Manoel Braga
Gastal, o homem dos dois dedos de prosa
2007
Luiz Artur Ferraretto
Muito se escreveu na imprensa de Porto Alegre sobre Manoel
Braga Gastal, advogado, professor, político, desportista, jornalista e
radialista falecido no domingo, dia 1º de abril. Conversei com ele em junho do
ano passado pela última vez. Nas várias vezes em que o entrevistei, por telefone
ou pessoalmente, Braga Gastal sempre me surpreendeu. Como político esteve
ligado ao Partido Libertador, legenda tradicionalmente conservadora. Ao saber
que, na mesma tarde em que conversávamos pela primeira vez, isto lá por meados
de 1999, eu iria entrevistar Lauro Hagemann, seu ex-colega dos tempos da Rádio
Farroupilha, mas dedicado militante comunista, pediu que eu desse um forte
abraço no mais famoso Repórter Esso
do Sul do país e sentenciou:
– Um adversário muito sério, pessoa de respeito e muito
querido!
Horas depois, Lauro, da esquerda para a direita, repetia quase
a mesma frase. Quando conversamos pela última vez, Gastal me falou da
felicidade de morar em frente a uma praça que leva o nome do grande poeta e
dramaturgo espanhol García Lorca, vítima do franquismo. E deu um show, declamando poesias em frente à
sua casa. Estava, então, por completar 90 anos e se orgulhava de ser o
jornalista mais velho em atividade no Rio Grande do Sul, escrevendo editoriais
para o Correio do Povo.
Graças a Manoel Braga Gastal, consigo hoje imaginar como era o
velho prédio da Farroupilha nos altos do viaduto que permite à Duque de Caxias
passar sobre a Borges de Medeiros. Consigo também me deslocar por outras
dependências da emissora, aquelas mais no centro de Porto Alegre, as da sua
segunda sede. E é em homenagem a esta passagem pelo microfone da então PRH-2
que é impossível falar de Braga Gastal sem citar o comentário Dois Dedos de Prosa, que redigiu de 1948 a 1960. Admirador do
parlamentarista Raul Pilla, que havia fundado o Partido Libertador, o advogado
e radialista exercia, em 1954, um mandato como vereador pelo PL em Porto Alegre. Lidos
pelo próprio Gastal ou por um locutor, os textos seguiam à risca a orientação
partidária. Defendiam um Estado que, no campo econômico, orientaria,
estimularia e assistiria a produção, interferindo somente quando necessário ao
bem comum e não concorrendo com a iniciativa privada. Nesta linha, o capital
estrangeiro deveria receber o mesmo tratamento legal, fiscal e administrativo
dispensado ao capital nacional. Os comentários, naquele período, portanto,
criticavam, fortemente, o nacionalismo e outras atitudes do governo Vargas:
– Eu atacava, mas eu atacava dentro dos padrões, meus e da
Farroupilha, com dignidade, com honestidade, com uma forma de dizer correta.
Era opinião, bem sólida e consolidada, que esteve no ar por 12 anos.
Em 24 de agosto de 1954, após a divulgação do suicídio do
presidente da República, um dos alvos da fúria popular seria o prédio da
Farroupilha, totalmente destruído então. Na origem da depredação, para alguns,
está a contundência daqueles dois dedos de prosa, força que o texto de Braga
Gastal, se esteja contra ou se esteja a favor, não perderia com o passar do
tempo.
Manoel Braga Gastal revive
o comentário Dois Dedos de Prosa (1977)
Entrevista realizada por José Antônio Daudt para o programa Opinião Pública, da Rádio Difusora
Porto-alegrense, transmitido em 26 de setembro de 1977.
Fonte: Acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.
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