A Rádio Guaíba e a crise na Caldas Júnior
2014
Luiz Artur Ferraretto
A década de 1980 inicia com os veículos de comunicação
controlados pela família Caldas Júnior demonstrando fragilidades que pareciam
impossíveis de serem reais para quem, dez anos antes, observasse a vitalidade
de um grupo a controlar, entre outros, jornais como o Correio do Povo e a principal emissora voltada ao público de classes
A e B no Rio Grande do Sul, a Rádio Guaíba. De fato, alguns episódios já
remetiam para a possibilidade de uma crise futura.
Na primeira metade dos anos 1970, época de concentração de
capital e formação de grandes grupos econômicos, Breno Caldas, proprietário da
Companhia Jornalística Caldas Júnior e da Rádio Guaíba, recusa duas transações
que, se realizadas, além de impedirem o crescimento de concorrentes já
existentes, poderiam ter imposto poderosas barreiras à entrada de novas
empresas no mercado de comunicação de massa do Rio Grande do Sul. Na primeira
delas, em 1971, o publicitário Antonio Mafuz serve de intermediário para a
tentativa de Maurício Sirotsky Sobrinho de desfazer-se do jornal Zero Hora, o que deixaria a Caldas
Júnior com um quase monopólio na grande imprensa estadual, dotando-a ainda de
um parque gráfico moderno. Na segunda negociação recusada, em dezembro de 1973,
o grupo assumiria os veículos dos Diários e Emissoras Associados, ganhando uma
rádio com canal livre internacional, uma emissora de televisão e também, pelo
menos, mais um jornal.
Bem-sucedido em seus empreendimentos na área de imprensa –
especialmente, na condução do Correio do
Povo –, Breno Caldas era mesmo um homem de jornal, dos antigos,
extremamente culto e centralizador, mas com proximidade também com o Rio Grande
agrário. Concessões apenas a alguns poucos – e próximos – colaboradores, entre
eles, Arlindo Pasqualini, um dos únicos a tratar o patrão por “tu”, e não como
os demais com o habitual “doutor Breno”. Não quer dizer que fosse despótico,
mas sim se adequava ao padrão do capitalista dos anos 1930 e 1940: algo
instintivo, um tanto avesso a mudanças, reagindo ao momento e de cada
experiência vivenciada tirando lições, nem sempre as mais adequadas.
Quem, por volta de 1970, visse a pujança da Companhia
Jornalística Caldas Júnior, publicando três jornais – Correio do Povo, Folha da
Manhã e Folha da Tarde –, e a
tranquila situação da Rádio Guaíba jamais imaginaria a crise do início da
década seguinte. Em 1969, por exemplo, de acordo com a revista Visão, Breno Caldas possui a sexta
fortuna pessoal do país. Três anos depois, outra publicação, a Exame, atesta a vitalidade do Correio, carro-chefe da Caldas Júnior: é
o diário de maior rentabilidade do país e o sexto em lucro líquido, além de
contar com 93 mil assinantes. Para se ter uma ideia, em 1976, registra o Anuário brasileiro de Propaganda, o
capital social de suas empresas – Cr$ 28,3 milhões – chega a ser mais de duas vezes superior ao
da Rede Brasil Sul de Comunicação – Cr$ 12,3 milhões –, que, dez anos depois,
vai se tornar quase hegemônica no mercado gaúcho.
No entanto, no plano interno, a mecânica de funcionamento do
grupo dá mostras de fadiga. Acostumado a uma estrutura hierárquica centralizada
– ele, os subordinados mais próximos e todos os outros, na definição de Walter
Galvani, autor dos livros Um século de
poder: os bastidores da Caldas Júnior e
Olha a Folha: amor, traição e morte de um jornal –,
Breno Caldas mantém as características familiares do negócio, rejeitando,
inclusive, a tendência, deste tipo de empreendimento, em que, à participação
direta dos proprietários, junta-se “o aproveitamento de especialistas e
profissionais”.
Neste sentido, chamam a atenção algumas declarações de Breno
Caldas à revista Propaganda, em 1975,
sobre a forma como os negócios do grupo são conduzidos em um âmbito quase que
estritamente familiar:
Capa da revista Propaganda (novembro de 1975)
Breno Caldas ao lado do filho, Francisco Antônio
Caldas. A reportagem da revista descreve a pujança do grupo.
Fonte: GALVANI, Walter. Um
século de poder: os bastidores da Caldas Júnior. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1994. p. 438.
