Os Ganzo, o rádio gaúcho e o telefone no sul do Brasil
2006
Luiz Artur Ferraretto
Juan Ganzo e Edison Ganzo
Fonte: Acervo particular da família Ganzo Fernandez.
Viajar estava no sangue do empresário Juan Ganzo Fernandez, que se dividia entre o Uruguai, o Brasil e a Europa. Na Banda Oriental, este espanhol das Ilhas Canárias encontrou a pátria de adoção – adoção política nas fileiras do Partido Nacional, dos líderes blancos da família Saravia, ao lado dos quais esteve lutando nas revoluções de 1897 e 1904. Dos entreveros contra os colorados, trazia o título de coronel, que ostentava com orgulho. Já o Brasil era o lar escolhido, da família e dos negócios, com destaque para a Companhia Telefônica Rio-grandense, criada e presidida por ele. Da Europa, Ganzo vinha sempre com novidades. Em meados dos anos 1920, não foi diferente. De uma viagem ao Velho Mundo, trouxe a ideia, ainda indefinida, do rádio, a qual, mais do que a ele próprio, vai seduzir a Juan Edison Ganzo Fernandez, o filho, batizado conforme uma mania familiar de homenagear inventores, no caso o da lâmpada incandescente, o norte-americano Thomas Edison.
A rigor, o que o coronel Ganzo propunha não era o rádio propriamente dito, como explicaria, nos anos 1970, um dos integrantes do grupo de pioneiros que começava a se formar, Evaristo Bicca Quintana:
– O Edison, eu mesmo e mais alguns amigos nos empolgamos com a ideia que nos expôs o coronel Juan Ganzo Fernandez, que conhecera, na Europa, as emissões domiciliares através do telefone.
A utilização das linhas da Companhia Telefônica Rio-grandense era uma forma engenhosa de driblar a ausência de receptores e, talvez, engordar a receita da empresa. Enquanto Ganzo procura convencer seus colegas de diretoria, o núcleo de entusiastas que, mais tarde, daria origem à Rádio Sociedade Rio-grandense torna públicas suas intenções, em 3 de abril de 1924, graças ao bom relacionamento com os jornalistas de A Federação, alguns deles também atraídos pela ideia:
Um grupo de jovens aqui residentes pretende instalar, nesta capital, um serviço de irradiações fônicas a domicílio, mediante modesta mensalidade, a fim de que possam gozar de tão importante melhoramento até mesmo as pessoas menos abastadas.
As irradiações fônicas consistem na transmissão a domicílio da radiotelefonia recebida do Rio, Buenos Aires e Montevidéu. Também serão transmitidos a domicílio: concertos, discursos, conferências, séries humorísticas, poesias, audições teatrais, receitas úteis para as famílias, notícias importantes e tudo aquilo que possa interessar às famílias.
Segundo Evaristo Bicca, a sugestão de envolver no projeto a empresa controlada por ele não prospera:
– Dentro da própria Companhia Telefônica Rio-grandense, o coronel Ganzo encontrou, por parte de outros diretores – Victor Coussirat de Araújo e Viterbo de Carvalho – objeções ao projeto que acabou não passando disso.
Evaristo Bicca
Entrevista realizada por João Paulo Flores em 1984.
Fonte: Acervo particular de João Paulo Flores.
A solução veio inspirada na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, captada com dificuldades na capital gaúcha. Os amadores da radiotelefonia, como eram chamados então, iriam trilhar o caminho do associativismo, criando nos meses seguintes uma entidade quase homônima à de Edgard Roquette-Pinto. Na fundação desta Rádio Sociedade Rio-grandense, destaca-se Edison Ganzo, em quem, gradativamente, cresce o interesse pelos aspectos técnicos da radiodifusão. É ele que, com Evaristo Bicca, busca em Buenos Aires o equipamento transmissor a ser usado pela estação pioneira do Rio Grande do Sul, que vai operar, de modo esporádico, de 7 de setembro de 1924 até meados do ano seguinte. Mais tarde, o mesmo Edison Ganzo ajudaria, com seus conhecimentos, a criar a segunda emissora de Porto Alegre, a Rádio Sociedade Gaúcha.
Assim, a irradiação inaugural da radiodifusão gaúcha naquele Dia da Independência não poderia mesmo ocorrer em outro lugar. É na Vila Diamela, a ampla propriedade dos Ganzo, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, que nasce o rádio no Rio Grande do Sul. Atravessa, hoje, o local da antiga propriedade uma ampla avenida que leva o nome da família de origem hispânica.
O rádio, no entanto, não seria a única inovação ligada à família Ganzo. Graças à Companhia Telefônica Rio-grandense, Porto Alegre inaugura, em 19 de abril de 1922, o seu sistema de telefonia automática, um avanço tecnológico, na época, inédito em toda a América do Sul, compartilhado apenas com Rio Grande, também por obra da empresa. Antes disto, todas as ligações dependiam sempre de uma intermediação da telefonista. Fora isto, a família participa de empreendimentos como a Companhia Rio-grandense de Usinas Elétricas, com centrais em várias cidades do estado. Quando, em meados dos anos 1920, seus negócios em telefonia são vendidos para um grupo dos Estados Unidos, o coronel Ganzo dedica-se a um zoológico montado na sua propriedade no Menino Deus, o primeiro do estado. Em 1927, a família transfere-se para Florianópolis, passando a explorar os serviços de telefonia na capital catarinense, dando continuidade a uma trajetória de intensa ligação com a comunicação eletrônica, trajetória interrompida em fins da década de 1960, com a encampação da empresa pelo governo ditatorial do general Costa e Silva.
Carlos Alberto Ganzo Fernandez, neto de Juan Ganzo Fernandez.
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 2 de junho de 1999.
Lincoln Ganzo de Castro, neto de Juan Ganzo Fernandez
Entrevista realizada por Luiz Artur Ferraretto em 13 de julho de 1999.
Quem busca dados biográficos sobre Karl Otto Friedrich Bünsche no Google, absolutamente nada vai encontrar. Encontrei um manuscrito dele, intitulado Carreira, onde sintetiza seu currículo profissional. Nasci em 3-5-1889 em Zerbst, na Alemanha; cursei o curso ginasial na escola alemã em Gênova (Itália). Fiz uma aprendizagem de cerca de 3 anos em estabelecimentos eletromecânicos em Gênova e Ratheno (ilegível, Alemanha), para depois me matricular na Escola Superior de Técnica de Bremen, onde em 17-9-1910 fiz o meu exame final em Eletrotécnica. A fim de encontrar futuro entrei em princípio de 1910 como Montador na Siemens e Halske A. G. Wencorwerk (ilegível) Berlin, na qual depois de ter trabalhado em instalações elétricas na marinha alemã, me especializei em telefonia em geral e automática. Depois de um período de 2 ½ anos fui encarregado de serviço na Itália, Roma e Gênova, passei a fazer parte do pessoal de pesquisas de telegrafia sem fio submarina 1915-1918. Em 1920, fui incumbido de dirigir as instalações automáticas da Companhia Telefônica Rio-Grandense em Porto Alegre, motivando isso a minha vinda ao Brasil, onde cheguei em 1-5-1920. Morou em Porto Alegre na Rua Amoroso Costa nº 105, então Passo da Mangueira. A partir dali, segue sua longa trajetória pelo Rio Grande do Sul, além de 1928, pois, não consta data de sua assinatura. Quem tiver dados sobre ele, entre em contato comigo, José Alfredo Schierholt, fone (51) 3714-3695 ou schierholt@gmail.com
ResponderExcluirBaita informação. Prbns
ResponderExcluirAgradeço.
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