O Repórter Esso e
a Guerra Fria
2005
Luiz Artur Ferraretto
Detalhe de cartaz da campanha do Petróleo é Nosso (1952)
Fonte: Memória Petrobras.
Em 1950, já com um texto limpo e direto, a versão gaúcha do Repórter Esso ganha seu mais duradouro
locutor. Em 1º de junho de 1950, depois de uma rigorosa seleção realizada quase
dois meses antes, o posto de titular do noticiário, uma honraria significativa
na época, passa a ser ocupado pelo santa-cruzense Lauro Hagemann, até então
funcionário da Rádio Progresso, de Novo Hamburgo. Gravados em discos de acetato,
os testes dos 18 inscritos para a vaga haviam sido enviados para o Rio de
Janeiro, onde representantes da Standard Oil Company of Brazil, patrocinadora
do programa, e da McCann-Erickson, agência detentora da conta publicitária da
companhia petrolífera, analisaram detidamente o padrão vocal de cada candidato.
Assim, a partir do início dos anos 1950, o público acompanha pela Farroupilha,
quatro vezes por dia, de segunda a sábado – às 8h, 13h, 19h25 e 22h30 –, e
duas, aos domingos – às 13h e 19h25 –, o locutor do horário anunciar:
– Alô, alô, Repórter
Esso! Alô...
Para, em seguida, a voz clara e vibrante de Hagemann
complementar:
– Prezado ouvinte, bom dia. Aqui fala o Repórter Esso, testemunha ocular da história, apresentando as
últimas notícias da UPI.
Ou então:
– Prezado ouvinte, bom dia. Aqui fala o Repórter Esso, porta-voz radiofônico dos Revendedores Esso, apresentando
as últimas notícias da UPI.
No contexto da Guerra Fria, opondo o bloco capitalista e o
comunista, o Repórter Esso segue
subordinado aos interesses ianques. Hagemann, no entanto, por contraditório que
possa parecer, constitui-se em um dos mais ativos e corretos militantes
marxistas do Rio Grande do Sul e, por seu profissionalismo, torna-se uma
espécie de esteio ético de radialistas e jornalistas, dirigindo entidades
sindicais e lutando pelos direitos dos trabalhadores. Por exemplo, em 1952,
enquanto o noticiário ignora sistematicamente a Campanha do Petróleo é Nosso,
ele participa de comícios e mobilizações que embasam o surgimento da Petrobras.
O ex-locutor recorda, também, o furor manifestado através do Esso contra a nacionalização, um ano
depois, das refinarias de petróleo estrangeiras no Irã do primeiro-ministro
Muhammad Mussadeq. A respeito, Hagemann define bem esta oposição entre a
técnica e o conteúdo: “Eles tinham um rigor no texto, mas, na informação, havia
um controle ideológico muito sutil”.
Em Porto Alegre, a trajetória do Repórter Esso na Farroupilha estende-se até 31 de dezembro de 1964.
No dia 15 de setembro do ano seguinte, o noticiário retorna na Continental,
que, tempos antes, havia passado ao controle das Organizações Globo. A exemplo
do que ocorrera no início dos anos 1950, um concurso é realizado, escolhendo,
entre os 15 candidatos inscritos, Marino Cunha como o novo locutor exclusivo do
Esso. O impacto do noticiário,
entretanto, é mínimo. De fato, desde 1957, o Correspondente Renner, da Guaíba, vinha fazendo frente ao
informativo da UPI e já passara a ocupar o lugar deste no gosto do público. No
plano ideológico, com certa ironia, o principal locutor do Esso no Rio Grande do Sul, Lauro Hagemann, vai definir bem o fim da
versão gaúcha: “Com a chegada dos militares ao poder em 1964, o Esso, de certo modo, atingiu seu
objetivo e perdeu a sua importância”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Em breve, estaremos analisando a sua postagem. Grato pela colaboração.