Além do intenso e progressivo crescimento da concorrência
representada pela RBS, que se ampara em sua associação na área de TV com a Rede
Globo, Breno Caldas começa a ter atritos com representantes do regime militar.
Até então, era considerado de confiança junto ao poder fardado. O desgaste
começa em um episódio de rebeldia contra a censura, no qual o empresário procura
ser fiel às suas convicções em relação ao jornal Correio do Povo. De histórica proximidade com o grupo paulista da
família Mesquita, onde o seu meio-irmão Fernando Caldas fizera carreira, Breno
resolve publicar o telex encaminhado pelo diretor de O Estado de São Paulo e do Jornal
da Tarde, Ruy Mesquita, ao Ministério da Justiça, reclamando de uma
determinação – apócrifa, mas atribuída ao titular da pasta, Armando Falcão –
proibindo “a publicação de notícias, comentários, entrevistas ou críticas de
qualquer natureza sobre a abertura política ou democratização, ou assuntos
correlatos, anistia a cassados ou revisão parcial dos seus processos, críticas
ou comentários ou editoriais desfavoráveis sobre a situação
econômico-financeira ou problema sucessório e suas implicações”. Mais do que
isto, o diretor do Correio do Povo
manda incluir, além do texto, a determinação ministerial. Assim, na madrugada
de 20 de setembro de 1972, os exemplares do jornal vão sendo apreendidos pela
Polícia Federal à medida que saem da rotativa da Caldas Júnior.
A partir deste rompante do empresário, crescem as restrições
dos militares a Breno Caldas. Fora isto, mantém em seus quadros funcionais
conhecidos comunistas – como o locutor Lauro Hagemann –, assunto recorrente em
conversas com partidários do regime, encerradas sempre taxativamente pelo
empresário:
– Eu faço o que bem entendo. Boto no meu jornal as pessoas
que eu entender, comunistas ou não, a critério meu. Eu não aceito qualquer
imposição neste sentido!
Uma auditoria interna indica, em 1975, a existência de
problemas financeiros no complexo de empresas liderado por Breno Caldas. Na
época, os três jornais publicados pela Caldas Júnior – Correio do Povo, Folha da
Manhã e Folha da Tarde – possuem
estruturas independentes, com equipes próprias, muitas vezes destacadas para a
cobertura de um mesmo acontecimento. Em paralelo, prevê-se para breve a
inauguração da TV2 Guaíba e da Rádio Guaíba FM. Face a esta realidade, como
registra Walter Galvani, em seu livro Um
século de poder: os bastidores da Caldas Júnior, Breno Caldas é alertado
para a necessidade de uma reestruturação do grupo:
A maioria dos analistas e consultores recomendava a concentração de forças no Correio do Povo e o fechamento das Folhas, manutenção da Rádio Guaíba apenas e, se a televisão viesse mesmo, como acabou vindo, em 1979, que operasse em rede com a Globo ou a Manchete, pois oferecimentos neste sentido havia, e muitos.
No momento em que a TV impulsiona o crescimento do principal
adversário, atender aos apelos e oferecimentos do empresário Roberto Marinho
das Organizações Globo afetaria, diretamente, à Rede Brasil Sul de Comunicação.
Já aceitar os convites de Adolpho Bloch, da Rede Manchete, cujo slogan
“Televisão de primeira classe” descrevia bem uma cadeia de emissoras voltada,
de início, às classe A e B, iria ao encontro de uma perspectiva muito próxima
daquela que norteava os veículos da família Caldas. Do primeiro, Breno Caldas
recebe uma proposta para que a Rede Globo de Televisão se encarregue da
montagem da TV Guaíba. O segundo hospeda-se no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre ,
tentando uma reunião para negociar a compra ou a participação nas empresas
Rádio Guaíba S.A e Televisão Guaíba Ltda., mas nem chega a ser recebido pela
direção do grupo Caldas Júnior, avessa à ideia de integrar redes do centro do
país.
Com o mercado começando a se transformar de modo crescente, o incêndio no edifício da
matriz das Lojas Renner, no dia 27 de abril de 1976, põe à prova a falta de
ousadia da Rádio Guaíba, embora a emissora contasse com profissionais como
Armindo Antônio Ranzolin ou Flávio Alcaraz Gomes. Situado na esquina da rua
Doutor Flores com a avenida Otávio Rocha – portanto, a menos de dez quarteirões
dos estúdios da Guaíba –, o prédio de oito andares queima durante sete horas,
deixando 40 mortos, dezenas de feridos e o prestígio da emissora abalado.
