Gildo
Flores e as rádios Caxias e Passo Fundo
2013
Carlos
Venhofen Flores
Filho de Gildo
Flores
Gildo Flores (anos 1940)
Fonte: Acervo particular da família Flores.
Nascido em 1931, Gildo é um importante personagem do rádio em
nosso estado em meados do século passado. Era adolescente quando, levado por
seu irmão Abel, ingressou em 1947 na Rádio Passo Fundo, emissora inaugurada um
ano antes e pertencente às Emissoras Reunidas, a maior rede do interior, um
empreendimento ousado de Arnaldo Ballvé. Como atento aprendiz, passou por todas
as funções da época: operador, organizador da caixinha de reclames,
discotecário, vendedor de publicidade e locutor.
Em 1955, o cargo de gerente, que antes era ocupado por pessoas
de fora da cidade, exceção do primeiro, Mauricio Sirotsky Sobrinho, ficou vago.
O então superintendente das Reunidas, Paulo Amaro Salgado, disse a Gildo:
– O senhor Ballvé acha que tu tens condições de assumir, mas
és muito novo. Faz o seguinte: deixa o bigode para demonstrar mais seriedade...
O bigode durou alguns meses, mas a gerência perdurou por
décadas. Na ZYF-5, os acontecimentos foram intensos em várias esferas. Os
programas de auditório, como o Clube do
Titio, as radionovelas que balizavam os horários noturnos, shows com os
grandes artistas nacionais e o surgimento do apresentador de programas que se
tornou um ícone da música gaúcha: Teixeirinha. Na esfera política, episódios em
que Passo Fundo foi importante cenário: a legalidade em 1961 e a ruptura
institucional de 1964, em que a rádio foi encampada pelo governo.
Um novo desafio estava por vir. Em 1965, Gildo Flores transfere-se
para Caxias. Vai gerenciar umas das maiores unidades das Emissoras Reunidas: a
ZYH-72 – Rádio Caxias do Sul. E, numa sociedade mais fechada, formada por
maioria de imigrantes italianos, conseguiu ser muito bem aceito. Sob seu
comando, solidifica-se um dos maiores fenômenos publicitários e de audiência do
rádio caxiense: o jornal do meio-dia, em que Gildo frequentemente fazia a
locução, um misto de notícias, informações fúnebres, de festas e de
classificados que envolviam toda a região. Está até hoje no ar como o Jornal Formolo.
Em 1972, inaugura a sede própria da emissora no 21º andar do
Edifício Estrela com 400 m² de área, modernos estúdios e, em 1980, os 20 kW de
potência, o que transforma a Rádio Caxias em uma das únicas emissoras do
interior do Brasil com essa condição. Ainda no decorrer dos anos 1970, percebe
a mudança do perfil do ouvinte, migrante de outras regiões do estado, dando
maior espaço aos programas gauchescos, segmento fundamental até hoje no rádio
AM.
Em 1988, com a venda da Rádio Caxias, finaliza um compromisso
de aproximadamente 40 anos com o grupo da família Ballvé, mas permanece ligado
ao rádio. Após algum tempo, passou a representar comercialmente emissoras da
capital e interior na região da Serra, atividade em que permaneceu por uma
década.
Ao completar 80 anos, já aposentado, resolveu homenagear a
cidade que lhe projetou e a que lhe acolheu. Entregou a vários órgãos de
imprensa de Passo Fundo, uma cópia de um conjunto de programas A
Radiodifusão em Passo Fundo, realizado nos anos 1970. Trata-se de um áudio
de vozes e acontecimentos dos pioneiros da comunicação do planalto gaúcho. Para
Caxias, reservou contar como nasceram e se desenvolveram as emissoras de rádio
e TV locais. Dirigido por seu filho, Juliano, o documentário em vídeo No Ar registra os nomes e órgãos que
formataram a imprensa na cidade.
Atualmente, Gildo, com privilegiada memória repleta de fatos e
de personagens com quem conviveu, continua sendo uma referência para
pesquisadores e estudantes de jornalismo. Segue, nas ruas e instituições,
recebendo o apreço dos antigos colegas, dos anunciantes e dos "prezados
ouvintes".
Gildo Flores
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 9 de agosto de 1999.
Trechos
do programa A Radiodifusão em Passo Fundo (1977)
Fonte: Acervo particular da família Flores.
A
Rádio Caxias nos anos 1940
Fonte: FLORES, Gildo Alves; FLORES, Juliano Barasuol. No
ar, o rádio e a televisão em Caxias.
Caxias do Sul, 2011. DVD.
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