A ESPM, de São Paulo, e a Rádio Sociedade do Rio Grande têm alguém em comum
2013
Willy Cesar
Fundador e ex-diretor (2001-2005) do Museu da Comunicação Rodolfo Martensen, de Rio Grande

O ano é 1931, mês de setembro. De repente, uma emissora de rádio entra no ar, na cidade de Rio Grande, na Zona Sul do estado. Um jovem de 16 anos, com voz grave de trombone, diz assim:

– Esta é a EAX-4, rádio surpresa, transmitindo da rua Andradas, em Rio Grande. Nesta noite, teremos a apresentação do Choro Liberal, poesias e propagandas da Casa Martensen.

Estava inaugurada a primeira emissora (pirata) de rádio da cidade mais antiga do Rio Grande do Sul. O vozeirão pertence a Rodolfo Lima Martensen. Com a ajuda de Antonio Joaquim Barreto, também de 16 anos, a emissora em sua retaguarda técnica incluía rudimentar equipamento de transmissão instalado no quarto de dormir de Rodolfo. No dia seguinte, o jornal Echo do Sul, um dos diários da cidade, dá pequena nota anunciando que, na noite daquele mesmo dia, haveria outra transmissão pela “emissora de rádio”, sem dar seu nome ou prefixo (que era apenas fictício, não era oficial).
Dias depois destas transmissões clandestinas, o agente da Estação Junção Rádio, vinculada aos Correios e Telégrafos, bate à porta dos Martensen. O pai de Rodolfo atende e diz ao homem:

– O senhor pode ficar sossegado que de hoje em diante não vai sair mais nenhuma transmissão de rádio daqui!

– Não, seu Martensen! Nós estamos precisando de uma emissora e o pessoal leva jeito para a coisa. Nós queremos apoiá-los!

Assim surgiu a emissora de rádio de Rodolfo, que viria a ser um dos publicitários mais importantes do Brasil, no século 20.

A rádio pirata transformou-se na Rádio Sociedade do Rio Grande que passou a transmitir oficialmente em 1932, com autorização do Ministério da Viação, onde estavam as comunicações durante o governo Vargas. Rodolfo não pode continuar residindo em Rio Grande porque caiu doente com tuberculose. Transferido para São José dos Campos, curou-se num sanatório. Dois anos depois, fixa residência em São Paulo. E foi fazer a vida, primeiro como vendedor de livros e, depois, como radialista na Rádio São Paulo.
Poucos anos depois, entra na Lintas, do grupo Unilever, para dirigir o departamento de rádio da agência de publicidade. Dali sua carreira só evolui, sendo mais adiante o diretor da Lintas para o Brasil e América do Sul. Em 1952, Rodolfo funda a primeira escola superior de propaganda do Brasil – a ESPM, de São Paulo, contando com o apoio de Assis Chateaubriand, dos Diários e Emissoras Associados, e Pietro Bardi, do Museu de Arte de São Paulo.

Rodolfo Lima Martensen (setembro de 1991)
O fundador da Rádio Sociedade do Rio Grande discursa após ser homenageado com o troféu Rio-grandino Ilustre pela Câmara de Comércio do município.
Fotografia de João Paulo Ceglinski
Acervo particular de Willy Cesar

Rodolfo Martensen veio muitas vezes à cidade natal, passar férias, pescar, velejar pela lagoa dos Patos, ir à praia do Cassino, sorver o vinho na ilha dos Marinheiros e rever recantos de sua juventude. A última vez que esteve em Rio Grande foi em setembro de 1991, para receber o troféu Rio-grandino Ilustre da Câmara de Comércio, quando falou da experiência de rádio pirata e sobre sua carreira.

– Eu ganhei tudo na vida de mão beijada – disse com humildade.

Rodolfo Lima Martensen faleceu em março de 1992, em São Paulo. Em sua homenagem, a Universidade do Rio Grande possui um Museu de Comunicação que leva seu nome.

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