Rochinha e o trabalho em equipe
2007
Luiz Artur Ferraretto
A Secretaria Estadual da Educação funcionava ainda em um
prédio numa das várias ruas que ligam a Mauá com a Júlio de Castilhos, perto da
Estação Rodoviária, no centro de Porto Alegre. Naquela manhã dos anos 1980,
terminei a reportagem para a Rádio Gaúcha e, pelo telefone emprestado na
assessoria de imprensa, passei o material para a redação. Há dias, estávamos
sem um dos motoristas que faziam parceria com os jornalistas da casa na busca
pela notícia nas ruas, nas repartições públicas, nos sindicatos, enfim, nos
lugares onde as pautas nos levassem. Pelo telefone, o chefe de reportagem Marco
Villalobos, como convém a um dos filhos do maior humorista do Sul do país,
Carlos Nobre, me informou:
– Ôoo Ivany, quem vai te apanhar aí é o grande
Rooooccchiinhaa, que veio transferido da TV pra cá. Espera na esquina da Júlio
que, em seguidinha, ele tá chegando.
Pra quem não sabe, o Marquinho, até hoje, tem esta mania. De
tempos em tempos, escolhe uma pessoa com um nome que ele julga mais sonoro e
sai rebatizando todos na sua volta. Na época, a “homenageada” era a repórter da
RBS TV Ivany Schütz. E, assim, éramos, pra ele, todos “Ivany”.
Fiquei esperando até que apareceu o Rocha buzinando em um
fuquinha dos que a Gaúcha usava na época. Eu não sabia ainda, mas o velho iria
se tornar um grande parceiro, dentro e fora da rádio.
Mário Soares da Rocha (Rochinha)
Fonte: Acervo pessoal.
Dirigindo sempre na mesma velocidade, com segurança e,
invariavelmente, abaixo do necessário para as coberturas em que a gente ia se
envolvendo – uma greve aqui, uma perseguição policial ali, a comitiva de algum
político... –, o Rocha mantinha o carro muito limpo e organizado. Daí, se
pedíamos mais velocidade, retrucava, fingindo mau humor:
– Sai, sai ô pé-de-chumbo. Me deixa em paz!
Invariavelmente, também, era pau pra toda obra, daqueles
sujeitos, muito raros hoje, que, quando se precisa de um favor, não há a mínima
necessidade de pedir. Ele adivinha. Era inestimável quebra-galho. E tinha lá as suas histórias. Começava com as de Mauricio
Sirotsky Sobrinho, de quem fora motorista particular, “Seu Maurício”, para ele
que quase ia às lágrimas ao lembrar do fundador da Rede Brasil Sul. Passava
pelos tempos de motorista de um empresário argentino, aquele que tomava vinho
com Soda Limonada. Chegava quase sempre a um causo com tons de aventura,
daqueles de grande companheiro, peça fundamental no trabalho dos jornalistas.
Lembrava sempre desse, o de uma reportagem com o mesmo Marquinho Villalobos no
Uruguai da ditadura militar, a equipe da então TV Gaúcha fugindo do país,
material gravado a salvo, escapando do pessoal de farda pela beira da praia e
adentrando assim o território do Rio Grande do Sul.
Saí da rádio e virei professor. O Rocha passou a constar na
lista de distribuição dos jornais-laboratórios da universidade com o nome
completo “Mário Soares da Rocha”. Um pouquinho antes de sair Assessoria
de Imprensa – Teoria e Prática, ele se perdeu numa curva da estrada,
perto dos transmissores da Gaúcha. Dias depois, vítima de traumatismo craniano,
nos deixou. Tá lá ele, então, na dedicatória da primeira edição do livro: "Mário Soares da Rocha (Rochinha). Que nos deixou em dezembro de 1992, mas permanece vivo na
memória."
– Que saudades, Rochinha!
– Que saudades, Rochinha!
Ele fazia o que amava!!!Guardo até hoje em minha memória, seus experiências contadas com muito orgulho, algumas ainda tive o prazer de presenciar!!!Fico muito Feliz e lisonjeada ,em saber que meu Pai, ainda faz parte da lembrança de seus companheiros de trabalho,em especial o Sr. seu Ferrarreto,como chamava!!!Agradeço em nome dele!!!Tenho certeza que tem muito orgulho da história que deixou aqui!!
ResponderExcluirBah, minha querida! Que surpresa receber uma mensagem sua e lembrar desta figura queridíssima!
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