Balanço do Rádio do RS em 2020
Alguns
apontamentos para recordar
a história do rádio no estado
Luiz Artur
Ferraretto
De fato, o ano de 2020 começou em março, quando o novo coronavírus chegou ao Brasil. Ao longo dos meses seguintes, o profissional sério e responsável saiu, no mínimo, com um empate em relação à irresponsabilidade da sociedade e de muitas das chamadas autoridades. No entanto, pelos levantamentos da Kantar Ibope Media, na Grande Porto Alegre, a parte mais responsável da mídia bateu com folga quem se dedicou ao negacionismo. A jornalística Gaúcha, do Grupo RBS, segue líder geral de audiência, tendo completado cinco anos nesta posição no início de 2020. Suas mais fortes concorrentes não se dedicam à notícia. São a musical jovem Atlântida, da mesma empresa, e a popular Caiçara, da Rede Pampa de Comunicação. Sempre fora do top 5 de audiência e, quase sempre, sem estar presente nem entre as dez emissoras mais escutadas, estações de notícias que abriram espaço para o polemismo continuam com baixo impacto no mercado da Grande Porto Alegre. Apesar da queda significativa no faturamento, da enorme quantidade de demissões e da crescente crise institucional vivida no Brasil, há o que levar de positivo deste ano para o próximo período de 12 meses a desafiar radiodifusores, gestores e profissionais.
Na sequência, em 12 tópicos, um resumo do que o ano radiofônico de 2020 deixa para a história no Rio Grande do Sul.
O GRUPO RBS, A GAÚCHA E O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA
Basta ter acompanhado os noticiários dos sites especializados e as redes sociais de profissionais ou de emissoras. O Grupo RBS foi o conglomerado comunicacional que menos teve sua imagem afetada pelo registro de profissionais contaminados pelo sars-cov-2, o novo coronavírus. De fato, a única notícia de maior relevância a respeito veio já no início da pandemia. E determinou o caminho a ser seguido pelos seus veículos e profissionais. Em março, o empresário Nelson Sirotsky apresentou os sintomas da covid-19 após retornar do exterior, onde contraiu a doença. Sob a sua influência, o Grupo RBS adotou medidas rígidas de proteção, envolvendo a maioria de seus funcionários. Assim, sempre que possível, optou rapidamente pelo trabalho em home-office.
Reportagem no RBS Notícias sobre as medidas de tomadas em função da covid-19
(19 de março de 2020)
Nas rádios do Grupo RBS, o momento mais emblemático em termos de solidariedade com a população ocorre em 31 de março, quando cada uma delas, no mesmo momento, interrompe a sua programação para rodar Imagine, de John Lennon, a exemplo do que havia sido feito também em emissoras do centro do país.
Leandro Staudt interrompe o Gaúcha+ para rodar Imagine, de John Lennon
(31 de março de 2020)
A Gaúcha, principal veículo da família Sirotsky, desenvolve uma série de iniciativas relevantes ao longo da pandemia. Oscilando entre o jornalismo e o serviço, marca a abordagem radiofônica da pandemia em Porto Alegre.
Nos primeiros momentos de difusão das práticas de isolamento social voluntário e ainda antes da obrigatoriedade do uso de máscara, a emissora convida especialistas de vários hospitais que, diariamente, tiram dúvidas ao vivo no Gaúcha Atualidade. Iniciadas no programa, as entrevistas continuam, logo em seguida, com a participação dos ouvintes em um canal auxiliar de áudio no aplicativo do portal GaúchaZH.
Em 14 de maio, no Gaúcha Atualidade, o âncora Daniel Scola contrapõe o deputado federal Osmar Terra, um dos mais ferrenhos críticos das medidas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde para o controle da pandemia. Todos os argumentos negacionistas do parlamentar do MDB são confrontandos e o deputado bolsonarista não consegue refutar as colocações do jornalista. Pouco depois, Scola publica um artigo em GaúchaZH, explicando a realização da entrevista:
Em
25 de junho, Daniel Scola também protagoniza uma ação de
conscientização jornalisticamente única no rádio brasileiro. Falando de uma
área sem acesso a pacientes, mas com visão do Centro de Tratamento Intensivo do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Scola ancora o Gaúcha
Atualidade, entrevistando profissionais de saúde e destacando, a todo
momento, as práticas recomendadas pela OMS.
