Ruy Carlos Ostermann e Lauro Quadros:
os dois principais comentaristas esportivos do Rio Grande do Sul
os dois principais comentaristas esportivos do Rio Grande do Sul
2014
Luiz Artur Ferraretto
Sob o comando da família Sirotsky, a Gaúcha tenta um lance
ousado um pouco antes da Copa do Mundo de 1970. Em novembro de 1968, por
detalhe, não contrata três dos principais profissionais do rádio esportivo do
Rio Grande do Sul: o narrador Pedro
Carneiro Pereira, o comentarista Ruy Carlos Ostermann e o repórter Lauro
Quadros. Deles, apenas Ostermann chega a se transferir, cobrindo inclusive as
eliminatórias para a copa.
A Gaúcha, no entanto, não irá ao México devido à crise nos
empreendimentos em que os Sirotsky participam então e que, no futuro, vão dar
origem ao Grupo RBS. E o professor acaba voltando para a Guaíba.
Ruy Carlos Ostermann, Pedro Carneiro Pereira e Lauro
Quadros (1966)
Fonte: Acervo particular da família Pereira.
Se Pedro Carneiro Pereira destacava-se na narração sem
firulas, Ruy Carlos Ostermann e Lauro Quadros vão representar dois estilos
diferentes ao microfone. Com voz calma, tão clara como os conceitos que apresenta
em seus comentários, Ruy havia revolucionado o comentário esportivo durante a
Copa da Inglaterra, em 1966, ponderando prós e contras, sem deixar de reconhecer
os méritos dos adversários. Busca no dado numérico, planilhado ao longo dos
jogos, explicações para a péssima campanha da Seleção Brasileira – uma vitória
por 2 a 0
na estreia contra a Bulgária e duas derrotas, frente à Hungria e a Portugal,
pelo mesmo marcador de 3 a
1. No trabalho que realiza desde então, embasa seus argumentos, analisando a
partida pelo número de arremates a gol, de chutes – fracos, com certa pretensão,
a exigir a intervenção do goleiro, ou muito fortes e bem colocados, a obrigar
grandes defesas –, de jogadas bem ou mal finalizadas, de escanteios cobrados ou
cedidos, de faltas etc. Enfim, uma série de detalhes cuidadosamente planilhados
que podem ser resumidos em uma única palavra: informação. Bacharel em
Filosofia, leva bagagem cultural ao ambiente esportivo, sem deixar de conferir
caráter jornalístico a suas opiniões, como registraria, décadas depois, a
jornalista Paula Ramos na revista Aplauso,
no ano 2000:
A ouvidos menos avisados – desacostumados até –, ele é aquela presença aconchegante e poética, plena de adjetivos e advérbios no reino da linguagem rápida, substantiva e rarefeita dos campos de futebol. Uma presença singular. A explicação para esse jeito Ruy de ser certamente reside na sua formação. Se não, vejamos: o que dizer de alguém que concilia futebol com filosofia? Pois Ruy o faz. Enquanto ensaiava suas primeiras participações em comentários esportivos, lá estava ele, debruçado sobre Platão, Hegel e Nietszche. De modo que estamos falando de uma mistura finíssima, da melhor qualidade, que o habilita a ser reconhecido como um marco.
[...] O fato é que Ruy se notabilizou como um cronista esportivo que também fala sobre futebol. Na sua produção cotidiana, mesmo nos espaços reservados ao esporte, ele trata de pincelar lembranças de um jantar com amigos, dá dicas de leitura, sugere vinhos, pinta com palavras a chegada da primavera, elogia os netos. Ruy transcende o universo da bola.
Já Lauro Quadros, em tempos de repórteres de paletó e
gravata à beira do campo, reinventa a reportagem e, depois, solta o verbo como
comentarista. Conforme Antônio Carlos Resende, também ele um dos narradores
mais conhecidos dos anos 1950 e 1960, é com Lauro – de perguntas precisas,
percepção acurada e português correto –que a reportagem esportiva ganha
consistência no rádio do Rio Grande do Sul. Fora estas qualidades demonstradas
desde o início de sua carreira, o repórter acrescenta, com o tempo,
descontração a uma atividade em que o ouvinte ainda é chamado, com cerimônia,
de senhor. A partir de 1969, quando substitui Ruy Carlos Ostermann como novo
comentarista da Guaíba, consagra expressões como “esse conhece o rengo sentado
e o cego dormindo” ou “ele sabe a cabeça que tem piolho”, para definir
profissionais ou elogiar um lances de brilhantismo; “ali é o caminho da roça”,
indicando uma área do campo de marcação deficiente do adversário, por onde um
time pode chegar ao gol; ou “é isto aí mais meio quilo de farofa”, forma de
encerrar um raciocínio. Com o retorno de Ruy à Guaíba, ambos vão se revezar
jogo a jogo nos comentários. À exceção dos grenais: no mais importante clássico
do Sul do país, a emissora da família Caldas Júnior escala os dois
comentaristas.
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