Arthur Pizzoli e o início do rádio comercial
2007
Luiz Artur Ferraretto
Chove muito em Porto Alegre, prejudicando a recepção das
emissoras de Buenos Aires e de Montevidéu. Aos ouvintes, resta como alternativa
sintonizar a única estação local mantida pela PRC-2 – Rádio Sociedade Gaúcha. O
gerente da Casa Coates, Arthur Pizzoli, tem uma ideia. Quer aproveitar o
inesperado aumento de sintonia, ampliando o número de comerciais dos
refrigeradores Frigidaire e dos receptores Philco, dos quais é o revendedor
exclusivo no Rio Grande do Sul. Por telefone, fala com o agenciador de reclames
Nilo Ruschel. Ainda muito reticente quanto à veiculação de publicidade, a
diretoria da sociedade só aceita anúncios submetidos à apreciação 24 horas
antes de serem lidos ao microfone. Sabendo das restrições, Ruschel, rapidamente,
contata os responsáveis pela PRC-2, tentando convencê-los a aceitar o pedido do
comerciante. Nada consegue. Ao saber da resposta dos diretores da Gaúcha,
Pizzoli, irritado, responde:
– Eu sei o que vocês estão precisando. Vocês estão
precisando de uma emissora concorrente para acabar com este monopólio. Pois eu
vou botar a minha própria estação de rádio.
Do episódio, conforme alguns, surge a primeira estação
exclusivamente comercial da cidade, a Rádio Difusora Porto-alegrense. Outra
versão diz que Pizzoli queria mesmo vender os aparelhos receptores da marca
Philco distribuídos pela Coates. O certo, no entanto, é que o sucesso da
Difusora permite, anos depois, a compra da própria Gaúcha. Tudo amparado, é
claro, no tino comercial de Pizzoli. Um exemplo é o slogan que cria
para as geladeiras vendidas na Coates:
– Não compre um refrigerador, compre um Frigidaire.
Graças à popularidade desta frase de efeito, a marca
torna-se sinônimo de refrigerador no Rio Grande do Sul. É este pendor para o
negócio que o empresário leva também para a Gaúcha no início da década de 1940.
Quem controla a PRC-2, então, é Breno Caldas, tendo por sócio um concorrente da
Coates, Francisco Garcia de Garcia, proprietário da Casa Victor. Conforme Breno
Futuro, genro de Arthur Pizzoli, o gerente da Coates e dono da Difusora começa
a se interessar pela Gaúcha:
– Com a continuação da guerra, foram se criando e agravando
dificuldades para as firmas de eletrodomésticos. Praticamente, tudo era
importado, principalmente peças importantes de reposição. As dificuldades
começaram a se fazer sentir para os aparelhos vendidos. As oficinas de
manutenção das casas Coates e Victor, esta de Chico Garcia, tinham problemas
semelhantes. Para a sobrevivência das mesmas e bom andamento, foi proposta por
Pizzoli uma negociação em que seria permutado o controle acionário da Casa
Coates pelo controle da Rádio Gaúcha, em mãos de Garcia.
Arthur Foltran de Pizzoli, fundador da Rádio Difusora
Porto-alegrense (anos 1940)
Fonte: Diário de Notícias, Porto Alegre, 22 out.
1949. p. 6.
Em 1942, o habilidoso Pizzoli já possui o controle acionário
da emissora. Trata, então, de aproveitar profissionais da Difusora na Gaúcha.
Cândido Norberto Santos, um destes radialistas, descreve assim a situação da
emissora na época:
– Encontramos a Gaúcha tocando disco o dia inteiro,
paupérrima de comerciais, tendo como suporte econômico as dedicatórias. Para
erguê-la, foi preciso levar adiante um lento trabalho de pôr ordem nas coisas.
Entre 1942 e 1944, a Gaúcha atravessa, assim, um período de
reformulação, preparando-se para competir com mais força no mercado. Os
transmissores são reformados e o auditório, ampliado. O balanço de 1943 já
registra um faturamento de Cr$ 465.183,00 (465 mil 183 cruzeiros). No entanto,
com duas das três estações de Porto Alegre em um mercado ainda incipiente,
Pizzoli começa a enfrentar dificuldades de comercialização. Opta, então, por
vender a Difusora, direcionando seus investimentos em rádio para a Gaúcha.
Assim, até o final da década, a PRC-2 faz frente à Farroupilha, escudando-se na
cobertura esportiva – ponto fraco da concorrente – e no espetáculo – área em
que a concorrência parecia imbatível.
Breno Martins Futuro
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 26 de
junho de 1999.
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