Daniel Scola prepara os equipamentos para transmitir do CTI do Clínicas
(25 de junho de 2020)
JORNALISMO COM REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL
Dois fatores fizeram com que, em 2020, a força do jornalismo pendesse da reportagem para a produção. Há algum tempo, a redução crescente nos postos de trabalho já obrigara grandes repórteres a se dedicarem à pauta cotidiana, impossibilitando a realização de trabalhos com maior profundidade. Nas emissoras mais responsáveis, a redução da presença de repórteres no palco de ação dos fatos devido à pandemia acabou ampliando esse processo.
Assim, antes da covid-19 chegar ao país, a Gaúcha envia Eduardo Gabardo para acompanhar a prisão do ex-jogador Ronaldinho Gaúcho no Paraguai. Na sequência, a maiorida dos momentos mais significativos do radiojornalismo em 2020 partiu da ação combinada de produtores e âncoras. Há um precursor dessa tendência já em janeiro. É a entrevista agendada pela produtora Larissa Brito com o secretário de Cultura, Roberto Alvim, para o Timeline, da Gaúcha, aquele cujo vídeo lembrava as produções de Joseph Goebbels, o ministro de Propaganda do Terceiro Reich. À queima-roupa, a pergunta de Kelly Mattos foi um dos momentos mais contundentes do ano: "O senhor é nazista?". Citada no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, a entrevista ajuda Alvim a perder o cargo.
Reportagem do Jornal Nacional com trecho de áudio do Timeline
(17 de janeiro de 2020)
Outro exemplo é o que acontece com a entrevista da deputada federal Carla Zambelli, do PSL de São Paulo, ao Timeline, marcada pelo produtor Bruno Pancot e realizada no dia 25 de maio. A previsão da parlamentar bolsonarista de que a Polícia Federal iria investigar governadores torna-se realidade já no dia seguinte, quando diversos veículos do país passam a citar a fala da deputada para a Gaúcha.
Reportagem no site de O Globo sobre a entrevista de Carla Zambelli para o Timeline
(25 de maio de 2020)
Não só na imprensa, mas na política brasileira, a de maior repercussão ocorre no dia 13 de novembro. Ainda se noticiava uma espécie de trégua entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice Hamílton Mourão. Foi quando Silvana Pires, então correspondente da Gaúcha em Brasília, conseguiu agendar uma entrevista exclusiva com o general, realizada no programa Gaúcha Atualidade e conduzida pelos âncoras Daniel Scola e Rosane de Oliveira.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, Hamílton Mourão
reconhece vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos
(13 de novembro de 2020)
Em meio à hesitação de Jair Bolsonaro em admitir a derrota de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, ganhou manchete a posição de Mourão reconhecendo a vitória de Joe Biden e, assim, divergindo do presidente.
Entrevista de Hamílton Mourão gera pauta e reportagem principal
nos sites do jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo
(13 de novembro de 2020)
Na madrugada de 1º de dezembro, a população de Criciúma é surpreendida por uma série de ataques. Em Porto Alegre, no estúdio da Gaúcha, Rafael Colling comanda o Esportes & Cia. Rapidamente, com o apoio de Gustavo Gossen e Karina Dalla Valle, passa a noticiar a ação dos criminosos e acompanhar as suas repercussões. Para Santa Catarina, a emissora desloca o repórter Tiago Bitencourt. Às 8h, a primeira edição do Correspondente Ipiranga resume os fatos:
Correspondente Ipiranga resume os ataques em Criciúma
ELEIÇÕES E CRIATIVIDADE
Frente às adversidades, ser criativo sempre foi essencial. Trata-se de uma necessidade ainda mais forte em função da pandemia. Nas eleições de 2020, chamou a atenção - inclusive da imprensa do centro do país - a forma inusitada de realização de dois debates pela Gaúcha no primeiro turno, procurando colocar os candidatos sem que as normas sanitárias relacionadas à covid-19 fossem desrespeitadas. Assim, nos dias 28 de setembro e 12 de novembro, o estacionamento da empresa foi adaptado para que cada candidato chegasse em um automóvel dirigido por um assessor e pudesse participar dos debates ancorados pelo jornalista Daniel Scola, tudo como se fosse uma espécie de drive-in.
