 e 1950, com a apresentação de dois esquetes da dupla Pery e Estelita, os pioneiros do radioteatro no Sul do país. Mariana e Antônio Czamanski encarnaram a Dupla de Ouro.
Em 3 de janeiro, a 11ª emissora da Maisnova FM passou a operar nos 81,9 MHz, com estúdio localizado na cidade de Canoas, usando o canal disponibilizado pela migração da Nova Progresso da faixa de AM para a de FM. A rede com sede em Caixas do Sul é uma das maiores do Sul do país.
Em 2022, o rádio e a comunicação do Rio Grande do Sul perderam grandes profissionais: Roberto Gigante (19 de janeiro), Jesus Afonso (25 de janeiro), Roberto Silva (23 de fevereiro), Braz de Oliveira Sobrinho (março), Paulo Mesquita (13 de março), Abraão Winogron (18 de abril), David Coimbra (27 de maio), Ricardo Ló (12 de junho), Roque Araújo Viana (1º de julho), Armindo Antônio Ranzolin (17 de agosto), Glênio Fagundes (25 de agosto), Moisés de Assis (8 de outubro), Francisco Appio (31 de outubro), Fúlvio Andrade Lopes (15 de novembro), Voltaire Porto (13 de dezembro) e Celso Costa (21 de dezembro).
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