Balanço do Rádio do RS em 2014
Alguns apontamentos para recordar 
a história do rádio no estado em 2014

Luiz Artur Ferraretto


GRANDES COBERTURAS
A grandes coberturas deram a tônica das emissoras do segmento de jornalismo em um ano marcado pela Copa do Mundo no Brasil e pelas eleições. 

Copa do Mundo 
Entre as emissoras brasileiras, a GAÚCHA protagonizou uma das melhores e mais completas coberturas do evento organizado pela Fifa. Soube se organizar com muita antecedência. Entre tantos jogos transmitidos, destaco especialmente o show que o narrador MARCO ANTÔNIO PEREIRA deu na transmissão de Argentina e Nigéria. Mesmo integrando como coadjuvante a Rede Verde e Amarela, a BAND local levou o trabalho de seus profissionais a todo o país com a cobertura do jogo Austrália e Holanda, realizado em Porto Alegre, que contou com a participação do narrador DANIEL OLIVEIRA e do comentarista LUIZ CARLOS RECHE. Em termos de cobertura do maior certame esportivo do planeta, o dado negativo foi a ausência, por integrar o Grupo Record, da GUAÍBA, emissora que, desde 1958, estivera em todas as competições deste tipo.

Equipe da Rádio Gaúcha transmitindo partida da Copa de 2014 do Beira-Rio
Da direita para a esquerda: Guerrinha, Lauro Quadros, Ruy Carlos Ostermann, Rafael Cechin, Marco Antônio Pereira, Pablo Andrade (em pé) e Rodrigo Oliveira 
Fonte: Grupo RBS (Genésio Souza)


Eleições Presidenciais
No acompanhamento das eleições, brilhou de novo a melhor estrutura tecnológica da GAÚCHA com seu estúdio móvel indo até os eleitores sob o comando de DANIEL SCOLA e ANTÔNIO CARLOS MACEDO, ambos provando que um bom apresentador deve ser antes de tudo um excelente repórter. Os dois também protagonizaram um emocionante e correto acompanhamento do momento de maior interesse em todo o pleito. Antecipando-se a todos, MACEDO deu a vitória a Dilma Roussef, explicando a quase impossibilidade matemática de Aécio Neves recuperar-se da pequena diferença a separá-lo da candidata do PT. Na sequência, SCOLA e MACEDO ainda fizeram dura crítica ao mal jornalismo da revista VEJA. 

Trecho da cobertura realizada pela Gaúcha das eleições de 2014 (outubro de 2014).
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Cobertura especial – Eleições 2014, Porto Alegre, out. 2014.


CONSOLIDAÇÃO DA GRENAL

Fonte: Rede Pampa

consolidação da GRENAL, da Rede Pampa, talvez tenha sido a grande – e boa – novidade do ano. Seu papel só não foi maior pela impossibilidade de bancar a cobertura da Copa do Mundo. A emissora da família Gadret pretendia repetir a sua atuação durante a Copa das Confederações, quando fez parte da Rede Nossa Copa com a Cultura de Miracema (TO) e a Manchete (RJ). As dificuldades geradas pelo falecimento de SALOMÃO CARVALHO, proprietário da emissora de Tocantins e profissional por trás da Nossa Copa, acabaram com a pretensão da Grenal. Mesmo assim, ao longo do ano, a emissora coordenada por THIAGO SUMAN provocou preocupação na concorrência até então muito acomodada.


