A guerra nas
ondas do rádio
2013
Luiz Artur Ferraretto
No dia 28 de janeiro de 1942, o ministro das Relações
Exteriores, Oswaldo Aranha, anuncia o rompimento com as forças do Eixo – Alemanha,
Itália, Japão e seus aliados. O rádio gaúcho
não vai ficar alheio à entrada do país na Segunda Guerra Mundial ao lado dos
Aliados – Grã-Bretanha, EUA e União Soviética.
A Farroupilha, por
exemplo, passa a retransmitir o programa Boa Vizinhança, gerado em
Washington, refletindo a política de mesmo nome lançada em meados dos anos
1930. Durante a 8ª Conferência Pan-americana, em Lima, no ano de 1939, o
governo Roosevelt reforçara esta posição, pretendendo desencadear uma ofensiva
sobre os demais países do continente e assegurar para si estes mercados. Portanto,
pelo Boa Vizinhança, irradiado de segunda a sábado, das 21 às 21h15, os
ouvintes do Rio Grande do Sul vão se inserindo no contexto do conflito pela
ótica dos Estados Unidos, complementada pela da Grã-Bretanha, presente no
noticiário e nos comentários da British Broadcasting Corporation, transmitidos
de Londres, diariamente, das 21h15 às 21h30.
Irradiadas em ondas curtas de seus países de origem, estas
emissões em português fazem, assim, frente às da Rádio Berlim, herdeira da
antiga Transmissora Nacional Alemã. Em julho de 1944, na mesma época em que as
primeiras tropas da Força Expedicionária Brasileira chegam à Itália, as
emissões do Reichsrundfunk – o órgão ligado ao Ministério do Esclarecimento
Público e da Propaganda, responsável pelas transmissões radiofônicas nazistas – começam,
diariamente, às 21h, horário do Rio de Janeiro. Revezam-se ao microfone quatro
gaúchos, um mineiro e uma baiana convertidos à causa nazista, a maioria deles
usando pseudônimos para disfarçar a ascendência germânica e dar certo ar de
proximidade às irradiações. O coordenador da programação
dedicada ao Brasil é Karl Heinrich Hunsche, natural do Rio Grande do Sul e,
anteriormente, conforme investigação da Delegacia de Ordem Política e
Social, um dos responsáveis pela infiltração
nacional-socialista no estado.
Como registra Renato Mottola, em reportagem publicada pelo Diário de Notícias, em 5 de julho de
1944, destaca-se entre os programas
transmitidos da Alemanha, o Atualidades do Dia, conduzido por Gerhard
Wolfgang Dohms, com as notícias do conflito, tentando demonstrar como a
Alemanha, então em franca retirada nos vários fronts, estava vencendo a
guerra. Chama a atenção, ainda, o Pipocas e Batatas, espaço infantil
apresentado por Lourdes Lage, encarnando uma simpática velhinha nazista,
a Dona Filomena e, deste modo, preparando as futuras gerações para o Reich que
pretendia durar mil anos.
No lado brasileiro da guerra pelo rádio, a Farroupilha, em
julho de 1943, inclui, ainda, em sua programação o satírico Barão Eixo,
ridicularizando o inimigo nazista, e o radioteatro semanal Brasil na Guerra,
como chamam a atenção os anúncios no Diário
de Notícias, “focalizando o
esforço de guerra do Brasil” e a contribuição do país “para a vitória das
Nações Unidas”.
Anúncio do programa O Brasil na Guerra (1943)
Fonte: Diário de Notícias, Porto Alegre, 19 set. 1949.
p. 15.
Já a Difusora começa a transmitir, em 1º de abril de 1943, o
programa de comentários A Marcha da Guerra, enquanto a Gaúcha lança A
Marcha do Tempo, atração semelhante em conteúdo e denominação.
Anúncio do programa A Marcha da Guerra (1943)
Fonte: Correio do Povo, Porto Alegre, 17 set. 1943. p.
3.
Em meio ao conflito que, gradativamente, vai envolvendo países
de todos os continentes, os noticiários crescem em importância e espaço no
rádio. Como já acontecera em 1941 na Nacional, do Rio de Janeiro, e na Record,
de São Paulo, o Repórter Esso ganha edições locais em Belo Horizonte , na
Inconfidência; Recife, na Jornal do Comércio; e Porto Alegre, na Farroupilha.
Assim, no dia 16 de julho de 1942, estreia a versão gaúcha do informativo
patrocinado pela Standard Oil Company of Brazil, com notícias fornecidas pela United
Press International, o que também garante uma visão do conflito segundo o ponto
de vista dos Estados Unidos. Nos outros informativos, o mais comum é o uso de
dados provenientes dos jornais e de agências noticiosas, atualizados graças à
escuta das emissões em ondas curtas – em especial da BBC.
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