Reportagem de Juliana Bublitz para o GZH mostra os testes do debate drive-in
(28 de setembro de 2020)
Na cobertura do primeiro turno da eleição, merece destaque a atuação de Rodrigo Oliveira. Conhecido por seu trabalho na cobertura esportiva, o repórter acompanhou a eleição em São Paulo, destacando-se em meio aos que registravam a entrevista coletiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou os momentos de ida às urnas de figuras da política como o governador João Doria (PSDB). Feita já quando a entrevista se encerrava, a pergunta para Lula sobre a relação do petista com o ex-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) acaba repercutindo nacionalmente.
Rodrigo Oliveira na coletiva de Lula
(15 de novembro de 2020)
Folha de São Paulo noticia declaração de Lula
provocada pela pergunta do repórter da Gaúcha
(15 de novembro de 2020)
Como a sorte acompanha os bons repórteres, o inusitado faz com que Rodrigo Oliveira arranque uma declaração exclusiva de Doria, fato que o jornalista também relata ao microfone da Gaúcha.
Rodrigo Oliveira entrevista João Doria
(15 de novembro de 2020)
No primeiro turno, o mais inusitado mesmo foi a demora na divulgação dos dados em função de problemas no sistema do Tribunal Superior Eleitoral. Muito comum nos tempos dos votos contados manualmente, a apuração paralela pelas próprias rádios ganhou força em várias cidades, dependendo da quantidade de eleitores. Enquanto o aplicativo do TSE ainda mostrava 0% de votos apurados, emissoras como a Cultura e a Fronteira, de São Borja, e a Uirapuru, de Passo Fundo, já anunciavam os prefeitos eleitos.
Antes do TSE, site das rádios Cultura e Fronteira
registra o anúncio do resultado da eleição em São Borja
(15 de novembro de 2020)
Em Passo Fundo, site da Uirapuru registra
a precisão da totalização de votos feita pela emissora
(15 de novembro de 2020)
Já no segundo turno, o Grupo RBS reprisou uma iniciativa da última eleição municipal. O Gaúcha me leva voltou rebatizado de GZH me leva. A denominação associada ao portal de conteúdo reforça o crescente cruzamento de conteúdos entre plataformas, algo inevitável em tempos de convergência. No GZH me leva, Daniel Scola conduziu Manuela D'Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB) em um passeio-entrevista pela cidade. Vale destacar, ainda, a fácil associação do produto editorial ao anunciante.
Vídeo de lançamento do GZH me leva
(27 de novembro de 2020)
ARQUIVO GUAÍBA RELEMBRA A HISTÓRIA
No mês de maio, em meio às incertezas da pandemia de covid-19, o narrador esportivo Luis Magno anuncia em seu perfil nas redes sociais uma novidade com gostinho de passado: o Arquivo Guaíba, programa semanal para conectar o ouvinte de hoje com a história de uma das mais importantes emissoras do país. Foi uma baita notícia para os guaibeiros, ou seja, os tradicionais ouvintes da rádio fundada por Arlindo Pasqualini e Breno Caldas. A cada semana, a atração passou a relembrar grandes momentos da história da Guaíba. O programa coroou o esforço de dezenas de profissionais voltados, ao longo de décadas, à preservação do acervo da estação da rua Caldas Junior, 219, destacando-se, nas últimas décadas, o radialista José Bittencourt. Com apresentação de Luis Magno, produção de Pedro Alt e edição de Davis Rodrigues, o Arquivo foi um dos grandes diferenciais entre o que foi oferecido aos ouvintes em 2020. Chegou no mesmo período em que o esporte da emissora, coordenado por Carlos Guimarães, trazia as gravações de grandes clássicos do futebol, um paliativo inteligente em meio à suspensão dos jogos provocada pela proliferação do novo coronavírus.
