Lorenzo Gabellini e a Itaí, pioneira do rádio povão
2006
Luiz Artur Ferraretto
Lorenzo Gabellini (anos
1950)
Fonte: Acervo particular de Lydia Theresa Miotto Gabellini.
Quem sintoniza, hoje, a Rádio Itaí AM não pode imaginar o que
esta pequena emissora já significou para os ouvintes da Região Metropolitana de
Porto Alegre. É mesmo impossível ter uma ideia do que foi a audiência da mais
frequente líder nos levantamentos do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística ao longo dos anos 1960, 1970 e 1980. Em meio às inflamadas
gritarias dos pastores da Igreja Pentecostal Deus é Amor, controladora da
emissora desde 1983, é mesmo difícil acreditar que a Itaí tenha sido importante
a ponto de lançar as bases do rádio popular na capital gaúcha, com música,
serviço e brincadeiras ao microfone. Curas radiofônicas e evangélicas à parte,
a estação está chegando aos seus 54 anos.
No dia 8 de março de 1952, o ex-corretor de anúncios da
Gaúcha Marino Esperança inaugurava a então ZYU-33 – Rádio Itaí, com
transmissores no município de Guaíba, local da concessão outorgada pelo
governo, mas com o estúdio instalado no prédio do Instituto de Aposentadoria e
Pensões dos Comerciários, próximo da avenida Borges de Medeiros, no centro de
Porto Alegre. Ao contrário de suas antecessoras, a quarta emissora a operar na
capital do Rio Grande do Sul não chegou anunciando mudanças significativas na
radiofonia local. Surgiu quase como uma coadjuvante em um mercado de razoável a
bom para quem tinha condições de contratar os principais artistas locais ou de
trazer os grandes nomes do rádio e da indústria fonográfica do centro do país.
Neste contexto, a Itaí passaria por várias reestruturações
administrativas, até se estabilizar em uma posição confortável em termos de
audiência. Em meados da década de 1960, alguns fatores convergem para permitir
que, em uma iniciativa modernizadora, a emissora revolucione o rádio do Rio
Grande do Sul. O primeiro deles é o fim do espetáculo radiofônico das novelas,
humorísticos e programas de auditório, de forte apelo popular, que perde espaço
na programação ao longo da década. A migração destes tipos de atração para a
TV, no entanto, não se faz acompanhar por uma audiência formada pelos estratos
menos favorecidos, afastados, de início, do novo veículo pelo alto preço dos
televisores. Cabe lembrar que, na época, um aparelho chega a custar o
equivalente a três salários mínimos, distante, portanto, das possibilidades de
consumo, por exemplo, do operariado. De outra parte, o êxodo rural, associado à
crescente concentração de renda provocada pela política econômica da ditadura
militar, contribui para que, nas periferias urbanas, se agrupem populações
empobrecidas.
Há, desta maneira, também modificações na própria composição
socioeconômica do público, tomado como consumidor pelos veículos de comunicação
de massa. Em termos nacionais, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, a participação na renda dos 50% mais pobres cai de
17,4% para 14,9% entre 1960 e 1970. No mesmo período, a dos 20% mais ricos
cresce de 54,8% para 61,9%. Esta tendência permanece até meados dos anos 1970,
altera-se um pouco por volta de 1980 e, logo em seguida, é retomada. Assim,
coincidindo com o regime militar imposto em 1964, ocorre uma ampliação das
classes sociais C, D e E da população.
É para estes estratos sociais que o empresário Lorenzo
Gabellini vai voltar a programação da Itaí a partir de 1966. Radialista e
publicitário, ele aproveita, ainda, a transistorização dos receptores, que, ao
acompanharem os ouvintes, quebram o isolamento dentro do enorme espaço urbano,
aos poucos constituído como metrópole. O novo diretor da ZYU-33 aposta,
gradativamente, na prestação de serviço, na música de teor
sentimental-romântico e no entretenimento fácil e direto, tudo conduzido pelo
comunicador, figura que, no alto-falante dos pequenos radinhos de pilha,
assume, de modo simbólico, a função de companheiro da dona de casa e do
trabalhador.
Gabellini estabelece, assim, no Rio Grande do Sul, os
parâmetros básicos do chamado rádio popular, na expressão comum dentro das
empresas de comunicação. Sempre se baseando em pesquisas de opinião – é o
primeiro a fazê-lo de modo sistemático no estado –, planeja uma programação
focada em canções voltadas à criação de um clima romântico e na participação do
ouvinte tornado cativo na expectativa de ter seu pedido musical atendido.
