Gardel, o tango e o rádio do Rio Grande do Sul
2006
Luiz Artur Ferraretto
Toda a semana, a cena repete-se várias vezes no Fofa, o
pequeno restaurante dos uruguaios Constantino – o Costa – Geordiavis e Dario
Schol, ouvintes assíduos do programa Tangos en la Noche,
apresentado por Roque Araújo Viana, desde 1978. Quando se ouve a voz clara e
vibrante de Carlos Gardel, o gesto de Costa, atrás do balcão, entre uma
baforada e outra do cigarro, é sempre o mesmo: dedo indicador sobre os lábios a
pedir silêncio. Ali, entre as mesas, há a mesma certeza de tantos outros
admiradores do principal intérprete do ritmo rio-platense, certeza
materializada na placa colocada por um admirador anônimo no túmulo do cantor no
Cemitério de la Chacarita, em Buenos Aires:
– Quando os homens singrarem o espaço em naves espaciais
ainda dirão: “Cantas cada vez melhor”.
Placa no túmulo de Carlos Gardel
Fonte: Acervo pessoal.
Nos anos 1920, pela proximidade, o tango já chega ao Rio
Grande do Sul pelas emissoras de Buenos Aires e Montevidéu, facilmente captadas
em Porto Alegre. Em meados da década seguinte, com as rádios já buscando
audiência e vivendo de anúncios, este tipo de música é apresentado gravado em
discos trazidos do Rio de la Plata e, ao vivo, por orquestras ou conjuntos
especializados, reproduzindo ao microfone o que é comum, então, nos bares,
confeitarias e restaurantes da capital do estado. Naquele 24 de junho de 1935,
há 70 anos, chega, pelas rádios portenhas, o impacto da morte de Carlos Gardel
em um acidente de avião na Colômbia.
Assim, quando a PRH-2 – Rádio Sociedade Farroupilha é
inaugurada mais ou menos na mesma época, contrata Paulo Coelho, um talento
roubado à Gaúcha e emprestado dos cafés, confeitarias e boates da cidade. O
Gordo traz para a rádio o esquema dos bares e casas noturnas, onde se alternam,
a cada 30 minutos, apresentações da Típica – responsável pela execução dos
números de tango – e do Regional – tocando sambas, chorinhos, enfim, música
brasileira.
Nas décadas seguintes, apesar da crescente presença da
música oriunda dos Estados Unidos, as emissoras locais ainda vão manter em seus
elencos fixos um ou outro intérprete de tango. É o caso de Carmen del Campo, la
morocha, com passagens pela Gaúcha e Farroupilha nos anos 1950. A Itaí, por
sua vez, em meados da década, apresenta diariamente o programa Em Tempo
de Tango. Também grandes nomes como Hugo Del Carril farão temporada, com
certa frequência, nas emissoras locais.
Nas últimas décadas, Tangos en la Noche garante
a presença do ritmo e da informação a seu respeito no dial desde 1978, quando
estreia na então Rádio Jornal do Comércio, depois Princesa. Em 1997,
transfere-se para a emissora educativa da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, aproveitando sempre o acervo musical do apresentador Roque Araújo Viana,
que, em 2001, incluía 1.300 elepês e 400 compact-discs. Garante,
ainda, o silêncio respeitoso de admiradores de Gardel como Costa, Dario e
vários clientes do Fofa.
Carlos Gardel e Alfredo Le Pera falam no estúdio da RCA
Victor, de Nova Iorque (1935)
Fonte: Acervo pessoal.
GARDEL, EM CADA TANGO RENASCE PARA OS TANGUEIROS!
ResponderExcluirE, sem dúvida, canta cada vez melhor.
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