A morte de Pedro Carneiro Pereira
2008
Luiz Artur Ferraretto
Pedro Carneiro Pereira (início dos anos 1970)
Fonte: Acervo particular da família Pereira.
Nos Estados Unidos, quem estava vivo em 22 de novembro de
1963 lembra do que fazia e de onde estava quando ficou sabendo do assassinato
do presidente John Fitzgerald Kennedy abatido por uma – uma? – bala de
trajetória estranha e irregular no desfile em carro aberto nas ruas de Dallas.
Uma geração antes, no Brasil, teve efeito semelhante a informação sobre o
suicídio de Getúlio Vargas, e, na Argentina, a morte por câncer progressivo e
irredutível de Eva Perón. Pois, no Rio Grande do Sul, o ouvinte de rádio do
início dos anos 1970 lembra, com certeza, o que fazia, onde estava, com quem
conversava, que roupa usava naquele momento dramático e único. Aquele instante,
o da voz embargada de Armindo Antônio Ranzolin, microfone da Guaíba, palmas
respeitosas de um Beira-Rio lotado. Um Arnaldo César Coelho parando a partida,
gesto inusitado e inédito. Jogadores do Internacional e do São Paulo
silenciosos. O estádio inteiro silencioso. A crônica esportiva silenciosa. E a
Guaíba tocando música na tarde de domingo, de futebol e de primavera. A Gaúcha
seguindo na irradiação dos jogos do campeonato brasileiro em homenagem ao
colega da emissora concorrente. Um Luiz Carlos Prates emocionado na descrição
lance a lance de um jogo que já não interessava a ninguém. Tudo,
respeitosamente, para marcar a morte e lembrar a vida do maior narrador
esportivo do estado na época: Pedro Carneiro Pereira, o Pedrinho, morto naquela
tarde de sol, de primavera, dia 21 de outubro de 1973, há três décadas.
Luiz Fernando Verissimo homenageia Pedro Carneiro Pereira
(22 de outubro de 1973)
Fonte: Folha da Manhã,
Porto Alegre, 22 out. 1973. p. 8.
Um fanático pelo automobilismo, Pedrinho, correndo com um
Opala, número 22, sofrera um acidente, no qual se envolve também o automóvel de
Ivan Iglesias. Foi pouco antes do início do jogo. A Guaíba, além de estar
presente nos estádios Beira-rio, em Porto Alegre, e Engenheiro Araripe, na
cidade de Vitória, no Espírito Santo, mantinha um posto no Autódromo de Tarumã,
em Viamão. De lá, o repórter Clóvis Rezende informara, primeiro, o choque entre
os dois carros, chegando a descrever as chamas que tomaram conta dos veículos.
Minutos depois, confirmada a morte dos pilotos, Armindo Antônio Ranzolin, após
narrar os primeiros 15 minutos de Internacional e São Paulo, interrompe as
transmissões esportivas da emissora:
– Bem, este tipo de informação nós não estávamos preparados
para receber. O Pedrinho corre há tanto tempo. Morre tanta gente nos
autódromos, mas nós sempre imaginamos que, com o Pedrinho, isso não
aconteceria. Confesso para os ouvintes da Rádio Guaíba que não há a menor
condição para que o nosso trabalho prossiga. A partir deste momento, o
Departamento de Esportes da Rádio Guaíba, hoje, vai encerrar as suas
atividades. Nós não transmitiremos o jogo do Internacional e São Paulo, nem o
jogo do Grêmio contra a Desportiva Ferroviária. Vamos colocar um ponto final na
participação do Departamento de Esportes da Rádio Guaíba nesta Jornada
Esportiva Ipiranga e nesta transmissão aqui do Beira-Rio.
Em meio ao comunicado, a reação do público, com aplausos que
partem de todos os pontos do estádio, atesta o impressionante predomínio da
Guaíba no rádio do Rio Grande do Sul. O narrador da descrição precisa, sem
bordões ou adjetivos exagerados, morria em uma tarde de céu azul, muito azul,
parecendo uma saudação, uma homenagem da primavera acompanhada, assim, pelo
reconhecimento do público e de seus colegas.
Documentário Pedrinho
Morreu na Primavera (2004)
Produção: Cristiane Viegas, Juliana Sembranelli, Marcelo Steffen e Marcus Reis.
Produção Geral: Marcus Reis.
Imagens: Adelmo Prestes, Daniel Fernandes e Sérgio Cabral.
Edição: Marcus Reis.
Edição / Pós-produção: Daniel Fernandes.
Computação Gráfica: Daniel Fernandes.
Sonoplastia: João Blattner e Otto Bede.
Programação Visual: Daniel Fernandes.
Professor responsável: Luiz Artur Ferraretto.
Jornalista
responsável: Vera Méndez.
Fonte: Acervo particular.
Me lembro desse dia. Estava ouvindo a Guaíba. Após encerramento da jornada esportiva: Rádio Guaiba, disse o locutor chorando, estáde luto e após a bela música da Guaiba. E assim foi o toda a tarde.
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