Paixão Côrtes, gauchismo no rádio
2005
Luiz Artur Ferraretto
Paixão Côrtes (2005)
Fotografia: Airton Gomes e Leonardo Kerkhoven
Fonte: Acervo particular.
Madrugada alta e o folclorista João Carlos D’Ávila Paixão
Côrtes não consegue dormir. Como faz sempre quando isto acontece, liga o rádio
na Guaíba FM, caracterizada pelas orquestrações a lembrar big bands do passado. E baila. Dança de novo, como nos tempos de
estudante do Colégio Júlio de Castilhos, do primeiro Centro de Tradições
Gaúchas, que ajudou a fundar, e até dos cabarés franceses, onde dançou ritmos
típicos do Sul do Brasil ou melodias da moda, muito semelhantes a estas que o
programador Fernando Veronezi segue incluindo na emissora do Sistema
Guaíba-Correio do Povo, de Porto Alegre.
Quando se aproxima mais um 20 de Setembro, data do início
dos combates da Revolução Farroupilha, há que lembrar de Paixão Côrtes,
responsável maior por todo este sentimento de gauchismo, que hoje ultrapassa
fronteiras e faz haver CTGs até no Japão. Neste início de século, Paixão segue
uma relação muito estreita com o rádio. Uma vez por semana dá aulas de cultura
na Guaíba AM, participando do Flávio
Alcaraz Gomes Repórter. Aliás, foi o Flávio o responsável pela volta do
folclorista ao microfone no final dos anos 1960:
– Foi mais uma das loucuras do Flávio. Nós nos encontramos
na Europa e ele me convidou para fazer um programa na Guaíba. Eu recusei. Só
que ele voltou antes e quando eu cheguei a Porto Alegre – morava ainda com
minha mãe – ela já foi me dando os parabéns. Achei que pelo trabalho realizado
na viagem para a Secretaria Estadual da Agricultura, mas era por ter ganhado um
programa na rádio. Fazia semanas que o Flávio colocara um anúncio no ar sobre o
programa. Aí acabei fazendo e ficando até o início dos anos 1980.
Deste modo, em 1968, a convite de Flávio Alcaraz Gomes, então
diretor comercial da Rádio Guaíba, o folclorista passa a apresentar Querência, de segunda a sexta, um
programete de dez minutos com músicas regionalistas, e Domingo com Paixão Côrtes, abordando temas do tradicionalismo ao
longo de seus 30 minutos de duração.
Bem antes, no entanto, em meados da década de 1950, o
folclorista foi figura soberana no auditório da Farroupilha. Assim, às 20h de
cada domingo, os ouvintes e o público presente nas instalações dos Diários e
Emissoras Associados no centro de Porto Alegre acostumam-se a escutar o anúncio
do locutor da então PRH-8:
– E para comandar este programa aqui estão: Paixão Côrtes, o
tropeiro da tradição, e seu peão amigo Darcy Fagundes.
É o Grande Rodeio
Coringa, ideia do paulista Otávio Augusto Vampré levada a cabo por Paixão
Côrtes a partir do domingo, dia 1º de maio de 1955, quando o regionalismo
radiofônico ganha a espontaneidade dos auditórios, fator determinante para a
popularização de intérpretes, instrumentistas e compositores. Antes, Paixão já
fazia a Festa de Galpão na mesma
emissora, mas sem a espontaneidade dos auditórios. O Grande Rodeio vai catalisar atenções para o regionalismo, como
relembra o seu primeiro apresentador:
– Eu convidei o Darcy Fagundes, que era um excelente
radioator, meu conhecido, meu amigo lá de Uruguaiana, e nós, os dois, formamos
uma dupla e se lançou, realmente, o Grande
Rodeio Coringa, que reformulou toda a história da fonografia rio-grandense,
na comunicação dos temas regionais mais singelos, mais puros, dançando,
cantando, se apresentando as invernadas artísticas e abrindo um caminho para os
grandes cantores populares, os grandes intérpretes, os grandes músicos, que até
então não tinham oportunidade porque ninguém lhes oferecia ao vivo. Sempre era
fechado. Então, o rádio foi o grande catalisador deste importante momento para
a cultura popular rio-grandense, pois aproximou músicos, instrumentistas,
cantores, letristas, poetas e, ao mesmo tempo, ofereceu a grande manifestação coletiva
que a dança oportunizou.
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