Tia Eva, popular e verdadeira
2006
Luiz Artur Ferraretto
Tia Eva (julho de
1983)
Fonte: Microfone,
Porto Alegre, jul. 1983. p. 1.
A bageense Maria Eva Tavares Vergara viveu duas encarnações
radiofônicas. Como Tia Eva, ao microfone da Rádio Eldorado AM, de Otávio
Gadret, alegrou manhãs e manhãs do povão na Grande Porto Alegre do final dos
anos 1970 até o início da década de 1990. Para o seu público, ela foi uma companheira no dia a dia, em
duras e mal remuneradas jornadas de trabalho. Quem ouvia as radionovelas de
outros tempos talvez lembre de uma Maria Eva a fazer vozes caricatas, ora
interpretando uma preta velha, ora assumindo o papel de uma cigana, mas sempre
emprestando uma certa graça ao seu personagem.
Como de outros comunicadores do rádio popular, a maioria
vítima de tremendo preconceito, pouco ou quase nada restou do trabalho de Tia
Eva. Afinal, era criticada pelo linguajar, para alguns, chulo. E talvez fosse mesmo, mas o que
importa?
Em meio às músicas gauchescas e sertanejas da Eldorado, Tia
Eva conversava com o público do jeito dele. E era quase um sinônimo da estação
pertencente à então Rede Rio-grandense de Emissoras, a atual Rede Pampa. Em
entrevista a Marco Antônio Schuster, do jornal especializado Microfone, a radialista definiu, em 1983,
o programa Show da Manhã, à época
irradiado das 6 às 12h:
– O meu programa é o povão. É o carroceiro, é o lixeiro, é a
mulher que limpa as ruas, é a empregada doméstica. É o pessoal sofrido,
espremido contra a parede. É nele mesmo que eu quero chegar. É para ele que eu
uso esta arma chamada microfone e que eu acho que foi Deus quem colocou aqui na
minha mão para que eu possa levar aos meus irmãos de luta nesta vida apertada.
Um pouco de fé e de esperança, inclusive para as crianças de manhã cedo, uma mensagem
de otimismo, para que elas acordem, para que elas estudem, incentivando as
crianças porque elas serão donas do mundo de amanhã.
Assim, Tia Eva incluía quadros voltados para crianças,
promoções para os aniversariantes do dia e dedicatórias musicais. Nas
quintas-feiras, Tia Eva organizava uma espécie de flerte radiofônico, chegando a
registrar casamentos “de véu e grinalda” e com “todas as festas necessárias”
entre os ouvintes, solitários, normalmente mais idosos, que acorriam, então, ao
estúdio em busca de companhia. Já cada sexta-feira se transformava no Dia da
Vovó, quando a comunicadora distribuía alimentos doados pelo público – “um
pouquinho de cada coisa que eu não consigo dar um rancho completo”. Os ranchos
virariam, com o tempo, uma espécie de tradição lá no morro do Alto Teresópolis,
sede da Rede Pampa. Sem Tia Eva e mesmo sem programação popular em suas
emissoras, o empresário Otávio Gadret iria bancar, durante anos, aquelas
doações.
O misticismo também estava presente no trabalho de Tia Eva.
Pendurado no microfone do estúdio da Rádio Eldorado, no final dos anos 1970 e
na década de 1980, um rosário servia de marca registrada, junto com a garrafa
térmica e a cuia de chimarrão. Em um pratinho, uma espécie de simpatia
homenageava um de seus incentivadores: alguns grãos de milho, moedas e a
fotografia do cantor regionalista Teixeirinha, com quem ela trabalhara após o fim do
radioteatro impedir a continuidade da sua carreira como atriz. Mão estendida
que permitiu a ela ir deixando de ser Maria Eva para ficar na memória daquela
gente pobre, humilde e desamparada que, como a Tia Eva, não tinha porque se
preocupar em ser ou não bagaceira. Precisava tocar mesmo cada manhã com um
pouco de alegria, das piadas brejeiras e dos comentários de duplo sentido.
Tia Eva relembra os tempos de atriz radiofônica
Fonte: SPRITZER, Mirna; GRABAUSKA, Raquel. Bem lembrado:
histórias do radioteatro em Porto Alegre. Porto Alegre: AGE, 2002. CD.
trabalhei com a tia Eva, maravilhosa
ResponderExcluirEu trabalhei com a Tia Eva na Rádio Eldorado AM todas as manhas, eu fazia o Zezé Folia no Programa dela nas manhãs de segunda a sexta feira.
ResponderExcluirTrabalhei com tia Eva na rádio Gazeta. Era operador de áudio. Ótima pessoa.
ResponderExcluirEu Silvério dias 42 anos, lembro que eu tinha uns 6 a 8 anos e que meu pai escutava tia Eva num velho radinho azul
ResponderExcluirOooo saudades.
Ouvia muito o programa dela e do Luís de Lara na rádio.
ResponderExcluirTia Eva foi muito importante na minha infância pois , meu Pais ouvia o programa dessa Artista Única , eu lembro da voz e o carinho sentido no ouvir . isso é quase impossível nos dias atuais .(GOSTARIA DE TERN ACESSO AS MUSICAS QUE ELA CANTAVA SE ALGUÉM TIVER EU FAREI UM BOM USO SOU UM ETERNO FÃ HOJE COM 50 ANOS. MEU EMAIL. schwartzhupt@gmail.com )
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