Embora o Correspondente Renner seja o
primeiro informativo a dar a notícia, por volta das 14h, não há repórteres para
acompanhar o fato. A emissora não contava com repórteres próprios, baseando-se
apenas no trabalho de redatores e das equipes dos jornais da Caldas Júnior.
Como observou Armindo Antônio Ranzolin:
[...] a Guaíba – que havia falado do outro lado do globo, que fizera copas do mundo, que fora à guerra com Flávio Alcaraz Gomes –, naquele dia, não conseguia vencer alguns quarteirões para transmitir um incêndio.
Desde o início de 1976, no entanto, um grupo de funcionários
articula-se, buscando junto aos proprietários da empresa a aprovação de algumas
medidas para a modernização da rádio. Cria-se, então, informalmente, uma
espécie de comitê, integrado, entre outros, por Amir Domingues, Antônio Britto
Filho, Armindo Antônio Ranzolin, Adroaldo Streck, Ênio Berwanger, Flávio
Alcaraz Gomes e Homero Carlos Simon, que redigem um documento submetido a Breno
Caldas. É a sequência lógica de um processo que se baseia, de um lado, na
reformulação do Departamento de Esportes e, de outro, na revolução representada
pelo programa Agora. Conforme
Ranzolin, o memorando encaminhado à direção da empresa faz um preciso
diagnóstico da situação da emissora:
Nós fizemos um comitê de 15, 16 pessoas e exigimos uma definição do doutor Breno. Afinal, quem é que mandava na rádio? Fizemos uma grande discussão sobre os problemas da Rádio Guaíba. Primeira conclusão: a rádio não tem diretor. Morreu o Arlindo Pasqualini e nunca mais foi nomeado outro diretor. Este comitê produziu uma ata da reunião e encaminhou ao doutor Breno. É um documento importantíssimo na história da Rádio Guaíba. Começava com a exigência de definição de um diretor. Nós analisávamos as ameaças de mercado à emissora. Não tínhamos televisão. Não tínhamos frequência modulada. Tínhamos uma rádio velha – cada vez mais lenta, nos seus processos de decisão – e acéfala. O documento mostrava claramente que havia uma ameaça da Rede Brasil Sul à Caldas Júnior na mídia eletrônica e que nós tínhamos de reagir, botando no ar, imediatamente, o FM. Tínhamos de passar o nosso transmissor de ondas médias de 50 para 100 kW, para o que já havia autorização do Ministério das Comunicações. Tínhamos de modernizar a operação da rádio.
Armindo Antônio Ranzolin
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 4 de outubro de 1999.
Como resultado destas articulações, Francisco Antônio Caldas
assume a direção da Guaíba, tendo Ranzolin como seu assistente, que escolhe
Antônio Britto para coordenar o jornalismo da emissora. A partir daí,
estrutura-se uma equipe de reportagem e são adquiridos equipamentos para dotar
a rádio de unidades móveis. A figura do repórter ganha espaço na programação,
em especial após o surgimento, no ano de 1977, do Linha Aberta, o primeiro radiojornal moderno da Guaíba, transmitido
de segunda a sexta, das 13h15 às 14h. Este processo de recuperação, no entanto,
perde força à medida que, de modo geral, se agrava o quadro econômico da
Companhia Jornalística Caldas Júnior e da Rádio Guaíba S.A, devido, em
especial, aos gastos expressivos com a instalação da TV2 Guaíba, finalmente
inaugurada em 10 de março de 1979. Um ano depois, aproveitando a torre da
televisão no morro Santa Teresa, entra no ar a Guaíba FM, exclusivamente
dedicada ao tipo de música veiculado desde 1957 por sua coirmã de amplitude
modulada e transmitindo para um público adulto das classes A e B. Quase
simultaneamente, a Companhia Jornalística Caldas Júnior suspende, no dia 22 de
março, a circulação da Folha da Manhã.
Nesta época, o grupo deve, apenas ao Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(Banrisul), cerca de US$ 2 milhões.
