Balanço do Rádio do RS em 2018
Alguns
apontamentos para recordar
a
história do rádio no estado
Luiz Artur
Ferraretto
O rádio do Rio Grande do Sul não fugiu ao contexto
da sociedade brasileira em um ano de eleições, no qual o fenômeno das chamadas fake news ocupou uma posição de
referência. De fato, fica para 2019 a grande dúvida se o segmento de jornalismo
saberá dar conta do desafio de se reposicionar frente à avalanche de
informações mentirosas. A própria aproximação explícita de grupos de
comunicação com um dos candidatos à presidência põe em dúvida o sucesso dessa
empreitada. Na parte de entretenimento, houve movimentos interessantes no rádio
musical da Grande Porto Alegre e em algumas emissoras do interior. O popular
viu a consolidação da Caiçara e, na prática, o ocaso da Farroupilha, apesar de
a emissora do Grupo RBS possuir em seus quadros Gugu Streit, um dos principais
profissionais desse segmento.
Na
sequência, o ano radiofônico de 2018 em 10 tópicos.
O PODER DE FOGO DA GAÚCHA
Líder geral na audiência da
Grande Porto Alegre, nem a troca de gerente abalou a Gaúcha em 2018.
Responsável pela bem-sucedida transição da rádio em direção a uma atuação
crescentemente multiplataforma, Cyro Martins aposentou-se (26 de fevereiro) e
foi substituído por Daniel Scola (18 de abril), um de seus principais
colaboradores no processo de modernização da empresa.
A Gaúcha começou o ano
comemorando os resultados do ranking
dos mais premiados do Brasil, organizado pelo portal Jornalistas&Cia.
(janeiro). No dos veículos, é a emissora de rádio melhor posicionada do país.
No dos jornalistas, o repórter Cid Martins aparece como o mais premiado da
Região Sul ao longo do tempo, enquanto seu colega Eduardo Matos ocupa a
primeira colocação no ano de 2017. A Gaúcha destaca-se ainda no Top of Mind, da
revista Amanhã (maio). Pedro Ernesto
Denardin é o narrador esportivo mais lembrado, enquanto a emissora segue como a
primeira na categoria rádio de notícias.
Ao longo de 2018, a Gaúcha
consolidou a sua programação calcada na ideia de um contínuo breaking news. No entanto, com o
domínio de um modelo de reportagem quase que totalmente ao vivo, suspendeu, na
prática, as grandes narrativas mais produzidas e complementadas com
fotografias, textos e vídeos. Como a Gaúcha passou a apostar mais
consistentemente em podcasts, as
reportagens de fundo talvez sejam retomadas nesse formato no futuro. Aliás, a
série Memória Eleitoral (agosto a
outubro) foi um dos destaques em termos de produção distribuída apenas em podcasting.
Reportagem sobre a série Memória
Eleitoral no Jornal do Almoço (1º de setembro de 2018)
A INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES COMO TENDÊNCIA
Seguindo uma tendência crescente,
a integração de profissionais e de espaços de trabalhos de vários veículos ganhou
força em Porto Alegre. Pouco antes do portal GaúchaZH completar um ano (21 de
setembro), Zero Hora, Diário Gaúcho e Gaúcha passaram a operar
em uma redação integrada (11 de junho). A Gaúcha passou a contar com um estúdio
na nova redação conjunta (24 de setembro). Quase na mesma época, o Grupo
Bandeirantes também integrou as operações de suas emissoras de rádio e
televisão no Rio Grande do Sul (4 de setembro).
O INFOTAINMENT GANHA ESPAÇO
Para o
bem e para o mal, ao longo de 2018, a mistura entre informação e entretenimento
consolidou-se em vários programas de rádio, mesmo não chegando a ocupar a
totalidade desses espaços. Destacaram-se: Timeline e Gaúcha+, na
Gaúcha; Conexão, programa vespertino
que ao ser descontinuado deu origem ao matutino Direto ao Ponto, na Guaíba; e
90 minutos, na Bandeirantes.
NOVIDADES INTERESSANTES: 92.1, EXPRESS, MIX, UNIÃO,
UNISINOS E FAN
Transitando por vezes pela informação, mas apostando em
muito na música, seis emissoras trouxeram ou foram por si novidades em 2018.
O Grupo RBS relegou a marca Farroupilha à amplitude modulada, lançando em seu
lugar a 92.1, musical jovem com pegada popular (16 de abril). Em linha
semelhante, a Rede Pampa colocou no ar a Express (2 de julho). Na Grande Porto
Alegre, a União, de Novo Hamburgo, seguiu apostando em uma mistura bem dosada
de música e jornalismo, ampliando a sua equipe e contratando profissionais como
Cagê Lisboa (setembro), Fábio Codevilla (setembro) e Ricardo Padão (janeiro). A
Unisinos, de São Leopoldo, passou a operar com um estúdio no campus da
Universidade do Vale do Rio do Sinos, em Porto Alegre (17 de abril). Já a Fan,
de Cachoeira do Sul, focada no musical jovem, começou a se estruturar como
rede. Nesse segmento, outra novidade importante foi a estreia de Everton Cunha, o Mister. Pi, no Cafezinho, tradicional programa da Mix FM, na Grande Porto Alegre (10 de dezembro).