MUDANÇAS NO MERCADO DO JORNALISMO
No segmento de jornalismo, houve uma rara troca de cadeiras que pode ainda render muitos frutos. A transferência de LUIZ CARLOS RECHE para a BAND marcou o fim de uma fase na cobertura esportiva do estado. Com a contratação de NANDO GROSS, a GUAÍBA começou um processo de reestruturação muito interessante. Em realidade, desde que o Grupo Record assumiu a emissora, não se tinha uma programação à altura da tradição da emissora da rua Caldas Júnior. 
Na GAÚCHA, a saída de ANDRÉ MACHADO para concorrer a deputado federal promoveu a ascensão de DANIEL SCOLA à apresentação do Gaúcha Atualidade e ao cargo de editor-chefe da rádio, primeira de uma série de mudanças na emissora da RBS. A entrada de ANDRÉ no Jornal Gente, da BAND, reforçou o time da estação do Morro Santo Antônio, que só não cresce mais por estar limitada à transmissão em amplitude modulada.

Luiz Carlos Reche contratado pela Band depois de 28 anos dedicados à Rádio Guaíba
Fonte: Metro Jornal de Porto Alegre

AUDIÊNCIA
Em termos de audiência na Região Metropolitana de Porto Alegre, a Rede Pampa seguiu liderando com a 104, com seus hits predominantemente sertanejos, em primeiro lugar, e a ELDORADO, focada no pagode e no funk, em segundo.
A GAÚCHA, por sua vez, isolou-se em terceiro lugar, algo dificílimo de se conseguir em um mercado como o daqui e ainda mais por se tratar de emissora dedicada integralmente ao jornalismo.

Comunicador Jota Crom nos estúdios da 104 FM
Fonte: Facebook da 
Rádio 104 FM

MUDANÇAS NAS GRADES
Enquanto a GAÚCHA descontinuava duas das mais fortes marcas do rádio do Rio Grande do Sul, a dos programas Brasil na Madrugada e Polêmica, a GUAÍBA retomou, sob o comando do jornalista FELIPE VIEIRA, o uso da denominação Agora, tradicional em hard news no mercado do Sul do país.

Trecho do último programa Polêmica, com Lauro Quadros (2014)
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Polêmica, Porto Alegre, nov. 2014.


SEGMENTO JOVEM
A ATLÂNTIDA apostou forte no rádio falado para além do programa Pretinho Básico, consolidando ALEXANDRE FETTER como um dos principais gestores de conteúdo das emissoras do Grupo RBS. 
Porto Alegre perdeu a bandeira JOVEM PAN, dentro do projeto de expansão de sinal da PAMPA.
E a MIX, em parceria iniciada por MAURO BORBA, no ano anterior, com a emissora da Universidade Luterana do Brasil, foi se firmando.
A IPANEMA, com THADEU MALTA à frente da programação, tentou se reinventar sem perder suas características essenciais.


POPULAR
As rádios populares essencialmente faladas seguiram restritas à faixa de AM, onde estão duas das marcas mais tradicionais deste segmento no Rio Grande do Sul: FARROUPILHA, do Grupo RBS, e CAIÇARA, da Rede Pampa. Quando ocorrer a migração para o FM, as duas tendem a fazer muito estrago em especial junto às musicais populares, mas – aposto – vão tirar audiência também das jornalísticas. Explico: o ouvinte das classes B e C que deseja uma programação baseada na conversa está sem esta opção na frequência modulada, apesar de ser parcialmente atendido pela PAMPA.

Paulo Leitão, comunicador da Rádio Farroupilha (680 AM), em seu programa Dona da Madrugadaque vai ao ar de domingo a sexta-feira das 2h às 6h. Foto: TV Globo
Fonte: Blog da Farroupilha

RÁDIO PÚBLICO
A FM CULTURA, com PATRICIA DUARTE na direção, terminou 2014 reestruturada, fechando quatro anos do governo Tarso Genro. Ao contrário do verificado ao final do mandato de Yeda Crusius, a emissora da Fundação Cultural Piratini vai ser entregue ao próximo governo com um renovada situação em termos de recursos humanos e materiais. Na programação, Conversa de Botequim, com LUIZ HENRIQUE FONTOURA, e Sessão Jazz, com PAULO MOREIRA, seguem como os grandes destaques.

