A estruturação da concorrência em Porto Alegre
2013
Luiz Artur Ferraretto
Ao longo dos anos 1930, o associativismo idealista dos
pioneiros da radiodifusão sonora dá lugar à lógica comercial e, com ela, à
disputa – mesmo que incipiente – por ouvintes e anunciantes. Neste processo, o
Rio Grande do Sul sofre a influência do que ocorre nas emissoras do centro do
país. É em uma delas, a Record, de São Paulo, que César Ladeira – speaker
conhecido por sua participação no movimento constitucionalista de 1932 –
revoluciona o rádio do país, criando o elenco fixo com remuneração mensal. A
esta inovação, Gisela Swetlana Ortriwano, no livro A informação no rádio, atribui o início da concorrência entre as
estações:
A partir daí, começa a corrida e as grandes emissoras contratam a peso de ouro astros populares e orquestras filarmônicas. E mesmo as emissoras de pequeno porte procuram também ter o seu pessoal fixo. Essa mudança aguçou - ou mesmo desencadeou - o espírito de concorrência entre as emissoras, inclusive as de outros estados, que imitaram a programação lançada pela Record.
Em meados da década, ao serem inauguradas, Difusora e
Farroupilha já possuem, portanto, o seu, como se chamava na época, cast
próprio e organizado com orquestras e conjuntos musicais mais ou menos fixos.
Acertam, ainda, contratos de um a três meses com intérpretes que se destaquem
nos bares, confeitarias e casas noturnas de Porto Alegre. Há, também, uma
constante tentativa de apresentar novas atrações, sejam artistas descobertos
entre os valores locais ou importados das coirmãs do Rio de Janeiro e de
São Paulo. Exemplo disto ocorre em 1937. A PRF-9 – Rádio Difusora Porto-alegrense,
de Arthur Pizzoli, traz, para temporadas ao seu microfone, os locutores César
Ladeira, da Mayrink Veiga, e Oduvaldo Cozzi, da Nacional, anunciando também
apresentações musicais de Araci de Almeida, Jorge Fernando e Bando da Lua para
contrabalançar a presença de Carmen e Aurora Miranda na PRH-2 – Rádio Sociedade
Farroupilha.
Mais antiga e originalmente uma associação sem fins
lucrativos, a Rádio Sociedade Gaúcha vai sofrer para se adaptar à realidade
comercial, como conta Nilo Ruschel, um dos pioneiros das peerrês locais, em uma
entrevista, anos depois, ao jornalista Flávio Alcaraz Gomes:
A Gaúcha estava onerada por um cast muito numeroso e pouco selecionado, com contratos muito longos de artistas, que nem sempre eram muito do agrado do público. As outras emissoras, mais agressivas, mais novas, vinham, com mais recursos financeiros, importando os nomes mais populares da música brasileira, do Rio e de São Paulo. Provocavam, então, um movimento muito intenso de programação. [...] Isto foi deixando a Gaúcha para trás. Ela foi marcando passo e a liderança passou a ser disputada, então, entre Difusora e Farroupilha.
A situação da Rádio Sociedade Gaúcha começa a mudar em 1937,
quando é alterada a sua figura jurídica, marcando o fim do associativismo
idealista em Porto
Alegre. A respeito, assinala, em setembro daquele ano, a Revista
do Globo:
Quinta-feira passada [provavelmente, 23 de setembro de 1937], foi ultimado o ato mais importante da Rádio Sociedade Gaúcha. A veterana irradiadora completou a reforma que a transformou em sociedade civil de fins comerciais. Depois de uma importante e movimentada fase de transição, aparelhou-se agora, definitivamente, a veterana PRC-2, dentro de um novo e necessário aspecto social, capaz de facilitar os seus movimentos dentro do campo comercial, o que, logicamente, terá seu reflexo num maior desenvolvimento da parte artística.Na mesma época, Breno Caldas, diretor do jornal Correio do Povo que, em 1936, lançara a Folha da Tarde, assume o controle da Gaúcha. Nos anos seguintes, o dono da Casa Victor, Francisco Garcia de Garcia, conhecido como Chico Vitrola, também participa do negócio. A loja especializada
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