Saudade palavra doce
Que traduz tanto amargor
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor.
Saudade, ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e por que
Volta Pery:
– Perfume do passado! As ondas hertzianas vivem
cheias desse perfume, pela execução inteligente de seus programas. Chamam-nos
de vários nomes: Hora da Saudade, Recordar é Viver, Naquele Tempo... PRH-2 e
seus ouvintes desde este instante o terão sob o romântico apelido de Perfume
do Passado! Quero que a nossa saudade seja perfume, para que a sintamos
suavíssima, sem lágrimas nos olhos, sem aperto no coração, sem pena nem
remorsos, mas apenas com saudade.
Logo depois, anuncia a música Amor Perfeito,
interpretado pela orquestra da PRH-2, regida pelo maestro Salvador Campanella:
– A nossa caixa
de música vai abrir-se. Vamos sentir, subindo como um perfume, as notas musicais
de uma página do passado.
E arremata após o
final da execução:
– O maestro
Campanella e seus colegas nos fizeram ouvir uma canção que talvez fizesse
sonhar muita cabecinha linda, hoje embranquecida, nos serões e saraus daquele
tempo. Mas vamos dar a palavra ao Ruy, um instante. Depois voltamos às nossas
recordações.
Logo após os reclames
comerciais lidos pelo locutor, começam as histórias.
– Voltemos à rua
Venezianos, numa noite de maio há 25 anos, entre o alarido da garotada travessa
e a cantoria ingênua das moças de então. Entre a roda travessa dos guris e a
roda alinhada das meninas, um lampião de querosene. Luz mortiça, sonolenta,
piscando como uma criança com sono. E, sob ele, mudo e quedo, o vulto de um
rapaz... horas a fio... e lá, a mais de 20 metros, no quadro escuro de uma
janela, uma cabecinha mal distinta. Eram os amorosos do tempo. Toda noite,
aquela adoração muda... Para cobrar o silêncio resignado daquela afeição, altas
horas, a mudez do bairro era despertada pela voz, nem sempre harmoniosa, do
trovador enamorado. Ou então um grupo de amigos, boêmios de alma enluarada,
dizia a Julieta o amor de seu Romeu, pela voz harmoniosa dos violinos.
E volta a
orquestra, desta vez com Estrela Dalva.
Assim vai
seguindo a noite de estreia de Perfume do Passado, que finaliza com um
pedido de Pery aos ouvintes:
– A iniciativa deste programa está realizada. Fica aqui o seu primeiro passo. Telefonem, escrevam, dizendo se ele merece o vosso acolhimento, ou quais as suas falhas. Perfume do Passado quer acordar nos velhos uma saudade boa e mostrar aos moços as belezas e os encantos daquela época. Uns e outros podem colaborar conosco, enviando-nos músicas antigas, canções e anedotas de então, lembrando feitos e acontecimentos, apontando tipos que estejam quase esquecidos... Tudo que se viveu naquele tempo e que hoje chega até nós, suavemente, como um perfume do passado!
E os ouvintes telefonam, escrevem, mandam suas histórias, de todos os cantos do Rio Grande. Porque sim, Perfume do Passado mereceu o acolhimento do público e conquistou para Pery e Estelita uma nova legião de fãs. No total, foram ao ar 117 edições do programa.
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