No Facebook, Luis Magno anuncia a estreia do Arquivo Guaíba
(13 de maio de 2020)
A VALORIZAÇÃO DE QUEM FAZ RÁDIO
Há várias formas de reconhecer o trabalho de emissoras e de seus profissionais. Aqui, destacamos algumas delas: o Ranking dos +Premiados Jornalistas do Ano, levantamento do Jornalistas&Cia.; o Top of Mind, tradicional pesquisa de persistência na memória realizada pela revista Amanhã; a Medalha Alberto André e o Prêmio ARI de Jornalismo, da Associação Riograndense de Imprensa (ARI); e o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, realização do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
Em outubro, o Top of Mind consagrou mais uma vez a popularidade de Sergio Zambiasi, da Caiçara, na categoria comunicador de rádio, e de Pedro Ernesto Denardin, da Gaúcha, na de locutor esportivo. Zambiasi e Pedro Ernesto, façam o que fizerem, estão presentes há décadas na vida dos ouvintes, seja nas agruras do dia a dia, seja na alegria de um grito de gol em final de campeonato. O ex-senador foi o único profissional de fora do Grupo RBS a aparecer com forte destaque no levantamento. A pesquisa consagrou também a força ascendente de Luciano Potter, da Atlântida e da Gaúcha, segundo colocado na categoria comunicador de rádio, a mesma em que Alexandre Fetter aparece em terceiro, atestando que o Pretinho Básico, programa mais lembrado, e a Atlântida, rádio musical mais citada, são marcas fortíssimas. Entre as noticiosas, a Gaúcha seguiu como a mais citada. A tradição da marca Guaíba garantiu um segundo lugar para a emissora. Outra rádio com bom desempenho foi a Mix, aparecendo entre as musicais e com o seu Cafezinho, o terceiro entre os programas mais lembrados. Do interior, a rádio mais destacada foi a Gazeta, de Santa Cruz do Sul.
Na entrega da Medalha Alberto André, em 3 de dezembro, na qual a ARI homenageia 10 profissionais por sua contribuição ao jornalismo, destacaram-se cinco com atuação em rádio ao longo de 2020: Arlete Biasibetti, comentarista da ABC, de Novo Hamburgo; José Alberto Andrade, o mais experiente repórter esportivo de Porto Alegre, da Gaúcha; Juremir Machado da Silva, consagrado professor universitário e criador do programa Esfera Pública, da Guaíba; Lúcia Mattos, apresentadora que empresta o seu talento às emissoras do Grupo Bandeirantes de Comunicação; e Tiago Boff, um dos mais criativos repórteres da nova geração de profissionais do estado. Outros dos agraciados, caso de Carlos Bastos, tiveram passagens em outros tempos pelo rádio.
No dia 16 de dezembro, a Associação Riograndense de Imprensa anunciou os vencedores da mais importante premiação de jornalismo do Sul do país. Em cada uma das categorias destinadas ao rádio, um fato curioso aconteceu. Na do Prêmio Universitário, os três trabalhos vencedores foram de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Uma
janela para o mundo: 70 anos da televisão no Brasil, de Jovana Dullius, primeiro
lugar; Três gerações para o sucesso, de Geovana da Silva Benites, segundo; e O aborto
legal no Brasil, de Mariana Roosevelt de Barcellos (menção honrosa). Na categoria Áudio do 62º Prêmio ARI Banrisul de Jornalismo, a Agência Radioweb levou o primeiro lugar, com Estupro
marital e corretivo: a voz de quem sofre em silêncio, de Leno Falk e Theresa
Klein; e o segundo, com Coronavírus
x Saneamento: como se proteger à beira do esgoto e sem água?, de Leno Falk; além
da menção honrosa para Pandemia em oito meses, de Raquel Gomes Carneiro. São situações raras ao longo das 62 edições do prêmio promovido pela Associação Riograndense de Imprensa.