Em plena abertura política, Breno Caldas, que apoiara com
editoriais e artigos o golpe de 1964, mas já olhado com desconfiança pelo
regime, começa a ter dificuldades nas negociações das dívidas da Caldas Júnior
com as instituições financeiras estaduais e federais. Mesmo assim, ainda
consegue acesso aos círculos oficiais e aceita a recomendação para contrair
empréstimos em moeda estrangeira, permitidos pela chamada Resolução n. 63, do
Banco Central, datada de 21 de agosto de 1967. Com base neste dispositivo, ao
longo de 1981, o grupo obtém US$ 7,830,000 junto ao Banrisul. Isto, quando o
valor médio mensal do dólar para venda sobe de Cr$ 67,521, em janeiro, para Cr$
131,21, um ano depois. A dívida vai se avolumando, chegando a um total geral de
US$ 11,686,694.00 no dia 24 de janeiro de 1983.
Apesar da crise que atinge a Empresa Jornalística Caldas
Júnior e a Televisão Guaíba Ltda., nova razão social adotada em 1982, a Rádio
Guaíba S.A consegue manter-se ainda em condições de competitividade. Nas
eleições de novembro de 1982, anuncia com precisão o resultado em uma apuração
paralela coordenada pelo jornalista Luiz Figueredo, enquanto a Gaúcha amarga
uma série de dificuldades na totalização dos seus dados. No entanto, um pouco
antes, durante a cobertura da Copa do Mundo na Espanha, há um empate técnico na
audiência ao longo do mês de junho, com ligeira vantagem para a emissora da
RBS, que registra 15,95% dos receptores ligados contra 15,6% da Guaíba.
No início de 1983, em meio às dificuldades para negociar as
dívidas com o Banrisul, Breno Caldas, em dois artigos – Palmo e meio e Palmo e meio 2
– ataca, duramente, o então governador do estado, José Augusto Amaral de Souza,
chegando a insinuar, em depoimento a José Antônio Pinheiro Machado no livro Meio século de Correio do Povo: glória e
agonia de um grande jornal, a influência de concorrentes: “houve gente de
fora do banco trabalhando para que a execução fosse iniciada logo”. Em
resposta, Amaral de Souza revelaria, dez anos depois, ao jornalista Walter
Galvani:
[A situação] chegou a um ponto em que o débito da Caldas Júnior era igual ao capital nominal do banco. Isso é uma situação completamente irregular. O que se pedia à Caldas Júnior era a normalização dos seus débitos. Com o oferecimento de garantias reais, e o diretor-presidente da empresa as tinha, de sobra. Era uma solução facílima, esta repactuação das dívidas e o oferecimento de garantias reais. Eu, honestamente, não consigo ver hoje por que o doutor Breno, como diretor-presidente da Caldas Júnior na época, não acertou.
Em dezembro de 1983, a Guaíba consegue, ainda, fazer uma boa
cobertura da disputa do Mundial Interclubes, quando o Grêmio Foot-ball
Porto-alegrense derrota por 2 a
1 o Hamburgo (Hamburger Sportverein), em Tóquio. No entanto, quando a equipe de
esportes retorna a Porto Alegre, a situação do grupo Caldas Júnior é muito
grave. Sem receber os salários dos meses de outubro e novembro, os funcionários
do Correio do Povo e da Folha da Tarde entram em greve, no dia
12, menos de 24 horas após a vitória gremista na Ásia. A paralisação, esvaziada
e em meio a disputas no Tribunal Regional do Trabalho, termina em fevereiro de
1984, depois de 56 dias e sem que os salários sejam integralmente pagos. Breno
Caldas tenta, sem sucesso, uma composição da dívida com o Banco do Brasil e a
Caixa Econômica Federal, apostando na grande quantidade de gaúchos nos altos
escalões do governo Figueiredo.
Protelando ações executórias do Banrisul contra a Caldas
Júnior e sem condições sequer para pagar o papel necessário à impressão do Correio do Povo e da Folha da Tarde, o empresário manda, no
sábado, dia 16 de junho de 1984, comunicar ao público do Rio Grande do Sul que
a circulação dos dois jornais está suspensa. É o que faz, no início da tarde, o
locutor José Fontella na Rádio Guaíba, em uma mensagem várias vezes repetida
naquele final de semana. Semanas depois, o próprio Breno Caldas iria à
televisão explicar a suspensão na circulação dos jornais. Ao microfone da rádio,
Adroaldo Streck e Rogério Mendelski vão tentar mobilizar, sem resultados
efetivos, a sociedade gaúcha para a retomada da circulação dos jornais,
enquanto o chamado Comitê de Salvação, um grupo eleito pelos funcionários,
mantém contatos com lideranças políticas e empresariais.
