Glênio Reis, o primeiro disc-jóquei do Rio Grande do Sul
2005
Luiz Artur Ferraretto
Orlando Silva e Glênio Reis
Fonte: Acervo particular de Glênio Reis.
Em 1958, na PRF-9 – Rádio Difusora Porto-alegrense, Glênio
Reis inicia o ciclo dos comunicadores no rádio do Rio Grande do Sul, trazendo
para dentro do estúdio o estilo de animação, na época, exclusivo dos programas
de auditório. Loquaz e demonstrando uma descontração contagiante, o primeiro
disc-jóquei do estado conduz o Falando de
Discos, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 11h30, como se estivesse em um
palco, levando ao microfone também seus conhecimentos de aficcionado:
Eu sempre me diferenciei dos outros, porque sempre fui um animador, nunca um apresentador. O apresentador, sim, é do estilo sóbrio. Anuncia as pessoas com elegância, com sobriedade. Eu, não. Eu não tinha, eu era uma pessoa que procurava divertir os outros, entretendo as pessoas e me comunicando com elas, rodando o artista e fazendo comentários sobre o disco, porque eu andava muito em contato com os cantores e eu sabia tudo, tudo, tudo do cantor.
Glênio Reis chama tanto a atenção do público que os ouvintes
passam a frequentar o estúdio da Difusora, quase como se fosse um minúsculo
auditório. Quando o número de pessoas ao seu redor é significativo, a
irreverência do disc-jóquei permite a ele organizar uma espécie de coral
improvisado a acompanhar, cantando, as músicas transmitidas. O sucesso desde
novo jeito de fazer rádio permite que o animador amplie sua atuação na PRF-9.
Explorando o horário das 18h, nas segundas, quartas e sextas-feiras, encarna
também o Sherlock do Disco:
Era aquela figura misteriosa, que andava sempre à procura de novidades, com seu cachimbo... Eu fazia uma coisa misteriosa. Tinha uma porta que abria – Creaaaccckkk!!! –, eu entrava e falava com o locutor do horário, que era o meu querido amigo, o doutor Watson. E eu dizia [fazendo a voz]: “Eu dei uma chegadinha na Odeon e sabe o que eu descobri, meu querido doutor Watson?”. E ele: “Não”. “Eu descobri...” Ficava aquela coisa misteriosa e, então, eu tocava os discos. Depois, fazia o mesmo com os das outras gravadoras. Assim, eu desenvolvia um programa bem mais criativo.
O disc-jóquei apresenta, ainda, na mesma época, o Você Faz o Sucesso, atendendo pedidos
musicais. De todos os três, no entanto, é o Falando
de Discos o programa que atrai mais a atenção não só do público, mas também
do meio artístico. Esta empatia permite ao disc-jóquei entrevistar ao microfone
da Difusora cantores e compositores de grande sucesso no país. Logo de início,
por exemplo, convence Agostinho dos Santos, atração da PRH-2 no sábado à tarde,
no Vesperal Farroupilha, de Salimen
Júnior, a comparecer ao estúdio da PRF-9 na segunda-feira pela manhã, com os
ouvintes congestionando os telefones e o acesso ao quarto andar do Edifício Comendador
Azevedo, onde a rádio funciona. Em outra ocasião – quase um feito na época –,
entrevista Orlando Silva, intérprete conhecido por sua aversão aos jornalistas.
Nestes programas, Glênio Reis, seguindo a tendência da época
de oferecer um conteúdo diversificado, não inclui apenas um tipo específico de
música:
Naquele tempo, o que prevalecia era a boa música. Então, a gente tocava música francesa, música alemã, música norte-americana... Tocava muito tango também. Jazz se tocava. Tudo que era bom, tudo que tinha qualidade pertencia ao rádio.
Em 1959, Glênio Reis transfere-se para a Farroupilha, como
chefe da discoteca e programador musical, com o Falando de Discos passando a ser transmitido às 14h. É, então,
conforme a Revista TV, “o radialista
que recebe mais correspondência no rádio gaúcho”. Nos finais das tardes de
domingo, anima, direto da discoteca da PRH-2, o Rádio Baile Mesbla, tipo de atração que faz sucesso em uma época de
pouca disseminação de eletrolas, com os ouvintes ligando ou escrevendo para
pedir músicas e dançar em casa, nas reuniões familiares ou com amigos e
vizinhos.
Ganha, ainda, um programete na televisão – Disque é Jóquei –, que apresenta a
caráter: vestido como se fosse participar de uma prova turfística, montado de
costas em um cavalo magro, quase esquelético. Quem assiste à TV Piratini, na
época, começa a ter a sua atenção despertada para aquela figura muito diferente
da de outros animadores.
Em 1965, o disc-jóquei é contratado pela Gaúcha, emissora na
qual vai ajudar a quebrar um tabu da época. Até então, nos feriados religiosos,
as rádios tocavam apenas peças eruditas, uma espécie de sinal de respeito em
relação ao calendário da Igreja Católica. Gradativamente, nestas datas, vai
introduzindo orquestrações de música popular nacional e estrangeira. Na virada
para a década de 1970, apresenta, ainda, à meia-noite, o Programa da Pesada, com o slogan
“Este é um programa sem preconceito, onde a mediocridade não tem vez”, tocando,
por exemplo, músicas de grupos de rock como Led Zeppelin e Steppenwolf ou do
guitarrista Jimi Hendrix, além de servir de referência para toda uma nova
geração de comunicadores.
Dissertando sobre os diversos estilos musicais, sempre com a
mesma precisão, Glênio chega ao século 21 apresentando, nas noites de sábado, o
programa Sem Fronteiras, na Gaúcha.
Glênio Reis
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 4 de junho
de 2003.
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