É preciso destacar ainda a 37ª edição do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, realização do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH). Na categoria Rádio, Gustavo Monteiro Chagas obteve o primeiro lugar com a reportagem Covid-19 nos frigoríficos, veiculada na Guaíba e produzida com foco multiplataforma - https://guaiba.com.br/2020/07/13/incidencia-de-covid-em-frigorificos-e-superior-a-de-todos-municipios-do-rs/. No ano em que o MJDH deu destaque ao extermínio de empregos e a precarização das relações de trabalho, Chagas foi um dos tantos que - coisas das idiossinccrasias do mercado gaúcho - acabou sendo desligado da emissora onde estava há três anos. Eduardo Matos, da Gaúcha, ficou em segundo com Guardiões do meio ambiente. Como se trata de uma premiação de caráter nacional, Rodrigo Resende, da Rádio Senado, de Brasília, obteve a terceira colocação com Uma morte a cada 73 segundos. A concisão do rádio para mostrar uma marca trágica.
CLÁUDIO BRITO E O CARNAVAL NA ABC
No rádio do Rio Grande do Sul, não teve para ninguém em termos de carnaval no ano de 2020. Cláudio Brito levou a sua experiência para a ABC, de Novo Hamburgo. A cobertura realizada pela emissora do Grupo Sinos foi acompanhada, vai internet, por pessoas de todo o país.
Dois momentos da cobertura do carnaval pela equipe comandada por Cláudio Brito
(fevereiro de 2020)
RODRIGO GIACOMET, A UNIÃO FM E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Em meio a demissões e a reduções de jornada devido à crise econômica provocada pela covid-19, chamou a atenção a estratégia das emissoras da União FM. Em crescimento antes da pandemia nos mercados de Novo Hamburgo e Pelotas, as rádios atestaram que enfrenta melhor uma situação de emergência quem tem planejamento e já vinha se adaptando, anteriormente, às mudanças do setor. Entre direção e equipe, foi construída uma estratégia bem interessante. Nos primeiros três meses
de pandemia - até junho -, os salários foram pagos na integralidade, sem demissões ou reduções, o que permitiu uma adaptação gradual de todos em relação ao futuro. Em julho, todos os integrantes da equipe tiveram redução de jornada de 25% com três meses de estabilidade. A empresa, posteriormente, foi retomando, de modo gradual, a normalidade. Dentro do possível, a União passou uma sensação de segurança ao seu quadro.
Fora isso, o diretor da emissora, Rodrigo Giacomet, engajou-se no combate às fake news e à irresponsabilidade durante a pandemia. Em 17 de março, o jornalista já se manifesta fortemente nas redes sociais a respeito.
Desabafo de Rodrigo Giacomet no Facebook
(17 de março de 2020)
Na mesma linha, dias depois, Giacomet atua no WhatsApp, criando grupos com o nome de Informações Corona para divulgar dados fidedignos sobre a covid-19. Exerce, assim, dois papéis essenciais do jornalista: o de mediador entre os fatos e o público; e o de certificador, aquele que atesta a veracidade de algo.
A VOLTA DO FUTEBOL E O BOM SENSO DE PAULO PIRES, DA BAND
Há décadas, um dos profissionais mais associados à marca Bandeirantes no Rio Grande do Sul, Paulo Pires gosta de dizer que tem ondas eletromagnéticas no sangue. Ao longo da pandemia, além do amor pelo rádio, esse jornalista e radialista demonstrou possuir extremo bom senso. Quando muitos cronistas esportivos, sem a menor reflexão, exigiam a volta dos jogos de futebol paralisados pela pandemia, Paulo Pires foi uma das vozes mais coerentes e ponderadas na Band e nas redes sociais. Não resta dúvida a respeito. Basta olhar esta série de postagens no Facebook.