Breno Caldas (1984)
Áudio da entrevista concedida por Breno Caldas ao
jornalista Amir Domingues na TV2 Guaíba.
Fonte: Arquivo pessoal.
Prédio da Caldas Júnior e da Rádio Guaíba durante a
mobilização pelo retorno do Correio do Povo
e da Folha da Tarde (junho de 1984)
Fonte: GALVANI, Walter.
Um século de poder: os bastidores da Caldas Júnior. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1994. p. 481.
Na Rádio Guaíba, o segundo semestre de 1984 vê o desmonte da
equipe da emissora. Para a Gaúcha, saem, logo em seguida ao fechamento dos
jornais, Armindo Antônio Ranzolin e João Carlos Belmonte. Em dezembro, para a
Pampa, que passa a investir em jornalismo, transfere-se um contingente
significativo de profissionais do grupo: Adroaldo Streck, José Barrionuevo,
Lauro Hagemann, Lauro Quadros, Luiz Figueredo, Rogério Mendelski, Tânia
Carvalho e Walter Galvani, entre outros.
Quem fica na rádio convive com salários atrasados,
pagamentos em vale e o descumprimento de obrigações trabalhistas. No dia 30 de
setembro de 1985, o juiz Sérgio José Dulac Müller, do 2° Juizado da Vara de
Falências e Concordatas, decreta a falência da Empresa Jornalística Caldas
Júnior, aceitando o pedido do ex-funcionário Otildo Castilho Filho para que a
dívida trabalhista dele seja transformada em título executivo. A Guaíba, uma
outra empresa, não é afetada pela decisão judicial. Desde o início do ano, os
funcionários remanescentes tentam obter o controle da rádio, com base nos
salários e encargos atrasados, o que, efetivamente, conseguem no dia 18 de
dezembro. A respeito, vai publicar a Revista
Sul, em junho de 1986:
O advogado Carlos Gomes articulou uma ação de usufruto. Este tipo de ação transfere aos empregados a gestão de uma empresa até que ela salde os débitos trabalhistas. Quando eles estiverem em dia, a empresa volta a ser administrada pelo proprietário. Mas é preciso que o dono concorde em ceder o controle.E foram necessários quatro meses para Breno Alcaraz Caldas concordar. A ação foi apoiada pelo advogado de Breno, Pedro Ferreira da Silva Filho, que se encarregou de convencer o cliente de que esta era a melhor saída.
Organiza-se, então, um novo corpo diretivo – Demostenes
Anildo Martins Pinto, administrador geral; Marcelo Feijó, diretor financeiro; e
Lasier Martins, diretor operacional –, que permanece até 5 de maio de 1986. Na
véspera, o empresário do setor agroindustrial Renato Bastos Ribeiro compra a
Empresa Jornalística Caldas Júnior, a Rádio Guaíba S.A e a Televisão Guaíba
Ltda., assumindo todas as dívidas do grupo e impedindo o leilão dos prédios,
marcado para aquela mesma semana. Sob sua administração, são modernizados os
equipamentos das emissoras, a Guaíba AM passa a transmitir com 100 kW e o Correio do Povo volta a circular. No
entanto, embora saneado financeiramente, em poucos momentos o Sistema
Guaíba-Correio do Povo, denominação genérica adotada nos anos 1990, faz frente
nos seus segmentos de atuação à hegemonia da Rede Brasil Sul. Posteriormente, em
2007, as empresas são repassadas ao Grupo Record, com sede em São Paulo e
ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.
Lembro perfeitamente como era a TV2 Guaíba. Na época com meus 12 anos, não encontrei qualquer programa que me chamasse a atenção. Percebia nos adultos euforia devido a programação local repleta de grandes nomes, mas a falta de novelas e grandes seriados os afastou. Para mim, uma TV monótona. Na década de 80 melhorou muito com programas como Guaíba Feminina, Criança e Ao Vivo, aí, sim, abrangendo vários públicos, mas, infelizmente, mesmo com boa aceitação, não vingou.
ResponderExcluirAnos após, tive a oportunidade de reler este artigo. Ao ver a recusa de retransmissão da rede Globo, na época com programas familiares de primeira linha, ou até mesmo da rede Manchete, penso o quanto um empresário precisa ver adiante do seu tempo. Breno Caldas tinha ótima intenção, que era promover nossos excelentes talentos locais, mas a cultura nunca ganha da diversão nos meios de comunicação.
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