As emissoras de menor porte da capital gaúcha
2013
Luiz Artur Ferraretto
O dial de Porto Alegre (1960)
Fonte: Revista TV,
Porto Alegre, ano 6, p. 14, set. 1960.
Indícios do esgotamento da
proposta de um rádio calcado no espetáculo e voltado ao público em geral, sem
distinção entre os ouvintes, começam a ser notados em especial na segunda
metade dos anos 1950. As suas marcas são mais evidentes ao se analisar as
pequenas estações surgidas na capital gaúcha ao longo da década. Na Porto
Alegre algo provinciana, mesmo um grande grupo como os Diários e Emissoras
Associados, de Assis Chateaubriand, tem dificuldade em operar duas rádios –
Farroupilha e Difusora. Público e anunciantes convergem para o entretenimento
das radionovelas, dos humorísticos e dos programas de auditório da PRH-2,
sobrando para a PRF-9, apesar de algumas incursões para esse lado, apostar ora
no esporte, ora na música gravada. É nas brechas deixadas por rádios como a
Farroupilha, a Gaúcha e, mais tarde, a Guaíba que as pequenas estações vão
atuar, destacando-se, neste processo, três delas, todas com concessão e
transmissores em cidades dos arredores de Porto Alegre, mas com estúdios
instalados na capital.
No sábado, dia 8 de março
de 1952, o ex-corretor de anúncios da Gaúcha Marino Esperança inaugura a ZYU-33
– Rádio Itaí, com transmissores no município de Guaíba, local da concessão
outorgada pelo governo, mas com o estúdio instalado no prédio do Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, próximo da avenida Borges de
Medeiros, no centro de Porto Alegre. Ao contrário de suas antecessoras, a
quarta emissora a operar na capital não chega anunciando mudanças
significativas na radiofonia local. Surge quase como uma coadjuvante em um
mercado de razoável a bom para quem tem condições de contratar os principais
artistas locais ou de trazer os grandes nomes do rádio e da indústria
fonográfica do centro do país.
Neste contexto, a Itaí passa por várias reestruturações
administrativas, até se estabilizar em uma posição confortável em termos de
audiência, o que ocorre somente após a decadência do espetáculo radiofônico. De
início, é controlada por João Valente Bastos, Marino Esperança, Venâncio Loss
Netto e Júlio Lopes do Santos Sobrinho. Em 1955, entram no negócio dois
ex-diretores da Rádio Gaúcha, Ulysses
Sabatine Moreira e Harry Herbert Klein. A eles, juntam-se, quatro anos
depois, Breno Martins Futuro – como
Klein, genro de Arthur Pizzoli e ex-diretor da PRC-2 – e Waldemar Kuplich,
ligado ao comércio bancário. Até 1962, o controle acionário – 75% – ainda
permanece com Venâncio Loss Netto, que, então, vende a sua parte para Kuplich,
Futuro e Moreira, ficando os sócios originais com pequenas cotas. Mais tarde,
em uma negociação várias vezes contestada na justiça, assumirá Lorenzo
Gabellini, responsável pela emissora constituir-se em um fenômeno de público de
meados dos anos 60 até a virada para a década de 1980.
Antes de Gabellini, a Itaí alterna bons e maus momentos na
tentativa de fazer frente às grandes emissoras. Não tem fôlego, no entanto,
para concorrer em termos de conteúdo com a Farroupilha ou a Gaúcha. De fato, a
emissora dá certo quando explora aquilo que é deixado de lado pelas rádios de
maior porte. Os exemplos a seguir caracterizam bem esta realidade.
Até o final da década de 1950, por iniciativa de Rui Valandro
e sob a coordenação de Manoel Augusto Godoy de Bezerra, a Itaí aposta na
cobertura esportiva e na transmissão de jogos de futebol, chegando a contar com
profissionais como Antônio Carlos Rezende, Rafael Merolillo e Celestino
Valenzuela. Vai, entretanto, destacar-se com uma iniciativa distante daquilo a
que, habitualmente, as outras emissoras dedicam-se. Em 1956, estreia Turfe e Boa Música, que notabiliza Luiz
Carlos Vergara Marques. A fórmula aparentemente simples – transmissão dos
páreos associada a noticiário especializado e canções – vai ficar no ar por 17
anos na ZYU-33.
Em 15 de
agosto de 1956, a
emissora troca de posição no dial, passando dos 1.390 para os 880 kHz. Marcando
a mudança, traz a cantora Ângela Maria para duas apresentações. Em paralelo,
ninguém chega a se firmar na direção artística da rádio, cargo de relativa
rotatividade pelo qual passam, entre outros, Rubens Wagner (meados da década de
1950), Rubens Alcântara (1956), Adroaldo Guerra (1957-1958) e Cláudio Real
(início dos anos 1960).
