Amir Domingues e as primeiras grandes coberturas eleitorais
2006
Luiz Artur Ferraretto
Amir Domingues (1960)
O jornalista mostra no mapa a rede de correspondentes montada
pela Guaíba em todo o país para a cobertura das eleições presidenciais.
Fonte: Correio do Povo, Porto Alegre, 3 maio
1997. p. 5.
Logo após a sua inauguração, embora não se dedique à cobertura
dos fatos locais do dia a dia com equipe de reportagem própria, a Rádio Guaíba,
de Porto Alegre, contando com profissionais ecléticos e escorada na Companhia
Jornalística Caldas Júnior, acompanha grandes eventos, inovando, inclusive, em
âmbito nacional. É nesta linha que, para as eleições de 3 de outubro de 1958,
Amir Domingues monta a primeira estrutura de apuração paralela da história do
rádio do Rio Grande do Sul, base para trabalho semelhante repetido, dois anos
depois, em combinação com a Nacional, do Rio de Janeiro, já aí ampliado para
todo o território do país.
Ciente de que, na época, a totalização dos votos pela Justiça
Eleitoral demora dias em função das precárias condições de comunicação entre o
interior e a capital, o jornalista, junto com o engenheiro Homero Carlos Simon,
diretor técnico da Guaíba, mapeia o estado, levantando todos os circuitos
existentes. Mesmo assim, 24 dos 115 municípios gaúchos não possuem, então,
ligações telegráficas, telefônicas ou radiofônicas. O planejamento inclui a
divisão do território em regiões, fazendo com que os dados das mesas de
escrutínio coletados por uma equipe de 250 pessoas convirjam, primeiro, para
centrais em pontos estratégicos do interior e, em seguida, destes para Porto
Alegre. Em um rodízio constante, os correspondentes dão ao microfone os números
já apurados, enquanto segue a contagem de votos e a coleta de informações nos
demais postos montados pela emissora. Um dia e meio depois do pleito, a Guaíba,
comandando uma cadeia com três dezenas de estações, anuncia a vitória de Leonel
Brizola, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em coligação com o Partido de
Representação Popular (PRP) e o Partido Social Progressista (PSP). O resultado
oficial – sem diferença significativa em relação à estimativa da rádio – sai
somente em 25 de outubro.
A precisão e a rapidez do trabalho realizado no Rio Grande do
Sul chamam a atenção da Nacional, do Rio de Janeiro, rádio onde o gaúcho Heron
Lima Domingues, desde 1944, como locutor exclusivo da edição carioca do
Repórter Esso, vinha se convertendo na “estrela máxima do radiojornalismo
brasileiro”, como registram Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira, no
seu livro Rádio Nacional, o Brasil em Sintonia. Além da credibilidade
obtida pela Guaíba em apenas três anos de existência, os laços de parentesco –
eram primos e também cunhados – entre o Domingues radicado na ainda capital
federal e o outro, responsável pelo Departamento de Notícias da estação ligada
à Caldas Júnior, em Porto
Alegre , vão facilitar, na época, a combinação de esforços
jornalísticos das duas emissoras.
Seis meses antes das eleições de 3 de outubro de 1960, o
diretor do Departamento de Notícias da Guaíba e dois funcionários – Isnar
Camargo Ruas e José Baños – começam a percorrer o território brasileiro,
analisando as condições de transmissão e montando a rede de profissionais a ser
empregada. Nas capitais, escolhem aquela que parece ser a principal estação de
rádio e oferecem uma permuta de informações. Com a Nacional, sem que ocorra a
subordinação de uma rádio à outra e nem mesmo a transmissão de ambas em rede, a
Guaíba acerta o compartilhamento dos correspondentes das regiões Norte e
Nordeste. Todos, no entanto, falam para as duas em separado, como recorda Amir
Domingues:
Nós acompanhamos a Nacional e a Nacional acompanhou a Guaíba. Só que, quando a Nacional falava, nós podíamos computar os dados e, quando a Guaíba falava, o mesmo acontecia com a Nacional. Isto, obviamente, dobrava o volume de cobertura e nos permitia realizar o trabalho mais amplo e rápido. Procuramos estabelecer correspondentes comuns. Onde era Guaíba era Nacional e falava para as duas. Para as duas, o veículo e não a voz. Cada uma tinha o seu correspondente no ar. Havia, portanto, um esquema para colocação no ar e outro para computação das informações.
Cinco circuitos de comunicação são montados com o apoio de
três radiotransmissores de single
side-band (SSB), que garantem a autonomia em relação à estrutura de
telefonia da época. A Guaíba conta, ainda, com o apoio das sucursais da
Companhia Jornalística Caldas Júnior. Para o Rio de Janeiro, onde parte das
operações é centralizada, deslocam-se Adroaldo Streck e Pedro Carneiro Pereira,
além do próprio Amir Domingues. Apesar das condições técnicas, a emissora
consegue falar, inclusive, de Rio Branco, no então território do Acre, usando
circuitos de radiocomunicação do Serviço de Proteção ao Índio, um feito histórico
quando uma ligação telefônica entre Porto Alegre e o centro do país demorava
horas e horas para ser completada.
Flávio Alcaraz Gomes entrevista Amir Domingues e Jorge
Alberto Mendes Ribeiro (4 de maio de 1997)
Trecho do programa Fórum
alusivo aos 40 anos da Rádio Guaíba.
Fonte: TV2 GUAÍBA. Fórum.
Porto Alegre, 4 maio 1997. Programa de televisão.
O tempo em q se trabalhava com amorao serviço q prestava, esse amor não existe mais. Hoje só se visa dinheiro.
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