Radionovelas: a açucarada luta entre o bem e o mal
2008
Luiz Artur Ferraretto
Na virada dos anos 1940 para os 50, em Porto Alegre, o sucesso
de Os Três Homens Maus é tão grande
que mesmo uma oficina mecânica, reduto masculino por excelência, ganha o nome
desta grande atração da Gaúcha. O impacto pode ser medido, então, pelo simples fato
de se tratar de uma radionovela, na época produção muito mais para o público
feminino do que nos dias de hoje. Com Adroaldo Guerra, Cândido Norberto Santos
e Walter Ferreira como os personagens-título, a trama de Raymundo Lopes traz o
sofrimento da mocinha Lindinha, papel de Aida Terezinha, que se apaixona pelo
galã interpretado por Cândido Norberto, nem tão mau assim, no desenrolar dos
capítulos, a justificar o rumo habitual destas estórias: quem representa o mal
ou é castigado ou se arrepende, tudo – claro – com doses significativas de
voltas e reviravoltas, declarações mais ou menos açucaradas e um final feliz. A
fórmula faz de Os Três Homens Maus o
grande sucesso daquele ano de 1948.
A radionovela, no entanto, está destinada a reinar, pelo
menos, até a década de 1960, quando a sua versão com imagens ajuda a roubar
público do rádio, estabelecendo a TV como veículo eletrônico predominante.
Walter Ferreira (1958)
Fonte: Revista TV, Porto Alegre, ano 4, p. 23, mar.
1958.
Ernani Behs (anos 1950)
Fonte: Acervo particular de José Braz de Oliveira.
Paulo Ricardo, Wilson Fragoso e Salimen Júnior (1958)
Fonte: Revista TV, Porto Alegre, ano 4, p. 1,
jun. 1958.
Vão ser produções e produções a marcar o nome de galãs como
Ernani Behs, Walter Ferreira e, mais tarde, Salimen Júnior, Paulo Ricardo e
Wilson Fragoso, ou de suas contrapartes femininas, destacando-se, por anos,
Aida Terezinha, uma das principais atrizes a desempenhar ingênuas e românticas
protagonistas, papel que faz o sucesso também de Lídia Ilzuch. Há, ainda, o
ecletismo de uma Marisa Fernanda, que, com talento, se alterna como mocinha e
vilã, por exemplo como as gêmeas de comportamento antagônico de As Noivas Morrem no Mar, de Ivani
Ribeiro, grande atração da Farroupilha nos anos 1950. Maria Ieda, por sua vez,
interpreta a Isabel Cristina de uma das versões de O Direito de Nascer, do cubano Félix Caignet. Rosa Maria e Zaíra
Acauan consagram-se como dama-galã, uma espécie de mocinha mais velha, função
também desempenhada por Lolita Alves, que atua, ainda, como vilã. A maioria das
produções é de autores do centro do país – Amaral Gurgel, Giuseppe Ghiaroni,
Raymundo Lopes... –, mas alguns gaúchos produzem roteiros de novelas e/ou peças
– Doroty Gallo, Maria de Lourdes Collares Abs, Maria Monteiro Paneraí, Roberto
Lis, Zahyra de Albuquerque Petry... Nestas atrações da programação, a amarrar
os diálogos, trabalham narradores como Enio Rockembach, Ronald Pinto e Euclides
Prado, emprestando, com a voz, conforme as indicações do script e dos diretores, um tom mais épico, emocional ou saudosista.
Zaíra Acauan (1959)
Fonte: Revista TV,
Porto Alegre, ano 4, p. 22, dez. 1959.
Marisa Fernanda (1956)
Fonte: Revista TV, Porto Alegre, ano 2, p. 13,
fev. 1956.
No Rio Grande do Sul, as novelas, no entanto, começam mesmo,
anos antes, em 1943, graças ao pioneirismo de Roberto Lis, que produz, na
Difusora Porto-alegrense, para o Folhetim
Sonoro da PRF-9, das noites de domingo, uma estória em capítulos – O Solar dos Alvarengas –, abordando a
decadência de uma aristocrática família. Um pouco depois, no mesmo ano, a
Farroupilha coloca no ar os capítulos gravados de Em Busca da Felicidade, do cubano Leandro Blanco, na adaptação de
Gilberto Martins, irradiada, antes, pela Nacional, do Rio de Janeiro, e a
primeira atração deste tipo no rádio brasileiro.
É a partir do trabalho de Cândido Norberto, diretor artístico
da Gaúcha, que a novela começa a ampliar o seu espaço na programação
radiofônica no Rio Grande do Sul, com a transmissão de capítulos tornando-se,
por iniciativa deste profissional, diária. É como uma trama de segunda a sexta
que a estória dos três homens maus interpretados por Adroaldo, Cândido e Walter
vai cativar a atenção dos ouvintes naquele final de década há 60 anos.
Reportagem magnífica. Amo saber coisas do passado. Fui muito apaixonada por radionovelas. Elas me encantavam. Eu ficava imaginando as cenas que passavam. Tenho muitas saudades da época entre 1960 até a decadência das radionovelas. Que pena!
ResponderExcluirMuito obrigado, Vali. Nosso objetivo é mesmo este: fazer com que as pessoas relembrem o passado, valorizando os profissionais do rádio do Rio Grande do Sul.
ExcluirParabéns!E adorava as novelas de rádio.achava um espetáculo fantástico para a nossa imaginação.muita criatividade na sonoplastia.
ExcluirQue saudade!
Participei dessa época que hoje me dá saudade de nomes como Maria Ieda, Lourdes Helena, Marco Aurélio, Jairo Nogueira, Antônio Diniz, Wilson Fragoso, Darci Fagundes, Belota Aguiar, e tantos e tantos outros...Que saudades. (Paulo Martins)
ExcluirAo pé do rádio eu e minhs mãe ouviamos todas as novelas. Sou de '44 portanto um ouvinte saudoso daquela época tão romântica.
ExcluirDepois por ironia do destino a Xaira Acauan passa a ser a minha professora de matemática bo Julinho. Ela lecionava no científico. Graças a ela passei no vestibular de Economia em décimo segundo lugar.
Nao quando ela morreu.
Há anos venho tentando saber alguma notícia sobre a querida Zaíra Acauan. Ela foi minha Professora de Matemática no "Julinho" em 1960. Uma pessoa muito carismática e competente. Essa foto acima é a minha única recordação dela. Luiz Artur Ferraretto não teria alguma informação sobre ela?
ResponderExcluirAyrton, infelizmente, não tenho tais informações.
ExcluirEla foi patroa da minha mãe
ExcluirBravo...excelente reconhecimento de uma época gloriosa de nosso Estado..tenho fotos do Ernani Behs se precisar ok...abs
ResponderExcluirObrigado. Grande abraço.
ExcluirEsta realmente foi uma epoca magica. No inicio dos anos 70 ainda se produziam novelas no RS
ResponderExcluirConcordo plenamente. Sobre novelas, o Cláudio Monteiro produziu até os anos 1980 na 1.120 AM, da RBS.
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