Introduz, ainda, no rádio gaúcho, a noção de serviço através do programa Bolsa de Empregos, irradiado das 6 às
8h, direcionado aos que precisam procurar ou oferecer trabalho. Fazendo a
emissora transmitir 24 horas por dia, põe no ar o Itaí, a Dona da Noite, transmitido da meia-noite às 6h. Gabellini
lança, ainda, Aconteceu, unindo, com
certo toque de sensacionalismo, o noticiário policial e o radioteatro ao
dramatizar crimes rumorosos. Deste modo, em poucos meses, a Itaí lidera a
audiência, como demonstra a pesquisa realizada, em abril de 1966, pelo
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística: entre os receptores
ligado, a emissora dirigida por Gabellini chega a 30,5% da audiência contra os
22,2% da Gaúcha, a segunda colocada. Nos anos seguintes, não deixa de chamar a
atenção o desempenho da Itaí em termos de audiência. Conforme os levantamentos
realizados pelo Ibope, a rádio chega, em alguns momentos, a registrar quase o
dobro da quantidade de ouvintes de suas concorrentes. É o que ocorre, por
exemplo, em setembro de 1969, quando a Itaí atinge 40,02% contra 20,55% da
Gaúcha.
Argumento fundamental para a sobrevivência econômica da
emissora, a liderança em número de ouvintes vai ser, constantemente, trabalhada
pela direção da Itaí na imprensa e junto aos anunciantes. Pelas pesquisas do
Ibope, também se pode ter uma ideia do público da rádio: de 70 a 85% formado por
integrantes das classes C e D; em torno de 70% pertencentes ao sexo feminino;
de 70 a 75%
apenas com instrução equivalente ao ensino fundamental; e bem distribuído por
todas as faixas etárias, apesar da parcela menor – 10% aproximadamente –
corresponder à dos 25 a
29 anos e a maior – 25% – aos com mais de 40. Além disto, para reforçar e ampliar
os dados fornecidos pelo instituto, Lorenzo Gabellini chega a criar uma equipe
própria para realizar pesquisas junto aos ouvintes.
O sucesso do negócio gera o capital que ampara outras
iniciativas, como a compra da Cultura, de Gravataí, e o investimento nas rádios
em frequência modulada Itaí FM (1972), a primeira a operar no Rio Grande do
Sul, e Cultura Pop FM (1976), a pioneira em rádio jovem nesta faixa de
transmissão. Gabellini tem, ainda, participação no controle da Caiçara, durante
um breve período.
Dos empreendimentos de Lorenzo Gabellini na radiodifusão, é a
Itaí AM, no entanto, a emissora que mais influencia o contexto comunicacional
gaúcho. A partir dela, descobrem-se as classes C e D como segmento de mercado.
O serviço à população e o incentivo à participação do ouvinte também se tornam
estratégias constantes na obtenção de audiências crescentes. Ao lado de grandes
verbas publicitárias de multinacionais – Coca-Cola, Kolynos do Brasil Ltda.,
Indústrias Gessy Lever S.A.... –, aparecem anunciantes de pequeno, médio ou
grande porte associados ao público específico da rádio. São exemplos lojas de
departamentos – Hermes Macedo e Imcosul – ou, ainda, de outros tipos, com
slogans marcantes, como o Magazine Alberto Bins, “aquele da escadinha”; o Café
Carioca, “o amigo do paladar”; e a Soberana dos Móveis, “o crediário mais
amigável da cidade”. Para garantir a atração de ouvintes e formando uma espécie
de star-system para os estratos C e
D, passam pelo microfone da Itaí comunicadores de forte apelo popular: Cicero
Augusto, João Batista Marçal, João Carlos Maciel, Marne Barcelos, Sayão Lobato
e Sérgio Zambiasi. De 1966, quando Gabellini assume a direção, a 1983, ano em
que vende a emissora para a Igreja Pentecostal Deus é Amor, outras estações em
amplitude modulada vão seguir o exemplo da Itaí, explorando o segmento. Em boa
parte deste período, a rádio lidera a audiência, perdendo, em alguns momentos,
o primeiro lugar para a Difusora, a Farroupilha ou a Caiçara, sem, no entanto,
deixar de registrar um percentual significativo de ouvintes.
PROCURO UM MÚSICA QUE FOI CORTINA DA RÁDIO ITAI À TARDE.ERA UMA MÚSICA (tipo Al Caiola ou Poly e seu conjunto), SE ALGUÉM LEMBRAR,FAVOR ME COMUNICAR NO e-mail; amigo.57@hotmail.com OBRIGADO!
ResponderExcluirInfelizmente, não temos esta informação.
ExcluirÀ tarde havia o Café da Tarde, com Edi Amorim. A cortina musical era Looking for Stars, com a orquestra de Billy Vogn.
