Marne Barcelos e o incêndio da Rádio Farroupilha
2008
Luiz Artur Ferraretto
Incêndio na Rádio Farroupilha (janeiro de 1974)
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, 13 jan. 2004. p. 32.
Foram dois incêndios abalando a história da Rádio
Farroupilha, de Porto Alegre. No primeiro, a turba descarregou tristezas na
forma de gasolina, fazendo os estúdios da velha PRH-2 arderem como pira
funerária para Getúlio Vargas, alvo constante de comentários e notícias da
estação dos poderosos Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand.
Nem tão poderosos assim, duas décadas depois, no calor de janeiro, quando as
faíscas iniciais vieram de um prosaico curto-circuito, se alastrando em meio à
má-conservação do velho prédio ocupado, na época, pela rádio no Morro Santa
Teresa. No segundo, é a agilidade do radialista Marne Barcelos que garante, com
rapidez surpreendente para os recursos técnicos dos anos 1970, a retomada das
transmissões.
Por esta época, a Farroupilha apresenta uma programação ainda
eclética, mas pendendo, majoritariamente, para o popular. Em meados da década
de 1970, passam pelo microfone da emissora profissionais como Aurélio Câmara,
Cicero Augusto, Dilamar Machado, Sayão Lobato, Teixeirinha e, até mesmo, o astrólogo
Omar Cardoso, então famoso no rádio de São Paulo. No segundo semestre de 1973 e
ao longo de 1974, com Homero Coimbra na gerência de programação e Marne
Barcelos na direção artística – os dois também conduzindo programas de sucesso
–, a estação dos Associados chega a liderar, por alguns meses, a audiência no
mercado de Porto Alegre, conforme os levantamentos realizados, na época, pelo
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. Na virada do ano, como
registra um anúncio publicado pelo jornal Diário de Notícias, a Farroupilha
consolida-se no primeiro lugar. O seu percentual em relação aos receptores
ligados cresce de 19,65%, em novembro, para 21,69% no mês seguinte, colocando
uma diferença de 3,99 pontos percentuais sobre a Itaí, a segunda colocada, e de
5,49 em relação à Difusora, a terceira.
É neste momento, quando a programação começa a dar bons
resultados, que ocorre, no dia 12 de janeiro de 1974, um incêndio de grandes
proporções nas instalações da Farroupilha, ao lado do prédio da TV Piratini. O
fogo atinge a parte técnica da emissora: quatro cabinas de locução, duas de
controle de som, almoxarifado, geradores e área de engenharia. São destruídos,
ainda, 12 mil elepês, 6 mil compactos e todas as gravações de programas
antigos. Interrompidas durante o Loteria
de Sucessos, com Cicero Augusto, por volta das 15h40, as transmissões
recomeçam, rapidamente, às 16h50. Neste horário, com a rádio já operando junto
à antena instalada na Ponta Grossa, Marne Barcelos anuncia, após rodar, bem ao
gosto do público, O Show Já Terminou,
com Roberto Carlos:
– Aqui
está falando a Rádio Farroupilha. Vinte anos depois do primeiro incêndio que
destruiu as nossas instalações, hoje, novamente, o fogo destruiu tudo o que
tínhamos. Mas graças aos esforços que se somam de toda a cadeia Associada do
Rio Grande do Sul estamos no ar mais uma vez, definitivamente, do seu lado. As
nossas condições são as mais precárias. Estamos com um estúdio improvisado aqui
no bairro Ponta Grossa onde teremos prazer em receber a sua visita. [...]
Estamos no ar. Não é verdade que o show tenha terminado. Ele vai recomeçar, com
o mesmo entusiasmo que o colocou em primeiro lugar.
A infraestrutura precária citada inclui, então, um
toca-discos, um microfone e a coleção de elepês do próprio Marne Barcelos, tudo
transportado às pressas para as instalações da emissora na Ponta Grossa. Menos
de três dias depois, com equipamentos das rádios dos Associados no Rio de
Janeiro – Tupi e Tamoio – e com um link
de FM emprestado pela Continental, de Porto Alegre, são retomadas as atividades
no morro Santa Teresa.
Da memória de Marne, não sairiam o cheiro de queimado, a
decepção momentânea, logo deixada de lado... E o corre-corre a garantir, com
sabor de vitória, aquelas palavras algo ousadas, algo emocionadas, ali naquele
estúdio improvisado. Prova de que rádio se faz com garra e com ganas.
Marne Barcelos
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 17 de julho de 2003.
Grande Marne Barcelos, ícone da comunicação e da cultura nacio Al e internacional.
ResponderExcluirMe lembro muito bem desta tragédia do incêndio da Rádio Farroupilha! Onde eu era ouvinte aciduo do programa Disque o quiser com Marne Barcelos!
ResponderExcluirGilberto Ernani Grandini Guimarães Viamão RS.