MAURO BORBA, MR. PI E O CAFEZINHO DA MIX
Mauro Borba é o profissional por trás da sobrevivência não só do Cafezinho, mas também da própria 107.1 FM, emissora que ele soube migrar, em meio à crise da Universidade Luterana do Brasil, de Pop Rock para Mix. Ao longo do tempo, Mauro agregou novos nomes ao elenco do programa, atração que traz cor local à programação gerada em São Paulo, e soube valorizar a presença de um dos mais experientes comunicadores do rádio do Sul do país: Everton Cunha, o Mr. Pi. De segunda a sexta-feira, ao meio-dia, no Cafezinho, a interação dos dois com os demais integrantes do programa dá uma nota de inteligência, sem perder o humor, ao rádio jovem da Grande Porto Alegre. São também de Mr. Pi, ao microfone e nas redes sociais, alguns dos momentos de maior inconformidade com o modo como parcelas da sociedade encararam a pandemia de covid-19.
Mr. Pi e a sua indignação com as carreatas contra o isolamento social
(27 de março de 2020)
A RECUPERAÇÃO DA FM CULTURA
À custa de muito empenho dos profissionais remanescentes, a FM Cultura começou a se reestruturar depois do impacto provocado pela extinção da Fundação Cultural Piratini - Rádio e Televisão, sem dúvida uma das heranças mais negativas do governo de José Ivo Sartori, do MDB, o do Sartonaro, outra ideia destrambelhada que, pelo menos, lhe garantiu a derrota no segundo turno das eleições de 2018. Com programas tradicionais como Cultura na Mesa, Conversa de Botequim e Na Trilha da Tela mantendo seu espaço junto aos ouvintes, em 23 de novembro, às 21h, reestreava o Cantos do Sul da Terra, com Demétrio Xavier. Na noite de 1º de dezembro no mesmo horário, Vinicius Brito passava a apresentar Samba-enredo, reforçando a faixa para qual se prometem novas atrações.
Reestreia do Cantos do Sul da Terra, com Demétrio Xavier
(23 de novembro de 2020)
Vinicius Brito anuncia nas redes sociais a estreia do Samba-enredo
(25 de novembro de 2020)
Para o futuro, fica a esperança de que o programa Sessão Jazz, de Paulo Moreira, também retorne à programação nesta faixa das 21h. É uma das tantas marcas históricas do rádio de Porto Alegre associadas à emissora e descontinuadas no governo Sartori.
A RÁDIO SEM RÁDIO DO POSTO DE SAÚDE
Enquanto emissoras tradicionais abriam espaços para comunicadores e fontes negacionistas, multiplicaram-se, em sentido contrário, iniciativas responsáveis. Faz tempo, o rádio transbordou de sua plataforma original. Não é mais uma exclusividade das emissoras. O público foi deixando a passividade de outros tempos e busca, crescentemente, alternativas de conteúdo. Em Porto Alegre, profissionais da Unidade de Saúde Costa e Silva, do bairro do mesmo nome, deram um exemplo de criatividade e de responsabilidade social, assim registrado pelo jornalista Paulo Germano em Zero Hora:
Coluna Perimetral, de Paulo Germano, em Zero Hora
(17 de abril de 2020)
EM MEMÓRIA DE GRANDES PROFISSIONAIS
Em
2020, o Rádio do Rio Grande do Sul perdeu grandes profissionais, das emissoras
ou ligados indiretamente ao meio. Alguns deles: Ibsen Pinheiro (24 de janeiro),
Marne Barcelos (27 de fevereiro), Luiz Eduardo Moreira (maio), Clóvis Rezende
(5 de junho), Milton Fernando Weizenmann (18 de junho), Julio Mariani (20 de
junho), Benedito Saldanha (12 de julho), Eugenio Hackbart (13 de julho), Sérgio
Satt (16 de julho), Edegar Schmidt (11 de agosto), Flávio Wornicov Portela (27
de agosto), Otavio Nascimento (28 de agosto), Luiz Gonzaga Capaverde
(setembro), Fernando Vieira (16 de setembro), Gilberto Verardi (8 de outubro),
Celestino Valenzuela (15 de outubro), Carlos Roberto da Costa Leite (25 de
outubro), Sérgio Cabral (19 de novembro), Marco Antônio Kraemer (18 de dezembro), Marion Oravec (dezembro) e Flávio Martins (30 de dezembro). Além fronteiras, não podemos deixar
de citar a perda de José Paulo de Andrade (17 de julho), de São Paulo, um dos
ícones do rádio brasileiro, vitimado pela covid-19.
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