70 anos da Hora do Bicho, o primeiro programa
de calouros do Rio Grande do Sul
2007
Luiz Artur Ferraretto
A grafia adotada na época e em uso até hoje para o seu nome
nem sequer fazia jus à correta pronúncia do apelido artístico adotado por
Antonio Amabile, o Pi-ra-TI-ni, dito assim mesmo como paroxítona e não oxítona.
Pois quando a Rádio Difusora Porto-alegrense inaugurou o primeiro auditório da
capital gaúcha, em 25 de setembro de 1937, lá estava o Piratini, escrito
errado, mas quem ligava. Ele já era conhecido dos ouvintes como músico e
humorista, tendo começado se apresentando na Rádio Sociedade Gaúcha. É, no
entanto, na Difusora que ele vai chamar a atenção com o programa de calouros Hora
do Bicho, lotando as novas instalações da PRF-9.
Na década de 1930, os cabarets e cassinos
já apresentavam números musicais ou de dança, além de sketches.
Contando anedotas e brincando com o público, o cabaretier, espécie
de mestre de cerimônia destas casas noturnas, fazia a passagem entre uma e
outra atração, o que pode ter servido de inspiração para profissionais como
Piratini.
Programa Hora do Bicho (1937)
Em primeiro plano, aparece o conjunto regional de Piratini
e, em segundo, os candidatos. O animador está atrás do garoto que segura a
maceta do bombo.
Fonte: Folha da tarde, Porto Alegre, 4 out.
1937. p. 14.
Assim, no domingo, dia 3 de outubro de 1937, das 11 às 12h,
vai ao ar pela primeira vez o “programa de principiantes”, na definição do
jornal Correio do Povo, a Hora do Bicho, com 16 pessoas
submetendo-se ao concurso em que “Piratini, o humorista da cidade, lá estava no
bombo, como um verdadeiro fantasma para os candidatos à constelação
radiofônica”. Explica-se: quando o calouro não correspondia ao esperado, o
apresentador utilizava o enorme instrumento musical para indicar a
desclassificação.
Nas semanas seguintes à estreia, conforme indicam os
jornais, o auditório da Difusora fica lotado. “Aos domingos, não havia rádio,
em casa de pobre ou de rico, que não sintonizasse o programa máximo de Porto
Alegre”, lembraria, saudoso, Ney Fonseca, em abril de 1961, na Revista
do Globo. A afluência de público obrigou, inclusive, à transferência do
programa, em 1944, para o Cinema Rex. A Hora do Bicho já
ocupava então maior parte da manhã de domingo, das 10 às 12h. Nesta época, os
melhores candidatos recebiam uma coroa e tinham direito a uma espécie de trono
no auditório até que fossem superados por outros pretendentes ou obtivessem o
prêmio final. A Hora do Bicho, com Piratini à frente, consolida-se,
deste modo, como a primeira grande atração dos auditórios das rádios de Porto
Alegre.
Piratini e os candidatos coroados da Hora do Bicho (1944)
Fonte: Revista do Globo, Porto Alegre: Livraria
do Globo, ano 16, n. 316, p. 24, 22 abr. 1944.
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