Duas historinhas em meio ao motim no Presídio Central de
Porto Alegre
2007
Luiz Artur Ferraretto
Zero Hora noticia o
motim do Presídio Central (29 de julho de 1987)
Fonte: Zero Hora,
Porto Alegre, 29 jul. 1987. p. 1.
Em julho de 1987, a capital gaúcha se deu conta, pela primeira
vez, do agravamento das condições gerais de segurança, que iriam, aos poucos,
mergulhar a sociedade brasileira no caos dos dias de hoje, com os traficantes
representando uma espécie de poder paralelo, em especial nas comunidades
marginalizadas das favelas. Com o sistema penitenciário do Rio Grande do Sul
vivendo “o dia mais agitado de sua história”, na definição do jornal Zero Hora, as rádios vão narrar minuto a
minuto o primeiro grande motim do Presídio Central de Porto Alegre.
A cobertura atesta, no entanto, o poder de mobilização da
Rádio Gaúcha. A emissora, na realidade, noticia a rebelião iniciada às 10h20
com cerca de uma hora de atraso em relação à sua principal concorrente – a
Guaíba –, deslocando um repórter – o jornalista Vitor Bley de Moraes – apenas
no final da manhã. No entanto, a partir daí, rapidamente, outros profissionais
dirigem-se para pontos-chave como o Hospital de Pronto Socorro e a Secretaria
Estadual da Segurança Pública. Juntam-se à equipe, nas proximidades do presídio
e em outros locais importantes, os apresentadores José Antônio Daudt e Rogério
Mendelski, além de integrantes do Departamento de Esportes como Pedro Ernesto
Denardin. Durante as oito horas e meia de motim e, após, acompanhando a
perseguição e captura dos foragidos, vai se destacar, ainda, a repórter Tânia
Regina da Silva.
O trabalho realizado pela Gaúcha, sempre sob a supervisão de
Marco Antônio Baggio e a coordenação de Cláudio Moretto do Nascimento, vai ser
reconhecido pela Associação Rio-grandense de Imprensa em sua premiação anual.
Na edição de 1987, Tânia Regina da Silva e equipe conquistam o prêmio de
radiojornalismo com a cobertura do motim no Presídio Central, tragédia do
cotidiano que encobriria pelo menos dois fatos curiosos. Ambos só ocorridos
devido a uma eventualidade: os amotinados concentram-se ao lado de uma janela
muito próxima da cerca que dá para a rua, onde estão os repórteres de vários
veículos de comunicação.
Logo no início da confusão, o jornalista Vitor Bley de Moraes
estende o braço direito e, com o gravador em punho na direção da tal janela,
onde está um dos líderes do motim, o então líder no tráfico no Morro da Cruz,
pede:
– Carioca, dá um relato para os ouvintes da Gaúcha sobre como
está a situação aí dentro...
– Tu queres saber como está aqui... – diz Carioca,
voltando-se para um dos outros amotinados, por coincidência um dos mais
perigosos do estado – Mostra pra ele como tá aqui, Vico...
O preso aproxima-se da janela e grita:
– Aqui, tá assim... – e vai apontando uma cano cerrado para
os jornalistas, que, amedrontados, jogam-se no chão, em meio a um barral sem
tamanho, tentando fugir de balas que não chegam, por sorte, a ser disparadas.
Horas depois, com a Gaúcha já com toda a sua equipe
mobilizada, o jornalista José Antônio Daudt passa a comandar a cobertura no
mesmo local. Em uma época sem as facilidades do celular, longos cabos são
estendidos das unidades móveis, permitindo a transmissão ao vivo. Com 31
funcionários do Instituto de Biotipologia Criminal em poder dos presos, Daudt,
usando o fato de ser deputado estadual pelo PMDB, chega a se oferecer em uma
troca para garantir a segurança dos reféns. A resposta, algo depreciativa, algo
agressiva, dos amotinados é captada pelo microfone da Gaúcha:
– Tu não tá com essa bola toda!
No final, morrem duas pessoas e os oito presos conseguem
fugir do Presídio Central em dois automóveis cedidos pelas autoridades.
Cobertura realizada pela Rádio Gaúcha (28 de julho de 1987)
O repórter Vitor Bley de Moraes resume a situação no
Presídio Central de Porto Alegre.
José Antônio Daudt entrevista Luiz Ronaldo Silva, o Prego,
um dos amotinados.
A repórter Tânia Regina descreve quem são os amotinados.
José Antônio Daudt e Rogério Mendelski descrevem um momento
de tensão com ameaças dos presos aos jornalistas.
A equipe da Rádio Gaúcha descreve a fuga dos presos.
Fonte: RÁDIO GAÚCHA. Cobertura
do motim no Presídio Central. Porto Alegre, 1987. Programa de rádio.
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