A Cervejaria Brahma e a cobertura esportiva da Gaúcha
2013
Luiz Artur Ferraretto

Quando a Brahma assumiu o controle da Cervejaria Continental, no Rio Grande do Sul, buscou o apoio do rádio para se firmar no mercado do Rio Grande do Sul. Algo comum décadas depois, a associação de uma marca de cerveja às transmissões esportivas era uma novidade no rádio naquele final dos anos 1940. E acabaria impulsionando o trabalho da Gaúcha nesta área, não tão explorada quanto hoje pelas emissoras. Por esta época, o esporte, junto com os informativos em geral, ocupa uma terceira posição em termos de importância dentro da programação das peerres locais. No final dos anos 1940, a atenção do público começa a se fixar mesmo nas novelas, então expressão máxima do radioteatro em quantidade de ouvintes, seguindo-se a elas os humorísticos e os programas de auditório, três gêneros que conformam o espetáculo radiofônico da década seguinte. Aos noticiários, às reportagens e às coberturas esportivas, caberá, mais tarde, depois do advento da televisão, servir de base para a reestruturação do rádio, abalado pela perda de atrações, público e anunciantes.

O vantajoso acordo publicitário com a Cervejaria Brahma, portanto, torna-se um poderoso diferencial e impulsiona o desenvolvimento da programação esportiva na Gaúcha, como explica Breno Futuro, genro de Arthur Pizzoli, o proprietário da rádio:

Quando a Cervejaria Continental foi vendida para a Brahma – a Continental não anunciava quase nada –, eles compraram todo o espaço esportivo da Gaúcha. Só da Gaúcha. Onde tinha irradiação de esportes, a Brahma estava dando cobertura. E passou a Brahma a ser sinônimo de cerveja aqui no Rio Grande do Sul, por isto, pelo peso na programação da Gaúcha. No esporte, a Gaúcha era absoluta devido ao patrocínio exclusivo da Brahma. Entrou com muita força e nos deu capital para irradiarmos de onde fosse preciso.
A parceria vai garantir a irradiação dos jogos de futebol dos times gaúchos não apenas nos gramados locais. Em 14 de maio de 1949, Cândido Norberto vai fazer, assim, a primeira transmissão esportiva internacional do rádio do Rio Grande do Sul, como recordaria, 50 anos depois, o jornal Zero Hora:

No outono de 1949, o locutor Cândido Norberto, vestido elegantemente com um terno feito de legítima casimira inglesa, ocupou um lugar nas tribunas de imprensa do Estádio Centenário e transmitiu o amistoso entre Grêmio e Nacional, em comemoração aos 50 años triunfales, o cinquentenário de fundação do clube uruguaio. Era também o primeiro jogo de um time gaúcho fora do país. O Grêmio venceu por 3 a 1 e ajudou a colocar na história a transmissão de Cândido. Sem satélites, tevês, celulares ou fibras óticas, a narração navegou por ondas curtas, com as linhas da antiga Radional em uma prudente reserva técnica. Sem linha de retorno, como acontecia na época, Cândido só no final soube que a primeira transmissão internacional fora um sucesso.
Cândido Norberto transmite Grêmio e Nacional (14 de maio de 1949)
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, 14 maio 1999. p. 70.

No mesmo ano e em condições mais adversas, Cândido Norberto acompanha a excursão do Grêmio pela América Central, narrando jogos na Guatemala e em El Salvador. Nestas transmissões internacionais, por vezes, o alto custo da empreitada obrigava que fosse buscado também um reforço com outros patrocinadores.

Breno Martins Futuro
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 26 de junho de 1999.


Cândido Norberto Santos
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 10 de junho de 1999.

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