ExcluirTomorrow's Love - Hugo Montenegro
ResponderExcluirMae - Herb Alpert & The Tijuana Brass
Muito legal isto de um leitor responder ao outro. Abraços a ambos.
ExcluirPercy Faith - Theme From A Summer Place ESSA ERA A MUSICA DO PROGRAMA CAFE DA TARDE COM EDI AMORIN NA RADIO ITAI E PELA MANHA O BOLSA DE EMPREGOS USAVA DE FUNDO ESSA MUSICA The Girl From Paramaribo (1972)
ExcluirPARTICIPEI MUITAS VEZES DO PROGRAMA NÃO DIGA NÃO DO SAUDOSO SAYÃO LOBATO E CONSEGUI TRABALHO ATRAVES DO BOLSA DE EMPREGOS MAS AINDA COM EDY AMORIN SENÃO ME ENGANO ANO DE 1971 A 1972 POR AI...EU ESTAVA SEMPRE LA PELA RADIO QUANDO ELA ERA NA GALERIA DI PRIMIO BECKER NÃO RECORDO O ANDAR...
ExcluirObrigada por esta linda lembrança de minha infância
Excluira musica tomorrow´s love foi cortina de outra emissora, a caiçara confidencial.
ResponderExcluirNa itaí, Mae tijuana Brass, era cortina do clube dos namorados, no mesmo horario noturno, da concorrente. Um dos programas da tarde, saudoso Edi Amorim, e o café da tarde com o tema Look For Stars, como cortina. GOSTARIA IMENSAMENTE DE SABER DA POSSIBILIDADE DE OBTER AUDIO, DE ALGUNS PROGRAMAS, PRINCIPALMENT DO CAPITÃO RADAR, QUE EU OUVIA TODO FINAL DE TARDE ANTES DA VOZ DO BRASIL. AGRADECIDO. ps; Gostaria do nome da musica de abertura do programinha preferido de minha infãncia.
Não temos, infelizmente, estas informações. Pelo que sabemos não existem áudios gravados destes programas.
ExcluirLook for a Star, era tema do café da tarde com Edy Amorim, resposta a pergunta de Cléo Brum
ExcluirComo posso saber informações sobre um radialista da antiga rádio Itaí chamado Otaciano Flores(década de 60/70). Provavelmente já é falecido, mas gostaria de ver imagem ou áudio. Onde posso encontrar tal material? Muito obrigada.
ResponderExcluirInfelizmente, não temos esta informação.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirMas com toda essa história marcante da rádio Itaí, vocês não tem o áudio gravado da radionovela "Capitão Radar"?!?!? Não acredito que alguém não tenha essas gravações, já que muitos dos radialistas da época estão vivos, será que o próprio Sérgio Zambiasi não teria esse acervo com ele ou outra pessoa?
Alguem possuí a vinheta da CULTURA POP FM?
ResponderExcluirCULTURA POP,(POP MESMO!)
Lembro da chamada do programa "quadrisom",a partir da 00:00,com a música da banda alemã,passport,com a faixa "ostinato" do disco "infinity machine"...uma maravilha!
"Músicas de quatro em quatro na madrugada".
Bons tempos!!!
Itai insuperável nos anos marcante companheiras de minha adolescência jamais te esquecerei não diga nao o qual participei com êxito duas vezes jamais existirá emissora com apelo tão sentimental como esta ainda presente na memória de quem foi adolescente nos anos dourados de 1960
ResponderExcluir2 músicas do programa "Itaí Dona da Noite": Tomorrow's Love - Jokarilon e Un Bacio Alla Volta - Guido Pistocchi & Orch.
ResponderExcluirA dona da noite tinha como cortina " Mae" e na caiçara confidencial a coryina era tomorow's love com a orquestra de Hugo Montenegro.
ExcluirGostaria de informações do programa da tarde com João Carlos Maciel, creio que foi por volta de 1976... Eu adora ouvir, embora criança. Gostaria de ter algum audio do programa.Saudades da Itaí, hj infelizmente Porto Alegre não tem mais nenhuma emissora popular de verdade, estilo antigo de comunicar com o publico interagindo com os comunicadores ao vivo no ar... Saudades!
ResponderExcluirA entrada era : João Carlos Maciel no ar... E a noite meu tio Ari Siqueira Machado fazia o Itaú a dona da noite.
ExcluirAmado batista maio/junho 1983 na radio Itai; alguém sabe plzzzzzz
ResponderExcluirMeu tio Ari Siqueira Machado foi locutor na Itaú a dona da noite e eu criança ouvia ...
ResponderExcluirEu ouvia a novela " a vida era assim" com a minha mãe , parece que foi ontem lembranças lindas.
ResponderExcluir