O sucesso popular de Teixeirinha
2006
Luiz Artur Ferraretto
Teixeirinha e Mary Terezinha no Teixeirinha Amanhece Cantando
Fonte: Aplauso, Porto Alegre: Plural, ano 5, n. 42, p.
26, 2002.
Nos anos 1960 e 1970, da simbiose inerente às indústrias
fonográfica e de radiodifusão sonora surge o maior fenômeno massivo do
regionalismo do Rio Grande do Sul, embora rejeitado por parcelas do
tradicionalismo devido ao tom popularesco de suas músicas e filmes: Vitor
Mateus Teixeira, o Teixeirinha. Até sua morte, há 20 anos, em 4 de dezembro de
1985, vende 18 milhões de discos, compõe em torno de 1.200 canções, das quais
grava cerca de 800 em 49 álbuns, fora antologias. No cinema, protagoniza 12
produções. A relação com o rádio vem do início da década de 1950, quando se
apresenta, com frequência, em emissoras de Estrela, Lajeado, Rio Pardo, Santa
Cruz do Sul e Taquara. Em 1957, Teixeirinha assume seu primeiro programa, Entardecer do Rio Grande, transmitido
das 17h30 às 18h, pela Municipal, de Passo Fundo. Começa, ainda, a frequentar
os palcos radiofônicos da capital nos espaços destinados à música gauchesca.
Em 1960, o selo Chantecler lança um compacto, colocando, no
lado B, a toada Coração de Luto. Em
seis meses, registrada também no álbum O
Grande Coração do Rio Grande, o sucesso inesperado da canção – a gravadora
apostava em Gaúcho de Passo Fundo, a
outra música lançada – transforma Teixeirinha, de acordo com a Revista do Rádio, em um dos artistas de
maior cachê do país, expondo o drama pessoal do cantor e compositor, órfão aos
nove anos, quando a mãe, epilética, sofreu uma convulsão enquanto incinerava uma
pilha de folhas, galhos e gravetos, sobras da poda de um arvoredo, caindo sobre
as chamas e falecendo devido às graves queimaduras. A história aparece em um
filme também denominado Coração de Luto,
que leva 1 milhão de espectadores ao cinema na estreia de Teixeirinha como
ator, em 1967.
O sucesso popular da temática algo contestada no Rio Grande
do Sul – onde o cantor chega a ser considerado, por alguns críticos do seu
trabalho, sertanejo e não tradicionalista – coincide com a decadência do
espetáculo radiofônico, que tira do ar atrações regionalistas apresentadas em
auditórios, transferindo-as para dentro do estúdio. É neste tipo de espaço,
também, que Vitor Mateus Teixeira vai se destacar em diversas emissoras de
Porto Alegre, fazendo dupla com a acordeonista Mary Terezinha – nome artístico
de Mari Terezinha Cabral Brum – e marcando na memória de seus ouvintes um
bordão frequente nos diálogos entre os dois:
– Ceeerto, Mary Terezinha?
– Certo, Teixeirinha!
Ao longo dos anos 1970, em diversas rádios da capital, por
vezes com retransmissão por estações do interior e de outros estados,
popularizam-se programas como Teixeirinha
Amanhece Cantando (matutino) e Teixeirinha
Comanda o Espetáculo (noturno). Nos domingos pela manhã, o cantor conduz Teixeirinha Canta para o Brasil. Os
dados existentes indicam o primeiro como o mais marcante, embora todos
registrem, então, altos índices de audiência. Na época, o cantor descreve o
sucesso desta atração radiofônica sempre transmitida de modo a acompanhar o
início da jornada diária de seus ouvintes:
– Em meu programa de rádio Teixeirinha Amanhece Cantando, eu acordo o povo que constrói o
Brasil, o povo simples, sofrido, que me aprecia e com quem tenho compromisso.
Respeito o meu público. Recebo de nove a 10 mil cartas de fãs por mês e tenho
duas secretárias para responder a essa correspondência porque ninguém fica sem
resposta. Tem coisas em que você nem acredita. Um dos produtos que eu anuncio é
para o fígado. Pois as pessoas chegam na farmácia procurando “o remédio do Teixeirinha”
e os balconistas vendem o remédio certo.
Além de veicularem muitos causos e músicas da dupla
Teixeirinha e Mary Terezinha, os programas reforçam a divulgação de filmes como
Ela Tornou-se Freira, de 1971,
assistido, na época, por 600 mil espectadores. No entanto, além da Região Sul,
onde as ondas do programa Teixeirinha
Amanhece Cantando não chegavam, os borderôs de seus outros filmes não
repetiram o êxito comercial do fenômeno Coração
de Luto. O que nunca impediu, pelo interior do Rio Grande, que as estreias
lotassem cinemas, sendo sempre anunciadas com faixas e cartazes pelas ruas,
dando cara de grande produção aos quase singelos e algo toscos filmes de Vitor
Mateus Teixeira.
Coração de Luto, de
Teixeirinha
Com Teixeirinha (1960)
Com Teixeirinha (1960)
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