Estrangeiros daqui
2013
Luiz Artur Ferraretto
Bem ao ritmo da influência crescente dos Estados Unidos, o
rádio de Porto Alegre nos anos 1930 teve ao seu microfone algumas atrações
internacionais de autenticidade difícil, passado tanto tempo, de ser atestada.
Faziam sucesso, então, cantores e cantoras de pseudônimo com sotaque inglês,
embora, ao soltarem a voz no idioma emprestado, por vezes, permanecesse mesmo
certo acento tupiniquim. E dá-lhe fox na voz destes singers.
Uma das exceções, talvez fosse, Tommy Roberts, atração da
Gaúcha que os jornais de então identificam como húngaro radicado desde a
infância em São Paulo, que aparecia posando de galã com um chapéu à Bogart.
Segundo a Folha da Tarde, em uma passagem por Londres, ele
“conheceu o fox e o fox tomou conta de Tommy
Roberts”. Na programação da época, destaca-se, ainda, a cantora Lilian Lee, do cast da
Difusora, também, intérprete de fox, que conhecia, como descreve o
vespertino da Caldas Júnior, “o inglês de todos os lados, por dentro e por
fora”, provável garantia de qualidade em meio a vocalizações macarrônicas.
Lilian Lee, por sinal, apresentava-se com o Jazz Melody, de Clóvis Mamede, uma
popular orquestra de “música americana” como se usava chamar naqueles tempos.
Tommy
Roberts, cantor da Rádio Sociedade Gaúcha
Fonte: Folha da Tarde, Porto Alegre, 1º dez.
1937. p. 10.
Lilian Lee, cantora da Rádio Difusora Porto-alegrense
Fonte: Folha da Tarde, Porto Alegre, 7 jun.
1937. p. 10.
Já a principal emissora da época, a Rádio Sociedade
Farroupilha, recorria a um crooner americanizado para ganhar
ouvintes e garantir o sucesso: Bob Keeler, cujo sobrenome talvez traísse uma
transcrição errônea do substantivo inglês killer, usado, na época,
à moda de gíria: o matador, algo como o cobra da canção.
Bob Keeler, cantor da Rádio Sociedade Farroupilha
Fonte: Folha da Tarde, Porto Alegre, 5 jul.
1937. p. 14.
No processo de crescimento da influência dos Estados Unidos,
o cinema também tem papel de destaque, com os astros de Hollywood ganhando, até
mesmo, seus correlatos no imaginário local. Assim, dizia-se, por exemplo, que
os galãs da Farroupilha, Ernani Behs e Walter Ferreira, eram o Tyronne Power e
o Clark Gable da Rua da Praia – a rua dos Andradas, mais tradicional via do
centro da capital gaúcha e que, na época, prestava-se ao footing de
final de tarde da burguesia local.
Obviamente, a aproximação com o star-system das
já fortíssimas indústrias culturais dos Estados Unidos parava por aí. Os
salários eram baixos, quando os profissionais não se apresentavam por um cachê
simbólico ou, pior ainda, “de favor”.
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