O papel da Gaúcha nos 50 anos da RBS
2007
Luiz Artur Ferraretto
Passa pouco das nove e meia da noite deste 3 de julho de 1957,
em que os novos proprietários da Rádio Gaúcha comunicam ao microfone da PRC-2 a sua integração às Emissoras
Reunidas. Arnaldo Ballvé e Maurício Sobrinho anunciam, para breve, a formação
da primeira grande cadeia fixa do Rio Grande do Sul, o que, de fato, não vai se
efetivar. O grupo, com uma dezena de estações no interior, vai sempre operar
com suas rádios atuando de forma independente. O anúncio, no entanto, está na
origem de outra rede, rede como grupo empresarial, o principal dos estados do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Naquela fala quase singela, começa a nascer
a Rede Brasil Sul de Comunicação.
No entanto, a valer a pesquisa de audiência realizada pelo
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, de dezembro de 1957 a fevereiro de 1958, os
esforços iniciais da Gaúcha não obtêm os resultados esperados. O levantamento
do Ibope coloca a emissora em terceiro lugar na capital. Em Cachoeira do Sul,
Pelotas e Santa Maria, a PRC-2 praticamente não é sintonizada. Deste modo, ao
longo de 1958, a
Gaúcha procura reagir. Maurício traz de volta a Porto Alegre Walter Ferreira,
que estava na Nacional, do Rio de Janeiro. Das outras emissoras, vai tirando
alguns dos principais profissionais do rádio do Rio Grande do Sul. Da
Farroupilha, a mais atingida, vêm, entre outros, o galã Paulo Ricardo, a
radioatriz Lolita Alves, os músicos de Primo e seu Conjunto Melódico, o
sonoplasta Pedro Amaro, o radioator humorístico Fábio Silveira (conhecido como
J. Bronquinha), o regionalista Dimas Costa e a cantora Elis Regina Costa. Das
outras estações, contrata, por exemplo, José D’Elia, repórter e locutor da
Difusora; Adroaldo Streck, repórter esportivo da Guaíba; e Adroaldo Guerra, animador,
ator e diretor de radioteatro da Itaí. Em outra frente, reestrutura o
Departamento de Notícias sob a chefia de João Aveline, que, pela primeira vez
no rádio do estado, valoriza o papel do jornalista, colocando repórteres e
redatores – e não profissionais de microfone – na captação e processamento das
informações.
Em meio a esta fase de investimentos crescentes, morre, no
dia 12 de junho de 1958, aos 62 anos, Arnaldo Ballvé, que é imediatamente
substituído pelo filho. Mesmo com Frederico Arnaldo Ballvé no controle
acionário da empresa, continua cabendo a Maurício Sobrinho o comando da
programação da Gaúcha. A emissora inaugura, no mês de novembro, seus
transmissores com 10 kW, promovendo a presença da Miss Brasil daquele ano, Adalgisa
Colombo, em um grande espetáculo no Theatro São Pedro. Junto com a nova planta
no bairro Sarandi, a PRC-2 comemora as contratações do ano em um anúncio
publicado na mesma época na Revista do
Globo com o mote “Tudo novo na nova Rádio Gaúcha”, também insistentemente
repetido ao microfone.
Anúncio da Rádio Gaúcha (dezembro de 1958)
Fonte: Revista do Globo,
Porto Alegre, ano 29, n. 731, p. 1, 13 dez. 1958.
Com “novos transmissores de 10 kW em ondas médias e curtas,
mais potentes e superaperfeiçoados”, “novo som de alta fidelidade conseguido
com os mais modernos equipamentos Philips”, “novas atrações que colocam em
plano de destaque a programação da emissora” e um “novo elenco reunindo os mais
aplaudidos cartazes do rádio gaúcho”, como diz o texto publicitário, a Gaúcha
parece mesmo estar “melhor do que nunca”. Assim, em meados do ano seguinte,
quando são anunciados os Melhores do Rádio 1958 da Revista TV, a PRC-2 pode comemorar uma vitória sobre a
concorrência: 18 dos indicados pela imprensa especializada são da estação localizada
no Edifício União, vários deles contratações recentes ou profissionais antigos
valorizados pela nova direção da empresa. O prêmio principal faz justiça aos
esforços de Maurício, eleito o radialista do ano.
No final de 1959,
a Farroupilha esboça uma reação, contratando alguns
profissionais como Karl Faust e parte da orquestra da Gaúcha, também
aproveitados na recém-inaugurada TV Piratini. Já as negociações com Carlos
Nobre, Fábio Silveira e Sady Nunes fracassam. No entanto, uma pesquisa de
audiência realizada em 1960 vai demonstrar a decadência da emissora dos
Associados, que aparece em segundo lugar apesar de, na prática, os dados
apontarem um empate técnico. No total, a Gaúcha tem 6,9%; a Farroupilha, 6,6%;
e a Guaíba, 5,3%. Aos domingos, a PRH-2 registra o seu pior desempenho, caindo
para o terceiro lugar, entre 9 e 13h, em função do Programa Maurício Sobrinho, que, em 1° de maio, reestreara na
PRC-2. À tarde, a estação da Caldas Júnior lidera, indicando que as suas
transmissões esportivas consolidam-se na preferência dos ouvintes. Embora com
pequenas diferenças na sua metodologia, as duas pesquisas realizadas pelo
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, nas primeiras quinzenas
de janeiro e de junho de 1961, demonstram que a situação de leve liderança da
Gaúcha não se altera.
O gradativo declínio dos Diários e Emissoras Associados e,
consequentemente, da antes poderosa Farroupilha vai permitir que, em meio à
crise gerada pelo surgimento da televisão, a Gaúcha lidere o mercado local em meados
da década, um pouco antes da reformulação da Itaí, responsável, a partir de
então, por um dos principais fenômenos de público dos anos 1960 e 70 no rádio
do Rio Grande do Sul. Em fevereiro de 1965, chega a ter 27,3%, contra 18% da
Farroupilha, entre os receptores ligados. Décadas mais tarde, já com a Rede
Brasil Sul consolidada e liderando em televisão e jornal o mercado do Rio
Grande do Sul, a Gaúcha, optando pelo radiojornalismo pleno, voltaria a se
destacar, não por acaso sendo identificada como “emissora líder do Sistema RBS
Rádio”, afinal nela está também a origem do grupo.
Excelente pesquisa. Sou sobrinho-neto da saudosa radioatriz Lolita Alves!
ResponderExcluirMurilo, agradecemos o elogio. Nosso objetivo é este mesmo: lembrar e valorizar os protagonistas da história do rádio no Rio Grande do Sul.
ExcluirSou filha do Pedro Silva Radialista procuro alguma fotografia dele trabalhando na rádio neste período qualquer memória me deixaria muito feliz !!
ResponderExcluirInfelizmente, Patricia, não temos esse material.
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