De Difusora a Bandeirantes
2014
Luiz Artur Ferraretto
Cinzeiro distribuído como brinde da Rádio e TV Difusora
(anos 1970)
Fonte: Acervo particular.
Nas últimas décadas do século 20, entre os grandes
conglomerados de comunicação do centro do país, é o Grupo Bandeirantes que mais
atua com operações próprias no Rio Grande do Sul. A participação da família
Saad no mercado gaúcho inicia no final da década de 1970, quando a TV Difusora,
canal 10 de Porto Alegre, administrada pela Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos passa a retransmitir alguns programas da rede paulista então em
formação. As emissoras mantidas pelos religiosos em Porto Alegre – além da
televisão, uma rádio em AM e outra em FM – enfrentam uma série de dificuldades
financeiras resultante da tentativa, anos antes, de montar uma cadeia própria de
estações de TV, a Rede de Emissoras Independentes (REI), processo que começa a
sobrevivência econômico-financeira das rádios mantidas pela ordem no interior
do estado.
Conforme o frei Osébio Borghetti, diretor-administrativo da
Rádio e TV Difusora Porto-alegrense S.A., a situação da empresa era
preocupante. Em abril de 2001, relembrando aquela época, o religioso explicaria
em entrevista a Larissa Mamouna de Oliveira, estudante de Jornalismo da
Universidade Luterana do Brasil:
Como a Difusora pertencia a um grupo de religiosos, dos quais alguns já tinham falecido e outros já tinham desistido, a situação estava um tanto indefinida. Era constituída em forma de sociedade anônima, tinha dívidas com fornecedores de equipamentos, de programação e alguns financiamentos bancários que exigiam liquidação. Além disso precisava equipar o canal de FM, que operava em caráter provisório, em mono e tinha prazo. A previsão de investimentos na época girava em torno de US$ 100 mil. E a Difusora não tinha estes recursos. Também precisava com urgência substituir o velho transmissor de AM que não atendia mais às normas técnicas. O que funcionava com 30 kW tinha sido fabricado em 1942. Um novo, ou de segunda mão, custava mais de US$ 200 mil. Já se tinha feito até um orçamento. Por isso, os superiores dos religiosos que formavam a empresa proprietária da Difusora decidiram sair do empreendimento. Mas queriam ter certeza de que o empreendimento teria continuidade. Que as dívidas seriam honradas e que não houvesse descontinuidade do processo criando mais uma situação complicada. E a Rede Bandeirantes oferecia estas garantias. Já mantinha parceria com a Difusora e tinha interesse em chegar a Porto Alegre.
Como resultado, em 1° de julho de 1980, os capuchinhos firmam
um contrato com o grupo paulista, criando a Rádio e TV Portovisão Ltda.,
empresa à qual são repassados a concessão do canal 10, as instalações e os
equipamentos da televisão, assumindo dívidas em troca de patrimônio. O governo
federal oficializa a transferência de outorga através do Decreto n. 85.973,
assinado pelo presidente João Baptista Figueiredo, em 4 de maio de 1981. Pelo
acerto inicial, a Ordem dos Capuchinhos seguiria explorando as estações em AM e
FM. Pouco depois, no entanto, a Bandeirantes também passa a controlar as
emissoras de rádio.
A presença do Grupo Bandeirantes de Comunicação no mercado do
Rio Grande do Sul é anterior à negociação com os capuchinhos. A empresa
presidida, então, por João Jorge Saad obtém uma permissão datada de 4 de julho
de 1977 para instalar uma emissora em frequência modulada na capital gaúcha,
que, em 1980, dá origem à Bandeirantes FM.
A TV Difusora tinha um sabor diferente. Era nela que víamos grandes bang-bangs, seriados inesquecíveis e lutas simuladas nos domingos à noite. Era ali que podíamos curtir o grande Portovisão e o esportivo Camisa 10, esse diário, 19h30. Vi, acredite, filmes mudos às 19 horas. Imagine se isso ocorreria hoje! Era ali que os filmes rebentavam com mais frequência ( do verbo rebentar ) e tudo, mesmo desta forma meio precária, tinha outro clima, muito longe do "tudo certinho". A emissora teve tanta importância sentimental que, hoje, pelo 2015, eu falava para minha filha mais velha, com 18 anos, sobre a forma como Steve Austin descobria estar falando com uma pessoa ou com um androide: fazia a mesma pergunta duas vezes e observava se a resposta e expressões são iguais. Rimos com uma cena de um seriado dos tempos do grande canal 10. Hoje temos tudo isso e muito mais, mas não com o mesmo gosto.
ResponderExcluirTenho lembranças semelhantes da TV Difusora. Lembro, inclusive, de meu pai assistindo aos filmes mudos citados por ti. Tive oportunidade de contar isto ao frei Borghetti, um dos antigos diretores da emissora. Fui fazer uma entrevista com ele para minhas pesquisas e acabei agradecendo pela TV Difusora, o canal da minha infância, sintonizado, por vezes, com dificuldade lá em Rio Grande.
ExcluirA Difusora tinha um gosto de trash, mas era querida. Era comum apresentarem filmes antigos e desenhos dos anos 60, porém agradavam. Hoje há tudo isso e muito mais, e não perdemos nada tendo vivido os embalos do mundo da Difusora.
ExcluirAbraço.
Quantas saudades
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