Gaúcha: de Breno Caldas e Chico Vitrola a Arthur Pizzoli
2013
Luiz Artur Ferraretto
Apesar das crescentes divergências com o governador José
Antônio Flores da Cunha, os negócios iam bem para o Correio do Povo e a Folha
da Tarde. Inspirado pelo amigo e diretor da Farroupilha, Arnaldo Ballvé, e
sem ter ainda completado dois anos à testa dos empreendimentos jornalísticos da
família, Breno Caldas aventura-se na radiodifusão, tornando-se um dos
proprietários da Rádio Sociedade Gaúcha, repartindo ações, entre outros, com
Francisco Garcia de Garcia, da Casa Victor, a quem a PRC-2 devia 360 contos de
réis, uma pequena fortuna na época, superior inclusive ao capital social da
emissora.
Breno Caldas, sócio-proprietário da Rádio Sociedade Gaúcha
Fonte: CALDAS, Breno. Meio
século de Correio do Povo: glória e agonia de um grande jornal. Depoimento
a José Antonio Pinheiro Machado. Porto Alegre: L&PM, 1987. p. 156.
O maior mérito de Breno Caldas na Gaúcha foi, sem dúvida, a
transferência para Porto Alegre, em 1939, de Oduvaldo Cozzi, profissional que
se dividia entre a narração esportiva e a direção artística da Rádio Nacional,
do Rio de Janeiro. Até então, as transmissões de jogos de futebol limitavam-se
a informar o nome do jogador que conduzia a bola, com o espaço entre um tempo e
outro preenchido por música. Cozzi, ao contrário, descreve lance a lance e
ocupa com comentários o intervalo da partida.
As transformações na PRC-2 não se limitam a sua configuração
jurídica e, na sequência, acionária. Por esta época, os estúdios transferem-se
do bairro Moinhos de Vento para a rua Sete de Setembro, próximo à esquina com a
General Câmara, no centro da cidade. Também a frequência utilizada nas
transmissões muda, com a emissora passando a ser sintonizada nos 680 kHz.
Ocorre, no entanto, que o rádio não empolga Breno Caldas do
mesmo modo que os jornais, ou melhor, que o Correio do Povo, dirigido
diretamente por ele. Em paralelo, conforme Breno Futuro, o empresário Arthur
Pizzoli começa a se interessar pela PRC-2, negociando a participação do
proprietário da Casa Victor, Francisco Garcia de Garcia:
Com a continuação da guerra, foram se criando e agravando dificuldades para as firmas de eletrodomésticos. Praticamente, tudo era importado, principalmente peças importantes de reposição. As dificuldades começaram a se fazer sentir para os aparelhos vendidos. As oficinas de manutenção das casas Coates e Victor, esta de Chico Garcia, tinham problemas semelhantes. Para a sobrevivência das mesmas e bom andamento, foi proposta por Pizzoli uma negociação em que seria permutado o controle acionário da Casa Coates pelo controle da Rádio Gaúcha, em mãos de Garcia.
O segundo passo de Pizzoli – assumir o controle total – é
indicado pelo Relatório da diretoria da Rádio Sociedade Gaúcha S.A. –
Exercício 1942, publicado nos jornais. Nele, o empresário já aparece como
diretor interino, tendo Alexandre Martins, Breno Alcaraz Caldas e Francisco
Garcia de Garcia como integrantes do Conselho Fiscal. Assinando o documento,
Arthur Pizzoli informa a existência de um déficit de Cr$ 613.917,00 (613 mil
917 cruzeiros) no balanço da emissora, observando:
Cumpre-me [...] dizer-vos que, ainda, novas e bem avultadas inversões se fazem urgentemente necessárias a fim de levar a nossa estação a um nível técnico e artístico apreciável, única forma em que se pode ter a esperança de equilibrar a receita e a despesa.
O teor do texto anuncia o que ocorre em seguida. Com o
assessoramento jurídico do advogado Ernani Estrela, o novo diretor investe em
uma série de obras e aprimoramentos técnicos, aumentando o capital social e,
por consequência, a sua participação acionária. Com o controle sobre a PRC-2
assegurado, Arthur Pizzoli, em setembro de 1943, contrata Arnaldo Ballvé,
afastado do rádio desde a venda da Farroupilha meses antes. Trata, ainda, de
aproveitar profissionais da Difusora na Gaúcha. Cândido Norberto Santos, um
destes radialistas, descreve, assim, a situação da emissora na época:
Encontramos a Gaúcha [...] tocando disco o dia inteiro, paupérrima de comerciais, tendo como suporte econômico as dedicatórias. Para erguê-la, foi preciso levar adiante um lento trabalho de pôr ordem nas coisas.
Entre 1942 e 1944,
a Gaúcha atravessa um período de reformulação, preparando-se
para competir com mais força no mercado. Os transmissores são reformados e o
auditório ampliado. O balanço de 1943 já registra um faturamento de Cr$
465.183,00 (465 mil 183 cruzeiros). No entanto, com duas das três estações de
Porto Alegre em um mercado ainda incipiente, Pizzoli começa a enfrentar
dificuldades de comercialização. Opta, então, por vender a Difusora,
direcionando seus investimentos em rádio para a Gaúcha. Assim, até o final da
década, a PRC-2 faz frente à Farroupilha, escudando-se na cobertura esportiva –
ponto fraco da concorrente – e no espetáculo – área em que a PRH-2 parecia imbatível.
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