Sociedade Rádio Pelotense, a primeira do interior do
estado
2012
Luiz Artur Ferraretto
Em 1925, no próspero comércio de Pelotas, a elite trocava
ideias em frequentes e comuns rodas de bate-papo. Em uma delas, no Palácio de
Cristal – loja especializada em louças, porcelanas e cristais importados,
trabalhando também com ferragens e brinquedos –, o proprietário Carlos Sica,
seu irmão Tobias Sica e o primo João Abrantes, além dos amigos Antônio Nogueira
Filho, Baldomero Trápaga y Zorrilla e Alexandre Gastaud, empolgados com a captação
de transmissões das emissoras, em especial, da Argentina, têm a ideia de criar
uma entidade reunindo os adeptos da radiodifusão. Era o embrião da Sociedade
Rádio Pelotense, primeira emissora do interior do Rio Grande do Sul e a mais
antiga ainda em atividade.
Carlos
Sica, um dos fundadores da Rádio Pelotense
Fonte: Acervo particular da família Sica.
Das reuniões iniciais, os seis idealizadores da nova
associação partiram para a convocação de uma assembleia. Neste aspecto, os
dados existentes são confusos. Conforme José Carlos Sica, filho de Carlos Sica
e diretor da rádio de 1953 a 1967, a fundação ocorre em 6 de junho de 1925, o
que é confirmado por esta nota publicada, na terça-feira, dia 9, pelo Diário
Popular, então órgão do Partido Republicano Rio-grandense na cidade:
Ninguém desconhece, hoje, a utilização prática que têm as comunicações radiotelefônicas e radiotelegráficas que, ao lado de transmitir excelentes concertos de boa música e bom canto, conferências de homens notáveis, também prestam serviços ao mundo comercial e industrial na transmissão de preços e cotações de mercadorias.
Foi bem compreendendo esse conjunto de fatores que, sábado último [o dia 6 de junho de 1925], um grupo de amadores, em reunião, fundou a Sociedade Rádio Pelotense. Para encaminhar a organização da novel agremiação foi constituída a seguinte diretoria, composta dos apreciáveis senhores Baldomero Trápaga y Zorrilla, major Alexandre Gastaud, Arthur A. Assumpção, doutor Affonso Gastal, Tobias G. Sica, doutor Bazileu Azevedo e Antonio Henrique Nogueira Filho
No entanto, outro jornal, A Opinião Pública,
traz informação diversa. Sob o título Sociedade Rádio Pelotense –
Sua fundação, registra, em 8 de agosto daquele ano, a criação, na véspera, da
entidade, detalhando a reunião realizada na Biblioteca Pública Pelotense e
iniciada às 20h, quando Baldomero Trápaga y Zorrilla, conhecido “capitalista”,
como eram chamados então os empresários, convida o intendente Augusto Simões
Lopes para presidir o encontro. Os estatutos são lidos e aprovados. As cem
pessoas presentes elegem, ainda, a primeira diretoria: Augusto Simões Lopes,
presidente honorário; Baldomero Trápaga y Zorrilla, presidente; Samuel Moreira,
secretário; e Carlos Sica, tesoureiro. São escolhidos também os demais
diretores, os membros da Comissão de Contas e do Conselho Consultivo. Entre
eles, aparecem sobrenomes de famílias tradicionais na região: Osório,
Assumpção, Simões Lopes, Meirelles Leite e Rheingantz.
Semanas depois, na noite do dia 25 de agosto, Alberto Gomes
inicia a primeira transmissão da emissora, como ele mesmo recordaria décadas
mais tarde, em 1975, ao microfone da Rádio Difusora Porto-alegrense:
– Alô, alô, senhores ouvintes da Sociedade Rádio Pelotense,
de Pelotas. Tenho o prazer neste momento de inaugurar o programa desta
emissora, fundada por uma plêiade de cidadãos que tiveram a ideia deste grande
empreendimento, e assim, vamos procurar, já que não temos ainda a prática
necessária para o mister de um speaker, mas vamos procurar imitar
os portenhos, que já são mais, um pouquinho mais antigos que nós no métier.
Alberto Gomes
Reconstituição levada ao ar no programa Opinião
Pública, de 26 de setembro de 1977, apresentado por José Antônio Daudt,
homenageando o Dia do Rádio.
Fonte: Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.
Começava deste modo a trajetória do rádio no interior gaúcho.
E não poderia ser em outra cidade que não Pelotas, então a mais próspera do Rio
Grande do Sul, tanto cultural quanto economicamente. O município apresentava,
portanto, as condições necessárias para o surgimento de uma associação reunindo
os amadores da radiotelefonia. Havia uma elite com suficientes recursos
financeiros. Era esta parcela da população que sustentava, direta ou
indiretamente, com dinheiro ou com a necessidade de entretenimento, as
frequentes apresentações artísticas, que, com destino às capitais da Argentina
e do Uruguai, faziam ali também suas temporadas. Estas cidades, por sinal,
serviam de referências culturais, em especial para os sem-filistas, que
recebiam as transmissões da Rádio El Día, de Montevidéu, ou das estações
mantidas por casas de espetáculo como o Grand Splendid Theatre e o Abdula Club,
de Buenos Aires. Ao mesmo tempo, os aparelhos receptores começavam a chegar às
casas comerciais pelotenses, despertando a curiosidade dos que podiam
adquiri-los. Em paralelo, a cidade orgulhava-se da sua imprensa e de seus
artistas.
Baldomero Trápaga y Zorrilla, primeiro
presidente da Sociedade Rádio Pelotense
Fonte: Acervo particular da família Trápaga.
José Carlos Sica, filho de Carlos Sica
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 20 de
julho de 1999.
Boa Tarde!
ResponderExcluirEstou muito contente de ler esta matéria , sou sobrinho neto de Carlos Sica e Tobias Sica .
Eduardo bento Sica
Bem orgulhosa do meu bisavô Carlos Sica!!
ResponderExcluirVerdade. Grande abraço!!
ExcluirParabéns! Ótimo documento para a História da Mídia Brasileira!
ResponderExcluirMuito alegria da família Sica ter contribuído neste março histórico das comunicações no Rio Grande do Sul. O Tio de meu bisavo Carlos Sica. Buona giornata a tutti!
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