EMPODERAMENTO FEMININO
A presença feminina ganhou espaço em duas áreas em que
poucas mulheres, infelizmente, marcaram presença ao longo da história do rádio
do Rio Grande do Sul: a narração esportiva e o comando de entidades de
representação patronal. Na Estação Web, emissora criada por Rogério Barbosa,
Clairene Giacobe tornou-se a primeira mulher a narrar um Grenal (12 de maio).
Já Christina Gadret assumiu a presidência do Sindicato das Empresas de Rádio e
Televisão no Estado do Rio Grande do Sul (SindiRádio), a primeira mulher a
ocupar o cargo.
GRANDES COBERTURAS
Ano de eleições e de Copa do Mundo em um país instável
como o Brasil, 2018 mobilizou profissionais nas emissoras que têm a notícia
como matéria-prima da programação. As coberturas realizadas refletiram o porte
das rádios envolvidas e o poder de investimento dessas.
Trezentos jornalistas foram credenciados para o
julgamento do recurso impetrado pelos advogados de Luiz Inácio Lula da Silva
(24 de janeiro), muitos deles de emissoras de rádio da capital e do interior do
Rio Grande do Sul. Pouco depois, nova mobilização em função da decretação da
prisão do ex-presidente (5 de abril). O grande destaque é, então, o repórter
Eduardo Matos, da Gaúcha, que, rapidamente, viaja para São Paulo, de onde,
seguindo os acontecimentos, vai para São Bernardo do Campo e Curitiba. Incansável,
produz áudio, fotografia, texto e vídeo a todo instante.
Eduardo Matos no Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC (7 de abril de 2018)
O rádio do Rio Grande do Sul tem papel central na cobertura do habeas corpus concedido pelo desembargador Rogério Favretto em favor de Lula (8 de julho). Diego Casagrande, da Band, dá a notícia em primeira mão. A equipe da Guaíba corre atrás e vai à origem do fato, conseguindo ouvir Rogério Favretto com exclusividade. Conduzida por
José Aldo Pinheiro e Ananda Müller, com a participação de Taline Opptiz, a
entrevista foi obtida pelo produtor Gustavo Chagas com apoio do técnico Luciano
Vargas.
Entrevista exclusiva do desembargador Rogério
Favretto à Guaíba (8 de julho de 2018)
Juremir Machado da Silva anuncia que não integra mais a equipe do Bom Dia (23 de outubro de 2018)
Em sua conta no Twitter, Eduardo Matos registra o impedimento ao trabalho de parte da imprensa
(1º de novembro de 2018)
No país do futebol, a Copa da Rússia mobiliza atenções (julho). A Gaúcha é a única emissora do Rio Grande do Sul a cobrir os jogos com equipe própria. Em algumas partidas, Lauro Quadros volta ao microfone da emissora, comentando como convidado especial. A Band local retransmite o sinal da Band, de São Paulo. Marco Antônio Pereira e Claudio Duarte chegam a participar, via tubo, da cobertura junto com a equipe da matriz. Sem os direitos de transmissão, Grenal e Guaíba fazem programação alternativa, com debates durante os jogos.
Um fato inusitado marca as relações entre capital
e trabalho no rádio de Porto Alegre. Carlos Guimarães, comentarista e
coordenador de esportes da Guaíba, é demitido (13 de julho) para ser
recontratado dias depois (17 de julho) devido à enorme repercussão do seu
afastamento nas redes sociais.
Portal Coletiva noticia reviravolta na
demissão de Carlos Guimarães (17 de julho de 2018)
FUNDAÇÃO PIRATINI
Sob protesto da classe artística e de entidades
sindicais de trabalhadores da cultura e da comunicação, o governo de José Ivo
Sartori, do MDB, extingue a Fundação Piratini, responsável pela TV Educativa e
pela FM Cultura (30 de maio). Funcionando precariamente, as duas emissoras
chegam ao final de 2018 com um futuro incerto, embora o projeto do
ex-governador de se reeleger tenha sido rejeitado nas urnas.
VOZ DO BRASIL E NOVA LEGISLAÇÃO DOS RADIALISTAS
Antiga reivindicação dos radiodifusores, a
flexibilização da Voz do Brasil é sancionada
pelo presidente Michel Temer, permitindo que o programa oficial seja
transmitido entre 19 e 22h. A mudança passou a ser usada pelas emissoras
conforme a conveniência, beneficiando, em especial, as rádios dedicadas ao
jornalismo. Na mesma solenidade em que sancionou a flexibilização da Voz, Temer assinou a nova legislação dos
radialistas, diminuindo consideravelmente a quantidade de funções exercidas
pela categoria. Embora represente em parte uma modernização, o novo arcabouço
legal dos radialistas foi definido sem consulta à representação sindical dos
trabalhadores do setor.
EM MEMÓRIA
O rádio do Rio Grande do Sul perde alguns de seus
mais importantes profissionais: Ary dos Santos (12 de janeiro); J.B. Schüller,
o Johnny Megaton (22 de janeiro); Edison Moiano (12 de
fevereiro); João Batista Marçal (23 de fevereiro); Ruth Regina (20 de março);
Antônio Carlos Baldi (31 de março); Ricardo Vidarte (16 de abril); Willy Cesar
(25 de maio); Carlos Eduardo Weyrauch, o Mutuca (13 de
junho); Bira Brasil (15 de agosto); Paixão Côrtes (27 de agosto); Sérgio Reis (5 de dezembro); Adriano do Canto (16 de dezembro); Paulo Cancian (20 de dezembro); Roberto Kralik (25 de dezembro); e Antônio Abelin (31 de dezembro).
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