Meu Pai, Qual o Caminho
Certo?, a última grande novela
2007
Luiz Artur Ferraretto
Anúncio de Meu Pai, Qual o Caminho
Certo? (maio de 1971)
Fonte: Zero Hora,
Porto Alegre, 8 maio 1971. Revista ZH, p. 23.
Houve ainda outras depois dela. Nenhuma, no entanto, teria
ares de grande produção como essa efêmera Meu
Pai, Qual o Caminho Certo?, última novela da Rádio Gaúcha, uma tentativa
algo pretensiosa levada ao ar em 1971. A ideia de Maurício Sirotsky Sobrinho, o
dono da emissora, era, então, mesclar este tipo de entretenimento à música
gravada, ao jornalismo e aos programas de variedades de teor mais popular. Para
concretizar este perfil extremamente eclético, o empresário contratara o
pernambucano Jesuíno Antônio D’Ávila, que, na primeira metade da década de
1950, como diretor artístico da Farroupilha, havia revolucionado o rádio do Rio
Grande do Sul. Encarregado da retomada da dramaturgia na emissora, D’Ávila, em
plena fase de consolidação da TV, nada conseguiria, embora o projeto algo
temporão tenha sido também prejudicado pela censura.
Embora o título pareça hoje um tanto anacrônico, Meu Pai, Qual o Caminho Certo? soava
ousada para aqueles tempos de defesa intransigente da moral e dos bons
costumes, pelo menos do que os censores e o poder fardado consideravam como
tal. A novela de Erico Cramer pretendia uma atualização no enredo romântico
clássico, apresentando uma temática, na época, mais contemporânea, a da
rebeldia jovem e dos conflitos entre pais e filhos.
Última grande produção do gênero no Rio Grande do Sul e
carro-chefe da nova programação da Gaúcha, a novela aparece definida, nos
diversos anúncios publicados pelo jornal Zero
Hora, como “a angustiante pergunta da juventude desencontrada, inspirada
nas mensagens da música jovem”. A obra de Erico Cramer contava também com um
requinte nunca visto antes: a trilha sonora especialmente criada por Hermes
Aquino, compositor gaúcho que havia se destacado no Festival Internacional da
Canção e no programa Som Livre Exportação,
duas atrações da Rede Globo retransmitidas, no Rio Grande do Sul, pela então TV
Gaúcha. O elenco, sob a direção de Pepê Hornes, que também atuava, incluía
profissionais experientes como Esther Castro, Adroaldo Guerra, Lolita Alves,
Luiz Sandin, Eva Silveira, Sanches Netto, Danny Gris e Ivanir Mirapalheta,
“apoiados por uma equipe de radioatores e radioatrizes jovens revelada em
rigorosos testes”.
A estreia marcada para o dia 10 de maio de 1971, às 13h20, só
aconteceria, no entanto, uma semana depois e às 23h30. Considerada pelo
Departamento de Censura Federal muito forte para o horário vespertino, a novela
teve de ser transferida às pressas para o fim de noite, sendo substituída, no
início da tarde, pela bem menos polêmica As
Últimas Flores de Verão, de Maria Monteiro Paneraí. Os dados existentes
indicam que nem uma nem outra emplacariam mais do que umas poucas semanas de
irradiação, um final de esquecimento e descaso para aquela anunciada com o
estardalhaço próprio dos grandes momentos da dramaturgia radiofônica do
passado.
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