Collor, Lula, FHC: nos jingles,
as esperanças da redemocratização
2008
Luiz Artur Ferraretto
Em 1989, a
esperança era um mar de bandeiras vermelhas, uma estrela de cinco pontas na
maioria e a velha foice e o martelo, mais outra estrela, nas demais. Nos
comícios, ainda retumbava a Internacional: “De pé, ó vítimas da fome/ De pé,
famélicos da terra/ Da ideia a chama já consome/ A crosta bruta que a soterra/
Cortai o mal bem pelo fundo / De pé de pé..”. Atendendo aos desígnios do
marketing, logo o velho hino da esquerda daria, rapidamente, lugar ao mais
forte jingle político dos últimos 20
anos, aquele do “Lula lá”. Tão forte que sobreviveria, adaptando-se, a três
derrotas e a duas vitórias do candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Está certo. Em tempos de Lula Light, o vermelho das bandeiras
foi pendendo da esquerda para o centro, alguns dirão, inclusive, para a direita
com flertes a ex-arenistas, aqueles da ditadura, transformando-se em explícitas
e públicas vias de fato. O jingle de
Hilton Acioli, no entanto, permaneceu, pelo menos, no imaginário das pessoas e
rearranjado, alterado, foi mantido em espírito nas versões de campanhas
posteriores. Ou este mesmo Lula Light não é um trocadilho maldoso com aquele
mais esperançoso Lula Lá, provando, com certeza, a força musical e
propagandística da canção daquela campanha de quase duas décadas atrás?
Desde então, nem só do jingle
do candidato três vezes derrotado e duas vezes vitorioso viveriam as campanhas
presidenciais. O do vencedor das eleições de 1989, Fernando Collor de Mello,
era também muito bom, talvez a provar a supremacia qualitativa, por vezes, da
mensagem propagandística sobre o conteúdo do produto vendido. Os do outro
Fernando, o FHC, o Fernando Henrique Cardoso do PSDB, tinham até certo teor
sociológico a lembrar a profissão de origem do político habilidoso que venceria
os pleitos de 1994 e 1998. Em ambos, a voz de Dominguinhos sustentaria
propostas, sonoridade levemente nordestina sem deixar de ser, em sua
totalidade, brasileira. Ah, e dizendo o que as pessoas queriam ouvir.
Jingle político é assim mesmo. Não ganha eleição, mas ajuda. Mensagenzinha repetitiva para não sair da cabeça e influenciar o eleitor. Agora, se permanece anos depois como referência, fazendo parte do imaginário popular, aí então, talvez tenha transcendido o objetivo inicial. De mera propaganda, graças à habilidade de seus criadores, torna-se quase uma obra de arte, reverenciada como um hino pelo eleitor do candidato apoiado ou respeitada e até invejada pelo outro, o que vota no adversário combatido.
Jingle da
campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência (1989)
Fonte: OS 20 MAIORES jingles
políticos de todos os tempos. São Paulo: Abril, 2004. CD.
Jingle da
campanha de Fernando Collor de Mello à presidência (1989)
Fonte: OS 20 MAIORES jingles
políticos de todos os tempos. São Paulo: Abril, 2004. CD.
Jingle da
campanha de Fernando Henrique Cardoso à presidência (1994)
Fonte: OS 20 MAIORES jingles
políticos de todos os tempos. São Paulo: Abril, 2004. CD.
Jingle da
campanha de Fernando Henrique Cardoso à presidência (1998)
Fonte: OS 20 MAIORES jingles
políticos de todos os tempos. São Paulo: Abril, 2004. CD.
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