Landell de Moura e o wireless
2013
Luiz Artur Ferraretto

Hoje, a expressão inglesa “wireless” é palavra-chave para compreender o processo de comunicação eletrônica, cada vez mais móvel, cada vez mais fundamental no dia a dia. Poucas vezes, fruto de uma submissão crescente ao quem vem de fora, usa-se “sem fio”, a sua versão em português. Na sua matriz, na Grã-Bretanha e, logo, nos Estados Unidos, quando começou a ser empregada, lá pelo século 19, representava já uma revolução. E se confundia com outro verbete, “radio”, este importado do latim. Dela, origina-se o verbo inglês “to radiate” – em português, emitir raios –, que, de acordo com o Oxford English Dictionary já é usado com este sentido no século 17 e, mais tarde, no 19, para a transmissão de qualquer tipo de energia na forma de raios ou de ondas. Como prefixo, segundo a mesma fonte, “radio-” vai formar palavras substituindo a expressão “wireless” a partir de 1881 e adquire, na década de 1900, significado independente como sinônimo destas, dos aparelhos empregados e mesmo da mensagem específica transmitida através de telegrafia ou de telefonia por ondas eletromagnéticas.

Oxford registra que a palavra “radio” só passa a ser usada em relação ao meio de comunicação específico em 1922, embora Lee De Forest, um dos cientistas pioneiros deste campo, a tenha utilizado em sentido semelhante em um artigo publicado no ano de 1907. Já o verbo “to broadcast” e o substantivo “broadcasting”, originariamente referências à ação de semear em várias direções, começam a ser empregados, significando, conforme o mesmo Oxford, disseminar qualquer tipo de mensagens, no início dos anos 1920, por rádio e, posteriormente, por televisão.

De fato, falava-se, então, tanto em telegrafia sem fio, em telefonia sem fios e até em comunicação sem fios quanto em radiotelegrafia, radiotelefonia e radiocomunicação. Daí, certa confusão entre o que era uma tecnologia mais abrangente e aquela específica de um meio – o rádio –, que os pioneiros nem imaginavam ser possível. O que gente como o italiano Gugliemo Marconi ou o brasileiro Roberto Landell de Moura queriam era – fique claro – conectar dois pontos pelas ondas eletromagnéticas e transmitir mensagens de texto ou de voz entre eles. Outra coisa seria irradiar falas e música de uma estação para vários receptores. Isto tira o mérito de um Roberto Landell de Moura? Não, pelo contrário, amplia. O brasileiro, em realidade, não inventou o rádio ou a televisão, que são criações coletivas, o que não diminui em nada a sua importância, a de grande pioneiro das comunicações, sem dúvida o mais importante deste canto do planeta. Basta você dar uma olhada em seu entorno. Não há quase sempre alguma traquitana eletrônica que tem em sua base a ideia do wireless, do sem fio, das transmissões de sinais por ondas eletromagnéticas? Bem no início de tudo isto havia lá o dedo de um brasileiro: Roberto Landell de Moura, gaúcho, nascido em Porto Alegre no dia 21 de janeiro de 1861.

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