Sayão Lobato, o homem do Não Diga Não
2005
Luiz Artur Ferraretto

Programa Supershow Sayão Lobato (1983)
O radialista, ao centro, faz a brincadeira do Não diga não com uma ouvinte no estúdio da Rádio Itaí.
Fonte: Microfone, Porto Alegre, ago.-set. 1983, p. 6.

Com emissoras como Itaí, Caiçara, Difusora e Farroupilha disputando os ouvintes das classes C e D em Porto Alegre, a forma espontânea e agitada garante, nos anos 1970, o apelido de Magrinho Elétrico a João Baptista Sayão Lobato. Aproveitando a rima fácil com o próprio nome, o radialista ganha espaço com uma brincadeira que marca época no rádio do Rio Grande do Sul: o Não Diga Não.

No mês de abril de 1969, um pouco antes do jogo em que a seleção do Brasil, no dia 7, enfrenta e vence por 2 a 1 a do Peru, dentro das promoções de inauguração do Estádio Beira-Rio, do Sport Club Internacional, Sayão Lobato começa a se destacar na chamada reportagem musical da Itaí. Utilizando uma série de artimanhas, incluindo contornar pela margem um trecho do rio Guaíba com água pela cintura, o radialista consegue entrar na concentração do selecionado em um clube da Zona Norte de Porto Alegre e falar com os jogadores brasileiros:

– Quando me pegaram com o gravador, vieram os seguranças, dizendo que eu não podia entrar na concentração. Como eu já tinha entrado e, ali perto, numa turminha, estavam o João Saldanha, o Pelé, os jogadores... Aí que eu digo: “Só um pouquinho, deixa eu só falar. Pega meu gravador, não tem nada ligado. Acontece o seguinte: eu sou casado, pai de cinco filhos, eu consegui um emprego, estou conseguindo entrar numa rádio e vim aqui para fazer uma coisa. Não estou falando de futebol. Eu quero só perguntar para o Pelé qual é a música que o Pelé gosta, o João Saldanha, o Jairzinho... Eu quero que eles peçam uma música”. Aí o Pelé disse: “Isso aí nós podemos, vamos pedir uma música!”. E ele pediu uma música do Moacyr Franco. Aí, eu gravei com todos os jogadores da seleção.

No dia seguinte, os pedidos entram de hora em hora na programação da Itaí, com grande repercussão junto aos ouvintes. A partir daí, Sayão Lobato percorre as ruas da cidade, gravando pedidos do público em geral e, por vezes, de personalidades. A reportagem musical é irradiada como quadro ao longo da programação com o apresentador, por exemplo Edy Amorim, usando o apelido criado por Marne Barcelos, outro comunicador muito popular na época, chamando no ar:

– O Magrinho Elétrico Sayão Lobato das ruas de Porto Alegre.

Ou simplesmente:

– Fala, Sayão...

Ao que o radialista, aproveitando o sucesso da canção Você Pediu e Eu Já Vou Daqui, de Antônio Marcos, repete o refrão:

– Edy, você pediu e eu já vou daqui... – respondendo e já introduzindo a pergunta sobre o pedido musical seguida da resposta do ouvinte.

É na Itaí que Sayão Lobato cria o Não Diga Não, a mais conhecida brincadeira do rádio popular no Rio Grande do Sul, gerando, inclusive, cópias em outros estados. Para ganhar um brinde, o ouvinte tem de evitar a palavra “não” durante dois minutos, enquanto o radialista, justificando o apelido de Magrinho Elétrico, faz pergunta após pergunta, sem deixar tempo para raciocínio algum, em um diálogo extremamente rápido:

– Como é o teu nome?

– Elisa...

– Dois minutos sem dizer não! Se disser não ganha um relógio de presente! Tá pronta, Elisa?

– Sim.

– Então tá... Atenção! Cuidado que o teu coraçãozinho tá sa-sa-cudindo, porque cooomeeeçou... Tudo bem, Elisa?

– Sim.

– Não! Ficou nervosa, eu vi daqui!

– Não...

– Já disse...

João Baptista Sayão Lobato
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 8 de maio de 2003.

No início dos anos 1970, a cada dia, durante o seu horário, Sayão Lobato realiza até seis brincadeiras deste tipo, com poucos vencedores. Para participar do Não Diga Não, os ouvintes inscrevem-se previamente e é tal a procura que chegam a esperar três meses para ocupar o seu lugar dentro do estúdio e responder a uma saraivada de perguntas. Fora isto, o comunicador inclui charadas como esta em seus programas:

– Descubra meu amigo, o que é que se tu fores ao meu, eu não posso ir ao teu e, se eu for ao teu, tu não podes ir ao meu? Vale três compactos simples! Não sabe? É o velório.

A popularidade do comunicador na programação vespertina da Itaí faz com que a rádio aposte no Domingo Alegre de Sayão Lobato, um programa de auditório, das 10 às 12h, apresentado em cinemas com calouros e brincadeiras. Quando o radialista se transfere para a Farroupilha, em meados da década, conduz atração semelhante nas tardes de sábado da TV Piratini. Na mesma época, grava um compacto simples com duas canções. Uma delas – a versão em português de Prometemos no Llorar, do argentino Palito Ortega – chega a aparecer nas paradas de sucesso. No entanto, seja em rádio ou em televisão, independente da emissora, o momento principal dos programas de Sayão Lobato é sempre o Não Diga Não, presente até hoje na memória dos ouvintes daqueles tempos.



Prometemos Não Chorar, de Palito Ortega (versão de Jean Pierre)

Com João Batista Sayão Lobato (1974)

5 comentários:

  1. PROCURO POR UMA MÚSICA QUE ERA CORTINA DA RÁDIO ITAÍ À TARDE;ERA UMA MÚSICA ALEGRE EM SOLO DE GUITARRA COM TECLADOS AO FUNDO (tipo Al Caiola ou Poly e seu conjunto),SE ALGUÉM LEMBRAR,FAVOR ME COMUNIQUE NO e-mal amigo.57@hotmail.com OBRIGADO!

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  2. https://youtube.com/watch?v=HQRb6iTXJFY&si=OqDIRz6a9QZ_Cnnl

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