Programa Maurício
Sobrinho, um auditório na pré-história da RBS
2008
Luiz Artur Ferraretto
Caricatura de Maurício Sobrinho (final dos anos 50)
Produzida por Renato Canini para a Revista TV, publicação especializada que circulou , no Rio Grande
do Sul, de novembro de 1954 a novembro de 1960.
Fonte: Acervo particular de José Braz de Oliveira.
Às 14h do sábado, dia 9 de junho de 1956, torna-se realidade
“o big lançamento da PRH-2” , como não cansa de registrar,
há semanas, o jornal Diário de Notícias,
aproveitando-se de uma gíria da época. É a estreia do Programa Maurício Sobrinho. Para a principal aposta da Rádio
Farroupilha daquele ano, o diretor artístico da emissora, Ruy Rezende, escala
brincadeiras, concursos de prêmios, números humorísticos e traz Sivuca, “o
diabo loiro do acordeom”, e Léo Romano, que faz sucesso, então, cantando Os Pobres de Paris, versão em português
de La Goulante du Pauvre Jean, de
Marguerite Monnot e René Rouzaud, originalmente gravada por Edith Piaf.
Rapidamente, nos dias anteriores, as entradas, vendidas a Cr$ 5,00 (cinco
cruzeiros, a moeda da época) nas lojas Rainha das Noivas e Norma, esgotam-se,
garantindo grandes filas em frente ao cinema desde o final da manhã e
reprisando um grande sucesso de 1955 comandado também pelo radialista Maurício
Sobrinho.
Na primeira metade da década, para promover o refrigerante
Coca-Cola, o Departamento de Rádio da agência de publicidade McCann-Erickson
havia criado aquele que iria se tornar, no caso específico do Rio Grande do
Sul, o primeiro grande programa de auditório a contar a cada edição com pelo
menos um cartaz de renome da música brasileira. Ao longo do ano anterior, pelo
mesmo palco do Cinema Castelo, onde Maurício Sobrinho – ou, por vezes, Ary Rêgo
– tinha apresentado, nas tardes de sábado da Farroupilha, a versão gaúcha do Tômbola Musical, passaram artistas como
Ângela Maria, Cauby Peixoto, Dircinha Batista e Emilinha Borba. Um dos
principais momentos foi quando quatro mil pessoas superlotaram as dependências
do cinema para ver e ouvir a cantora Emilinha Borba. Em sua estada em Porto
Alegre, a rainha do rádio de 1953 cantou ao microfone da Farroupilha
acompanhando a orquestra da Nacional, cujo som chegava do Rio de Janeiro, por
linha telefônica, com as duas emissoras em cadeia no mesmo momento em que, na
capital federal, acontecia o Programa César de Alencar, então a principal
atração de auditório do país.
Com o fim do Tômbola
Musical, a direção da Farroupilha decidiu apostar em uma atração de fórmula
e horário semelhantes, aproveitando o animador que havia se destacado na
condução do programa: Maurício Sobrinho, que, na época, omite o Sirotsky do
sobrenome, ele mesmo que, nas décadas seguintes, vai comandar a estruturação do
maior complexo de mídia do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina: a Rede Brasil
Sul de Comunicação. Ao longo dos 12 meses que se seguem à estreia do Programa Maurício Sobrinho, parcela
significativa do impacto obtido pela nova atração da Farroupilha provém da sua
extrema capacidade em desenvolver uma forte empatia com o público. Sempre
sorridente e seguindo o figurino da época – terno, gravata com prendedor,
bigode bem cuidado e cabelo penteado para trás com generosa dose de brilhantina
–, o animador demonstra, então, desenvoltura suficiente para ser tratado, em
publicações especializadas, como “o papa dos auditórios”.
De início, o programa das tardes de sábado da PRH-2 traz
artistas de médio porte, mas ganha audiência crescente, consolidando o
investimento de anunciantes a garantir “duas horas ininterruptas de atrações”,
como registra eufórico o Diário de
Notícias. Nas primeiras semanas, entre os patrocinadores já estão as Lojas
Rimpo, “o famoso palácio encantado da avenida Otávio Rocha”; a Refrigerantes
Sul-rio-grandense Ltda., fabricante, entre outros, de Pepsi-Cola; a Walgás, do
“gás que mais faz”; e os Produtos Polar, da cerveja e do guaraná de mesmo nome.