Anúncio da FM Cultura (setembro de 2014)
Fonte: Instagram FM Cultura

PRÊMIO ARI DE JORNALISMO
No Prêmio Ari, a boa surpresa foi a presença, entre os vencedores, de profissionais de rádios do interior e de web rádios. A SANTA CRUZ AM, de Santa Cruz do Sul, levou quatro premiações, entre elas um primeiro lugar, com JOSÉ RENATO RIBEIRO. 
A RÁDIO ESTAÇÃO WEB, de Porto Alegre, levou um segundo lugar em reportagem esportiva com uma matéria de ROGÉRIO DE OLIVEIRA BARBOSA.


SINDICATO DOS RADIALISTAS
ANTONIO EDISSON PERES, o Caverna, voltou à presidência do Sindicato dos Radialistas do estado. Ao longo das últimas décadas, tem se constituído na principal e mais combativa liderança sindical dos trabalhadores de emissoras de rádio e TV no Rio Grande do Sul.


WEB RÁDIOS
Emissoras exclusivamente WEB começaram a se consolidar como alternativas nas irradiações esportivas no Rio Grande do Sul. Cito dois exemplos: a RÁDIO ESTAÇÃO WEB e a RÁDIO GALERA.
Fonte: Rádio GaleraWeb

EVENTOS
Dois grandes eventos marcaram especificamente o rádio do Rio Grande do Sul em 2014: o 2º SIMPÓSIO NACIONAL DO RÁDIO, na ESPM, de Porto Alegre, iniciativa do Grupo de Rádio da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação para aproximar a universidade do mercado; e o 14º SEMINÁRIO DA QUALIDADE NA RADIODIFUSÃO, organizado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e TV no Estado do Rio Grande do Sul, que debateu a migração de AM para FM.


MIGRAÇÃO PARA FM
A migração para frequência modulada, um dos assuntos do ano, pode representar uma excelente oportunidade de negócio para as emissoras do interior do Rio Grande do Sul apesar do investimento inerente a este processo. Grandes rádios da capital tendem a perder alcance com a mudança, abrindo espaço para uma revitalização das emissoras locais. Estas últimas podem ainda fazer boas parcerias com as estações de Porto Alegre, premidas por esta nova realidade, para a transmissão de grandes eventos.


DESPEDIDAS
O rádio brasileiro ficou mais triste com a morte de GLÊNIO REIS e a aposentadoria de LAURO QUADROS. Ao microfone, ambos atendiam, com raro talento, a uma máxima dos bons profissionais: o rádio nunca pode ser chato. Quem segue exercendo com maestria este princípio é CLAUDIO BRITO.
O radialista Glênio Reis morreu no dia 15 de agosto com 86 anos
Fonte: Zero Hora

ASPECTOS NEGATIVOS
Um dos pontos negativos de 2014, como há anos tem sido, foi a desvalorização do profissional de rádio, frequentemente substituído por estagiários com bolsas de valores reduzidíssimos. Todo gestor preocupa-se em fidelizar o ouvinte. Quem se preocupar, apesar das dificuldades óbvias de mercados pequenos, em fidelizar o funcionário vai levar sempre vantagem no processo. É uma lição que muita gente ainda não aprendeu.

O fracasso do ano, me permitam, foi o evento VOX, do GRUPO RBS. A “communication (r)evolution” proposta não atingiu a repercussão pretendida. Lembrando lançamentos de produtos de megacorporações como a Apple ou alguma palestra TED, foi pleno de forma, mas o conteúdo deixou muito a desejar. Na segunda metade dos anos 1990, a família Sirotsky trouxe Nicholas Negroponte para uma de suas convenções. A RBS traçou um plano revolucionário para a época, integrando operações de comunicação de massa e telecomunicações. E se deu muito mal por ter escolhido o parceiro inadequado, a Telefónica de España. Agora, o que se viu, foi apenas retórica, embora visualmente muito bem formatada.



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