A Guaíba acompanha a Missão Apollo
2005
Luiz Artur Ferraretto
Flávio Alcaraz Gomes no Centro Espacial Kennedy, em Cabo
Canaveral (1973)
Fonte: Acervo particular de Flávio Alcaraz Gomes.
O ônibus lotado de jornalistas para próximo de uma casamata.
Dali, saem três homens: Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. Horas
depois, em um foguete Saturno V, eles vão partir em direção à Lua. O inesperado
desvio de rota no transporte até o ponto em Cabo Kennedy, onde vão acompanhar o
início da Missão Apollo XI, surpreende os representantes da imprensa, entre
eles o enviado especial da Rádio Guaíba e da Companhia Jornalística Caldas
Júnior, de Porto Alegre, Flávio Alcaraz Gomes. Como se vissem Cristóvão Colombo
a embarcar nas caravelas para o Novo Mundo ou, se alguém preferir, Leif Erikson
em seu drakkar viking rumo às terras geladas em que a América encontra o
Ártico, cada um dos presentes deixa de lado câmeras cinematográficas, máquinas
de fotografia, gravadores, blocos, canetas... Naquele momento, abandonam a
simples condição de profissionais e se tornam, acima de tudo, seres humanos. E
aplaudem os protagonistas de uma das maiores epopeias da história.
Neste mesmo dia 16 de julho de 1969, ainda carregando esta
emoção, Flávio narra a decolagem da Apollo XI ao microfone da Guaíba, sentindo
no peito a vibração do próprio foguete que conduz a cápsula:
– Faltam agora – Atenção, ouvintes! – um minuto e cinco
segundos para a Apollo decolar. Muita gente, postada aqui na frente, agachada
com medo da explosão. Eu me encontro, precisamente, a três milhas de distância
em linha reta do foguete Saturno. É o lugar máximo permitido para a presença de
homens de rádio, de televisão e de jornal. Há, na verdade, em volta da Apollo,
câmeras de televisão embutidas em casamata que permitirão que os espectadores
de todo o mundo acompanhem a decolagem da nave. Atenção, ouvintes! Faltam 25
segundos, faltam 24 segundos, faltam 23 segundos... Atenção! Começou a subir a
Apollo XI. Chamas a envolvem... É o espetáculo mais emocionante jamais
testemunhado por este repórter. Lá, começa a subir. Lentamente, muito
lentamente, levemente inclinada para a direita. Ouçam o ruído, ouvintes da
Rádio Guaíba...
Dias depois, em 20 de julho, acompanhando a alunissagem pelos
televisores do Centro de Imprensa, ele volta à carga, descrevendo para os
ouvintes da Guaíba, no Sul do Brasil, e da Carve, no Uruguai, o principal
momento do Projeto Apollo:
– Vinte segundos, 19, 18, 17 segundos... Atenção, Brasil!
Atenção, Uruguai! Atenção, Brasil, e atenção, Uruguai! A Apollo XI através da
Águia acabou de pousar na superfície da Lua.
E em seguida:
– Agora sim... Ali o pé dele, o pé direito descendo, muito
mais rapidamente do que na simulação, o pé esquerdo em seguida. Tocou o pé na
Lua. Ali está, ali está a sombra do primeiro homem a desembarcar no solo lunar.
Tomem nota, ouvintes do Brasil. São 23h57 aqui nos Estados Unidos. O comandante
Neil Armstrong está desembarcando no solo da Lua. Outra perna, a esquerda. Ele,
agora, parece que se firmou na superfície lunar. Nós divisamos apenas a sua
silhueta, mas não há dúvida nenhuma: é uma silhueta de um bípede, de um homem,
de um homem como nós, de um representante da espécie humana tomando posse, em
nome da humanidade, da Lua.
Para os ouvintes do Sul, esta última frase vai rivalizar
então com a do próprio Neil Armstrong: “Um pequeno passo para o homem, um
grande passo para a humanidade”. A do astronauta, no entanto, é peça do bem
montado marketing dos Estados Unidos
no contexto da Guerra Fria; a do Flávio, um arroubo, acabaria tornando ainda
mais inesquecível aquela transmissão.
Flávio Alcaraz Gomes na cobertura da Apollo XI (outubro de 1973)
Fonte: FERRARETTO, Luiz Artur.
Itinerários de um repórter. In: GOMES, Flávio Alcaraz. Eu Vi!. Porto Alegre.
Publicato, 2006. DVD.
Ótimo post.
ResponderExcluirAbraço!
Obrigado. Grande abraço.
ExcluirHoje em dia, repórteres formados não se equiparam aos de outrora.
ResponderExcluirHá excelentes repórteres formados e péssimos sem formação universitária. E vice-versa. Uma coisa não elimina a outra.
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