A estruturação do rádio no interior do estado
2013
Luiz Artur Ferraretto

Com a diminuição dos entraves legais e a disseminação da energia elétrica no Rio Grande do Sul, o rádio desenvolve-se ao longo da década de 1950. Surgem novas emissoras nas principais cidades do estado.

O mercado radiofônico, em algumas cidades, ganha características concorrenciais. Isto já ocorre desde o final dos anos 1930, em Pelotas, onde a Pelotense, com seus departamentos comercial e artístico então arrendados ao empresário Cyro Oliveira, e a Cultura, de Atahualpa Dias, disputam a audiência e os anunciantes. A elas, vão se juntar a Tupanci (1958) e a Universidade (1967). Ainda na Zona Sul, é inaugurada, no início da década de 1950, a Minuano, com estúdios em Rio Grande e utilizando a frequência modulada para levar o seu sinal até a planta transmissora na cidade de São José do Norte. Criação do radialista Dolar Tanus, o slogan da nova emissora – “Onde sopra o minuano, fala a voz do gaúcho” – vai marcar este novo momento do rádio na região.

A partir da Serra gaúcha, a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, por sua vez, começa a adquirir ou instalar emissoras comerciais, que dividem a sua programação entre um decalque do que fazem as grandes rádios da capital e o apoio às iniciativas da Igreja Católica. Passa a operar, assim, estações em Garibaldi, Lagoa Vermelha, Soledade, Veranópolis, e, a partir de 1958, em Porto Alegre, onde adquire a Rádio Difusora, até então pertencente aos Diários e Emissoras Associados.

No Planalto Médio, ligada à Prefeitura de Passo Fundo, começa a operar a Rádio Municipal, no início dos anos 1950. A nova estação procura aproveitar o que de melhor existe na radiofonia local. Da Rádio Passo Fundo, contrata Ruben Zutter, que leva junto os principais funcionários da estação das Reunidas na cidade. Arnaldo Ballvé reage, enviando o ex-gerente da Rádio Cachoeira, de Cachoeira do Sul, Roberto Aveline, para administrar a emissora. A 278 quilômetros de Porto Alegre, a audiência não sofre as influências das rádios da capital, o que aumenta o interesse e a importância de qualquer atração do centro do país. Conforme Gildo Flores, à época trabalhando na Passo Fundo, é com base neste raciocínio que Aveline reestrutura a rádio:

A primeira coisa que Roberto Aveline faz é estabelecer uma ponte aérea com artistas do Rio de Janeiro e São Paulo. Passou a vir um deles por mês, apresentando-se no Cinema Real, arrendado com esta finalidade. Era o ano de 1953, 1954... Vêm a Passo Fundo artistas como Linda Batista, Ivon Curi, Cauby Peixoto, a dupla Alvarenga e Ranchinho... Apresentavam-se no cinema com transmissão ao vivo pela rádio.

Na Região Central do estado, multiplicam-se as emissoras. Em Santa Maria, às rádios Imembuí (1942) e Santa-mariense (1954) juntam-se a Guarathan (1960) e a Medianeira (1960). Na cidade de Cachoeira do Sul, onde há dez anos já opera uma das Emissoras Reunidas, a família Pertilli instala, em abril de 1956, a Princesa do Jacuí, primeira de um conjunto de três estações, as outras duas em Candelária e Porto Alegre. Na Campanha, Bagé ganha, em fevereiro do mesmo ano, a Difusora, sua segunda rádio. Em Ijuí, no Noroeste, a Progresso (1959) passa a concorrer com a Repórter (1950).

Em outros municípios, uma única rádio segue operando, criando, por vezes, facilitados pela exclusividade das transmissões, fortes laços com a comunidade local. Um exemplo é a Independente, em Lajeado, inaugurada em 1° de abril de 1951, que, com frequência, vai para a zona rural do Vale do Taquari, participando das festividades típicas dos descendentes dos colonos alemães. Já em Uruguaiana, integrando a população dos dois lados da fronteira, opera, desde 1936, a Rádio Charrua, instalada pelo argentino Juan Izidro Cobelli, que só conhece concorrência com o surgimento da Rádio São Miguel, em 1963. A partir de 1957, a Rádio Osório, de Osório, faz o mesmo em relação ao Litoral Norte do estado.

A necessidade de buscar verbas publicitárias de maior monta leva à instalação de empresas de representação comercial em Porto Alegre. Assim, Arnaldo Ballvé e Maurício Sobrinho criam, em junho de 1950, a Rádio Publicidade Ltda., primeiro empreendimento deste tipo no Rio Grande do Sul. Na época, passam a buscar patrocinadores, em especial, para as Emissoras Reunidas, em um mercado no qual 40% dos anunciantes são absorvidos pelas rádios Difusora, Farroupilha e Gaúcha. Em pouco tempo, já representam estações de 44 municípios do Rio Grande do Sul, 23 de Santa Catarina e 15 do Paraná. Um anúncio publicado, então, dá uma ideia da presença da radiodifusão sonora no interior do estado.

Anúncio da Rádio Publicidade (abril de 1953)
Fonte: Revista do Globo, Porto Alegre, ano 24, n. 583, p. 54, 4 abr. 1953.

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