Em 1959, devido a sérias dificuldades financeiras, os salários
dos funcionários atrasam. Mesmo assim, a emissora, já transmitindo com 10 kW,
aproveita os novos equipamentos recém-instalados e começa, então, a se voltar
para a música gravada. Mantém, ao vivo, no início da manhã, programas de música
caipira e campeira. Explora, ainda, o potencial do radialista Silva Filho,
ganhador na categoria animador de estúdio do Melhores do Rádio 1957, promoção
da Revista TV. É ele que apresenta
programas como Week-end de Atrações, em 1957, aos sábados, das 20 às
22h, ou, no ano seguinte, os românticos e vespertinos Café da Tarde e Clube
dos Namorados.
Anúncio da Rádio Itaí (1960)
Fonte: Revista do Globo, Porto Alegre, ano 31, n. 759,
p. 10, 9-22 jan. 1960.
Breno Martins Futuro
Entrevista realizada por
Luiz Artur Ferraretto em 26 de junho de 1999.
Entre as pequenas emissoras, destaca-se também – mais por suas
particularidades do que pelo seu porte – a Rádio Metrópole, de Hermano Sperb.
Ligado ao Partido Trabalhista Brasileiro, o empresário, diretor da Loteria do
Estado nos governos de Ernesto Dornelles (1951-1955) e de Leonel Brizola
(1959-1963), consegue em 1953 junto ao presidente Getúlio Vargas, a outorga para
instalar uma emissora em
Canoas. Sperb inaugura, dois anos depois, em 30 de junho de
1955, nos 1.270 kHz, a Rádio Canoas, que, mais tarde, mantendo seus transmissores
na cidade, transfere os estúdios para a avenida Presidente Roosevelt, local de
concentração do comércio da Zona Norte de Porto Alegre.
Transmissão externa da Rádio Metrópole (junho de 1958)
À esquerda, Milton Ferretti Jung ao lado de Léo Ramos, um dos
responsáveis pela emissora. À direita, Pedro Carneiro Pereira.
Fonte: Acervo particular da família Pereira.
Na prática, a logo rebatizada Rádio Clube Metrópole atua,
então, como uma espécie de estação de bairro, com uma programação basicamente
musical, embora dedique horários para as notícias e o esporte, espaços em que
aparecem Milton Ferretti Jung e Pedro Carneiro Pereira, conhecidos mais tarde
por seu trabalho na Rádio Guaíba. A “emissora da Zona Norte”, como passa a se
identificar, transmite eventos locais, bailes, acontecimentos sociais... Fora
os anúncios do comércio do então Quarto Distrito, a Metrópole sobrevive também
graças às dedicatórias musicais, algo comum na época.
No final da década de 1950, a emissora da avenida Presidente Roosevelt
é, também, a primeira do estado a transmitir 24 horas, adotando o slogan
“Noite e dia, a Metrópole irradia”.
Décio Sperb, filho de Hermano Sperb
Entrevista realizada por
Luiz Artur Ferraretto em 23 de julho de 2003.
A exemplo da Itaí e da Metrópole, outra emissora vai se
destacar entre as pequenas estações que começam a operar na década de 1950. Com
concessão para Gravataí e estúdios na rua Coronel Vicente, em Porto Alegre , a Rádio
Cultura, nos 840 kHz, baseia sua programação na música. Nela, Paulo Deniz
aparece, de 1959 a
1965, como um dos primeiros disc-jóqueis, demonstrando uma tendência que começa
a indicar novos caminhos para o rádio. Quando inicia a década de 1960, o ouvinte
da capital gaúcha ainda tem como alternativas a Princesa e a Pampa,
predominantemente musicais, e a emissora da Universidade do Rio Grande do Sul,
de caráter educativo.
foi uma grande época o rádio foi o máximo nos periodos 1930 até começo dos anos 80, meu pai trabalhou 20 anos na gaucha era o cantor GILBERTO RAIMUNDO NEDEL, infelizmente já falecido, mas conheceu todo mundo no rádio.
ResponderExcluiru precisava saber se a rádio cultura era aquela que anunciavam assim no inicio dos anos 70 - RÁDIO CULTURA DE GRAVATAÍ - se era ela quero saber se ainda existe e como encontro no dial.
ResponderExcluirAcredito que seja a atual Rádio Metrópole, de Gravataí, 1.570 AM.
ExcluirA rádio cultura de Gravataí am era a razão social da radio capital am 840 khzlocalizada próximo ao IPA em Porto Alegre.
Excluirradio metropole da gravatai esta na ativa ainda e esta internet
ResponderExcluirAí, pessoal, eu lembro que no início de 79 tinha uma rádio próxima da itai, no am, com a sintonia um pouquinho ruim que o locutor anunciava "RADIO CULTURA DE GRAVATAÍ" e inclusive um programa que dava a tarde, lá pelas duas, tinha como tema "look for a Star" com Billy Vaughn.
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