Assim, quando chega o aniversário de um ano, marcando também o fim do Programa Maurício Sobrinho em sua fase
na Farroupilha, são inúmeros os cartazes de primeira linha do rádio brasileiro
previstos e diversas as promoções. Antecedendo em algumas semanas a festa, em 8
de junho de 1957, os ouvintes acompanham, ao vivo, o bolero do Trio Los
Panchos, de renome internacional. No dia 22, ponto alto das comemorações,
quatro radiopatrulhas e um contingente significativo da Guarda Civil têm
dificuldade para conter o público em frente ao Auditório Associado, palco da
programação especial em que o animador despede-se da PRH-2. Grandes filas
formam-se ao longo da rua Siqueira Campos para assistir Ângela Maria e Marlene,
do Rio de Janeiro, e Germano Mathias e Salomé Parísio, de São Paulo, além de
diversas outras atrações, incluindo artistas das rádios Gaúcha e Itaí. Fatias
de um bolo de 600 kg
e miniaturas de Champanhe Michelon, com o nome do programa no rótulo, são
distribuídas ao público, que, ao final, é comunicado da saída de Maurício
Sobrinho, substituído, a partir de então, por José Salimen Júnior e o Vesperal Farroupilha. O fim do programa
não significa, no entanto, uma derrota. Sirotsky sai da PRH-2 como radialista e
se transfere para a PRC-2 – Rádio Gaúcha, como um dos sócios no processo de
aquisição da emissora por Arnaldo Ballvé.
Maurício Sobrinho e Salomé Parísio (22 de junho de 1957)
Fonte: SCLIAR, Moacyr. Maurício:
a trajetória, o cenário histórico, a dimensão humana de um pioneiro da
comunicação no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 1991. p. 43.
Ouvintes fazem fila para assistir o Programa Maurício Sobrinho (22 de
junho de 1957)
Fonte: Revista TV,
Porto Alegre, ano 3, p. 10, ago. 1957.
Na nova estação, Maurício Sobrinho vai colocar, ainda, o seu
cacife como animador em um ou outro programa, como Grandes Espetáculos Dominicais, das 10 às 12h, e Calouros Anil Ideal, das 18h30 às 19h30,
ambos aos domingos. De fato, até o início dos anos 1960, a passagem do
radialista por este tipo de atração reveste-se de um caráter episódico,
servindo para lançar um determinado horário, com outro profissional logo
assumindo a condução. Mesmo assim, o nome do animador é suficiente para que, em
março de 1960, quando começam a circular informações sobre o retorno do Programa Maurício Sobrinho, a imprensa
especializada registre a notícia como “a grande nova” do ano no rádio do Rio Grande
do Sul. A reestreia acontece no domingo, dia 1° de maio, às 10h, com as
apresentações artísticas estendendo-se até o meio-dia no palco do Cinema
Castelo. À época, uma vinheta cantada introduz o animador, brincando com um dos
seus traços fisionômicos e marcando a abertura do programa:
– A Gaúcha apresenta/ o programa que arrebenta/ pelos risos,
emoções,/ humorismo e sensações/ comandado pelo Big Nariz/ para fazer você
feliz./ Novamente, é domingo/ e um elenco inteirinho./ É pra você/ e seu
vizinho,/ o programa,/ o Programa Maurício Sobrinho...
E, mal deixando a música terminar, sobrepõe-se a voz
inconfundível do animador:
– Alô, amigos do Rio Grande do Sul e do Brasil. Um bom dia
para todos e uma vez mais aqui estamos para o nosso encontro de todas as
semanas. Que corra tudo bem com vocês e vamos logo com as nossas atrações deste
domingo.
Aos poucos, no entanto, de uma participação minoritária,
Sirotsky ganha espaço como administrador. De fato, de início assume também a
direção da Gaúcha, trocando, logo depois e em definitivo, o microfone dos
auditórios pelas mesas de reunião dos empresários e, aos poucos, vai
constituindo a RBS, um império multimídia hoje, 50 anos após aquela tarde de
sábado de parar o trânsito em frente ao Cinema Castelo.
Maurício Sirotsky Sobrinho revive o Programa Maurício Sobrinho (1977)
Entrevista realizada por José Antônio Daudt para o programa Opinião Pública, da Rádio Difusora
Porto-alegrense, transmitido em 26 de setembro de 1977.
Fonte: Acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.
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