Alegria, a emissora que fez o FM ultrapassar o AM
2014
Luiz Artur Ferraretto
Adesivo distribuído ao ouvintes da Rádio Alegria FM (1992)
Fonte: Acervo particular.
Em 26 de agosto de 1988, Antônio Gilberto Ody compra a
Imigrantes FM. O empresário começa a definir, então, o novo
formato da sua emissora. O objetivo básico é atingir as classes C, D e E,
explorando um segmento de audiência não contemplado pelas estações do Vale do
Rio dos Sinos. Pesquisas realizadas na época apontam a existência de um espaço
para algo novo em frequência modulada, sem definirem, de modo claro, o que isto
significa. Conversando, informalmente, com ouvintes potenciais, Ody constata
que há a necessidade de uma rádio que dialogue com as pessoas, dando respostas
a algumas carências afetivas do público. E começa a explorar a ideia de conversa amiga entre a emissora e o
ouvinte: uma rádio alegre, que
levantasse o astral dos ouvintes, envolvendo-os em um clima de aconchego e
respeito, com recados, momentos de amor, conselhos, mensagens de otimismo e
muita música. O formato da conversa amiga estava definido.
Uma boa dose de intuição – acrescida de dados de realidade –
também vai definir o conteúdo das transmissões, a partir da observação que Ody
faz das reações do público durante os shows que integram a programação da
Sinosfest 88, festa regional que acontece de 14 a 30 de outubro daquele ano
nos pavilhões da Feira Nacional do Calçado (Fenac), em Novo Hamburgo. Estão
lá a MPB e o samba de Jorge Ben Jor, o rock do TNT, o pop do Barão Vermelho, o
regionalismo de Renato Borghetti e o sertanejo de Chitãozinho e Xororó. Anos
depois, Ody vai relembrar:
– Eu já tinha um pressentimento de que o sertanejo iria
acontecer, pois há muito tempo eu tinha assistido a um show do Chitãozinho e
Xororó no Olímpia, em São
Paulo , e notei as pessoas muito contentes. Na Fenac, as
apresentações do TNT tiveram uma média de 2.500 pessoas; as do Jorge Ben Jor,
umas 4.500. E a coisa foi por aí com os outros artistas. Até que, no dia do
show da dupla sertaneja, tinha perto de 45 mil pessoas. E o mais importante é
que, no dia do show da dupla, mudou o comportamento do público. A alegria
passou a ser compartilhada por todos em conjunto. As pessoas estavam felizes, se
abraçando e cantando juntas. Elas sabiam de cor as letras das músicas. Então eu
pensei: É isto aí! Vou tocar música sertaneja.
Assim, às 6h do dia 28 de fevereiro de 1989, nos 92,9 MHz,
entra no ar, rodando Estrada da Vida,
da dupla Milionário e José Rico, a Alegria FM. Amparada no slogan “A rádio do coração”, com sua programação baseada na música
sertaneja e no bate-papo, a emissora vai carrear um novo tipo de público para a
frequência modulada.
Apesar de um certo descrédito por parte das agências de
publicidade – afinal, ainda persiste, na época, uma noção de que o FM é
exclusividade de um público mais elitizado –, a estação pertencente a Antônio
Gilberto Ody passa, em 30 dias, da 13ª para a segunda posição na audiência
geral, atingindo o primeiro lugar já em abril, situação que se consolida ao
longo de todo o ano de 1989. No mês seguinte, a Alegria torna-se a rádio mais
ouvida na Grande Porto Alegre. Assim, ao se voltar para as classes C, D e E, a emissora
reconfigura o perfil do rádio na Região Metropolitana de Porto Alegre, a última
então em que o AM não era vencido pelo FM. A ultrapassagem ocorre em 1991 e,
logo, se consolida.
Vinheta de identificação da Rádio Alegria FM
Fonte: Acervo particular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Em breve, estaremos analisando a sua postagem. Grato pela colaboração.