A Rádio Gaúcha e a Revolução Constitucionalista de 1932
2007
Luiz Artur Ferraretto
Há 75 anos, o rádio ocupou local de destaque no embate
político e militar que passaria à história como a Revolução Constitucionalista
de 1932. Pelo lado do apoio ao governo federal, a então PRAG – Rádio Sociedade
Gaúcha iria se destacar, fazendo o contraponto, em especial, às transmissões da
Educadora Paulista e da Record, esta última por si palco do primeiro movimento
a encaminhar para o conflito.
No dia 23 de maio de 1932, um grupo de estudantes invade a
Rádio Record, de São Paulo. Um deles, José Branco Lefèvre, lê ao microfone um
manifesto contra o governo revolucionário liderado por Getúlio Vargas:
– Nós, os abaixo-assinados, declaramos que invadimos, à
valentona, os estúdios da Rádio Record e conclamamos o povo para que se mude a
situação política existente no Brasil.
Na mesma noite, uma multidão tenta tomar a sede da antiga
Legião Revolucionária, entidade tenentista transformada no Partido Popular
Progressista. Os manifestantes são repelidos a bala. Quatro estudantes –
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – morrem. Das suas iniciais, surge a sigla
MMDC, que denomina a entidade responsável pela organização da Revolução
Constitucionalista. Até outubro, quando termina o conflito, locutores como
Nicolau Tuma, Renato Macedo e, em especial, César Ladeira leem apelos
revolucionários ao som da marcha Paris Belfort. As emissoras fazem ampla
propaganda do movimento antigovernista.
No Sul, passadas três semanas do início da Revolução
Constitucionalista, em 9 de julho de 1932, a Rádio Sociedade Gaúcha encaminha,
no dia 1º de agosto, um ofício ao chefe de Polícia, tenente-coronel Agenor
Barcellos Feio, e ao diretor regional dos Correios e Telégrafos, Carlos
Thompson Flores Netto, solicitando autorização para estabelecer comunicações
com São Paulo. A respeito, registra o jornal Correio do Povo, no
dia 3:
A Rádio Sociedade Gaúcha, desta capital, há vários dias, vinha recebendo constantes pedidos por parte de interessados para ser estabelecido, por meio de seu microfone, um serviço de comunicações particulares de pessoas que, residentes no estado de São Paulo e aqui de passagem ou com parentes moradores naquele estado, desejem dar notícias suas ou pedi-las daqueles que lá estão.
Com o pedido aceito pelas autoridades, a PRAG começa a
transmitir os comunicados no dia seguinte, a partir das 22h. Nas madrugadas de
sábado para domingo, todos os recados da semana são repetidos. O uso da estação
da Rádio Sociedade Gaúcha não se restringe a esta tarefa informativa. No dia 9
de setembro, o interventor federal do Rio Grande do Sul, general José Antônio
Flores da Cunha, requisita as instalações da emissora. O objetivo, como define
o jornal governista A Federação, é informar, fazendo frente e
acabando com a “campanha de falsificações posta em prática pela Rádio Educadora
Paulista”. A ocupação estende-se até os primeiros dias do mês de outubro.
Neste período, a PRAG opera com o nome de Rádio Oficial. A
programação também sofre alterações. Além das notícias dos matutinos publicados
na capital, lidas das 12 às 12h15, e dos vespertinos, reproduzidas das 21h45 às
22h, passa, junto com as habituais apresentações musicais ou reproduções de
discos oferecidos por casas comerciais de Porto Alegre, a intercalar notícias
sobre a situação política do país, destacando a visão do governo central a
respeito do conflito.
Outra interessante modificação acontece na Audição
Infantil. Transmitida aos sábados, das 19h45 às 20h15, o programa era
conduzido por Ruth Ruschel, interpretando uma preta velha, a Tia Euphrasia, que
contava estórias para as crianças. Ocorre que, durante a intervenção, a
personagem dá lugar ao Coronel Pacífico e à Nhá Chica, desaparecidos quando a
emissora volta a ser a Rádio Sociedade Gaúcha. O curioso é que a revolta
liderada pela classe dominante paulista opunha-se ao crescente poder do
tenentismo dentro do governo federal. Enquanto isto, na Rádio Oficial, saía Tia
Euphrasia e entrava uma dupla em que se destacava um militar e, ainda, com uma
denominação – Pacífico – contrastando com o momento belicoso vivido pelo país.
Talvez os gaúchos pensassem que, se uns invadiam “à valentona” uma emissora de
rádio, outros, pelo jeito, poderiam encarnar, de outra parte, um coronel
“pacífico”.
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