Museu Hipólito José da Costa:
na origem, as esperanças da memória
2016
na origem, as esperanças da memória
2016
Rene da Silva Almeida
Sergio
Dillemburg (2016)
Se a história da comunicação do Rio Grande do Sul
está, hoje, preservada no velho prédio que abrigou o jornal A Federação, localizado na esquina das
ruas Andradas e Caldas Junior, é graças a Sergio Roberto Dillemburg. O
jornalista do Correio do Povo nos
anos 1970, produzindo uma reportagem sobre o panorama cultural dos museus de
Porto Alegre, constatou que publicações históricas se encontravam ao relento no
Arquivo Histórico. Passou, então, a se empenhar fortemente para tornar viável a
existência de um local onde não só jornais, mas também arquivos de áudio,
imagem, publicidade e peças antigas de meios de comunicação pudessem ser
expostos e servissem de consulta a estudantes, professores, pesquisadores e
público em geral.
Repórter de rua do principal jornal do Rio Grande do
Sul à época, Dillemburg foi convidado, em 1973, a trabalhar no Arquivo
Histórico do Rio Grande do Sul. Numa decisão contrária à que muitos jornalistas
tomariam então, aceitou a proposta. Periódicos locais, nacionais e
internacionais estavam se degradando aos poucos num local precário. Muitos já
haviam desaparecido. Inconformado, o jornalista propôs à direção do arquivo, a
criação de um espaço para a preservação daquele material. Ouviu um “Dá um jeito!”.
Dillemburg então transferiu as coleções para duas salas do prédio de A Federação. Para ultrapassar as
diversas resistências, levou um anteprojeto de museu de comunicação a órgãos
públicos e entidades como a Secretaria Estadual da Educação, a Associação
Riograndense de Imprensa e sindicatos ligados à área da comunicação e ao governador
do estado. Todos eles aprovaram a ideia.
Assim, em 10 de setembro de 1974, começava a
funcionar o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa. Criar um Setor de Vozes,
que reunia entrevistas com os principais nomes da comunicação do estado, foi
uma das primeiras providências tomadas pelo, agora, diretor Sergio Dillemburg. O
acervo inicial do museu era composto por jornais como A Federação, periódicos do interior, publicações
humorísticas – como as de Aparício Torelly, o Barão de Itararé – e coleções
estrangeiras, tudo isto cedido pelo Museu Julio de Castilhos, oriundo
de doações e, obviamente, do Arquivo Histórico. Entre os funcionários, havia
bastante engajamento para a manutenção do ambiente que também tinha problemas
estruturais.
Eu não quero funcionários burocráticos aqui. Eu quero pessoas que tenham relacionamento com a comunicação – rádio, jornal, publicidade... –, pessoas que já têm conhecimento e já têm projeção.
A história de sua saída do museu, Dillemburg
reconhece, foi também causada por sua teimosia. Em um ciclo de filmes clássicos
vindos da Argentina no auditório da Assembleia Legislativa, decidiu incluir Batalha de Stalingrado, filme que
contava a história da Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista da União
Soviética. Em tempos de ditadura militar severa, Dillemburg teve dúvidas sobre
a exibição do longa-metragem. “O filme, que tinha quase
três horas, ficou com duas horas e pouco depois de passar pela censura”,
relembra o jornalista. O diretor decidiu apresentar a produção da URSS, já que
o Brasil, apesar do regime militar, mantinha relações diplomáticas com o país comunista.
Depois do episódio, acabou desligado do museu em 1975.
Entrevista realizada por Rene da Silva Almeida em 15 de abril de 2016
Hoje, aos 82 anos de idade, o fundador do Museu de
Comunicação acredita ter dado a sua contribuição para a comunicação e define
assim a importância de sua criação:
Museu é importante porque ele traduz vários momentos, não é apenas um repositório de objetos ou papel antigo, velho, mas é a história do que se passou, que se projetou, inclusive, nos dias em que se vive hoje.
Cada um dos pesquisadores que passam pelo acervo do
Hipólito deve, com certeza, muito ao jornalista Sergio Dillemburg. No seu
trabalho lá nos anos 1970, reside muito das esperanças em preservar a memória da
comunicação do Rio Grande do Sul.
Sergio Dillemburg (15 de abril de 2016)
Entrevista realizada por Rene da Silva Almeida.
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