O rádio nas lembranças de Luiz Figueredo
2020
Texto baseado em entrevista concedida por Luiz Figueredo em 25 de outubro de 2003. 
Luiz Artur Ferraretto
 
Luiz Figueredo (2006)
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Ulbra (fotógrafa Natasha Teske).

Luiz José Biernfeld Figueredo era profissional de bastidores, atuando na cozinha do jornalismo. Teve larga carreira em todas as áreas da profissão. Em rádio, exerceu cargos de chefia em emissoras como Gaúcha, Guaíba e Pampa.

Falecido no dia 12 de fevereiro de 2007, começou a sua carreira em 1960, aos 14 anos, na Rádio Triunfo, que, apesar de ter a outorga para a cidade de mesmo nome, funcionava em Porto Alegre, em um edifício da Coronel Vicente. Em 1963, já com carteira assinada, passa a trabalhar na sucursal do jornal Última Hora em Novo Hamburgo, no Vale do Rio dos Sinos. Lá, no mesmo ano, atua na Rádio Progresso, das Emissoras Reunidas, fazendo os noticiários:

 As Emissoras Reunidas não tinham força nenhuma no conjunto que se pretendia dar – eram frequências locais –, mas, nas comunidades, eram fortes. Em Novo Hamburgo, o prefeito nunca ouviu a rádio, nenhum vereador, nada, nada, nada... Tinha futebol na rádio e ninguém ouvia.

A grande atração da rádio, na época, meados dos anos 1960, era o Sábado de Festa, a partir das 13h, com uma bandinha alemã tocando de meia em meia hora no pequeno auditório da emissora, “uns 40 lugares”, conforme Figueredo. 

No final da década, já na Rádio São Leopoldo, também das Reunidas, Figueredo idealiza, junto com Ribeiro Pires, um radiojornal para as 22h, com uma hora de duração. Começa, assim, a sua trajetória de criação de programas informativos.

Em 1968, transfere-se para Porto Alegre, trabalhando em Zero Hora. No ano seguinte, vai para o jornal Diário de Notícias, como editor de Polícia, e para a Rádio Farroupilha, como chefe do Jornalismo, dando apoio a Celito De Grandi, que, além dos dois veículos, ainda trabalhava também na TV Piratini, todos dos Diários e Emissoras Associados. O jornalismo da Farroupilha produzia o Repórter Sulbra, com quatro edições diárias, além de um radiojornal às 23h, talvez ainda o Grande Jornal Farroupilha. Os locutores noticiaristas trabalhavam junto à redação do Diário no centro de Porto Alegre.

Na virada para a década de 1970, volta para Zero Hora, onde, em seguida, passa a chefe de redação. Acompanha a transferência do jornal para as instalações da avenida Ipiranga. Com a família Sirotsky controlando ZH, Figueredo assume o jornalismo da Rádio Gaúcha. De onde se transfere para Blumenau, em 1972, trabalhando três meses como editor do Jornal de Santa Catarina.

De volta para Porto Alegre, fica de 1972 a 1979 na Gaúcha. Na emissora, trabalha como chefe de jornalismo. Os principais noticiários da época são A Grande Edição, um radiojornal às 8h da manhã, e o Correspondente GBOEx, síntese noticiosa com quatro edições, às 8h, 12h45, 18h45 e 21h. No período em que comanda o jornalismo, é criado ainda o Gaúcha Informa, com edições de meia em meia hora e de quatro a cinco notícias por hora, por vezes com a participação de repórteres. Em 1976, a emissora já está bem-estruturada com redatores, repórteres, editores e chefes de reportagem por turno, possuindo quatro unidades móveis, que começam a ser usadas depois da Copa do Mundo de 1974. Neste período, em meados dos anos 70, surge o radiojornal Chamada Geral, às 17h. É o início do processo que vai levar a Gaúcha a liderar o radiojornalismo no Rio Grande do Sul:

Celestino Valenzuela e Paulo Sant’Ana batalhavam pelo esporte. Eu já fazia um radiojornalismo, que era bem pequenininho. Batalhava por mais espaço. Nós três... Há o Cândido com o Sala de Redação. E o Nelson Sirotsky assume a rádio. O Celso Ferreira era o gerente da rádio. O Sant’Ana fazia jornada esportiva antes do Sala. Ele era repórter esportivo na redação da Zero Hora. O Mendes Ribeiro empregou o Sant’Ana na Zero Hora. Esse grupo aí começa. Porque, na Copa de 70, a Gaúcha não vai. Vai só o Willy Gonser para se integrar na equipe da Nacional. Narra um jogo a cada dez dias. Daí é que eu digo: o Sant’Ana é importante. O Celestino foi o primeiro chefe de esportes. Depois, há ainda o Antônio Britto. O Nelson cria um Conselho de Programação na rádio, quando fica de gerente, que era ele; o Cândido Norberto, que era o mais experiente de nós todos; o Celso Ferreira, que era o gerente de programação; e eu, que era o de jornalismo. Na reformulação, também tiveram papel de destaque, nessa época, Eridson Lemos, Valdir Barbosa Paz, Cleiton Selistre e Tairo Arrial.

Os anos 1970 são também os da censura imposta pelo regime militar:

Ou atendia à censura ou a rádio saía do ar. Eles chegavam lá, notificavam o chefe de departamento ou o editor da hora. Aí, tu eras obrigado a assinar uma cópia... Polícia Federal... “Por ordem do Ministro da Justiça informa... a Polícia Federal... fica proibido isso, aquilo, aquilo outro. Quem não sei o que incorre nas seguintes penalidades...” E a gente assinava.

Entre os assuntos censurados, está o golpe militar de 11 de setembro de 1973, no Chile, quando Augusto Pinochet derruba o governo constitucional de Salvador Allende. Outro fato que tem a sua divulgação proibida é a cassação do vereador do MDB, Marcos Klassmann, em 1976:

Eu não tinha recebido nada. Era um sábado. Eu era o chefe, mas tava de plantão. Aí, chegou lá um censor: “Ouvimos que saiu. Estava proibido”. Aí, eu disse: “Ah, bom! O que saiu, saiu! Não tenho que mentir. Tá aqui na edição de quinze para a uma.”. “É, mas tava proibido.” “Olha, eu não recebi nada.” Parece que alguém tinha recebido de madrugada e não tinha me avisado. Eu não sabia de nada e toquei a notícia no ar. “Pois é... Vou te levar preso.”
Foi um bolo. Vai, não vai. E eu: “Quem sabe vamos ligar para o Nelson?”

Aí, ligaram para o Nelson. O Nelson: “Deixa que eu vou aí.” O Nelson chegou: “Olha, se o senhor acreditar em mim, que sou o filho do dono da rádio, o Figueredo jamais faria alguma coisa se ele soubesse que era proibido.” 
O cara disse: “Fica assim por esta, mas não pode ter outra”.

Em 1979, Figueredo transfere-se para a Guaíba, de Breno Caldas, trabalhando diretamente subordinado a Armindo Antônio Ranzolin. Na emissora, ajuda a organizar a cobertura da visita do papa João Paulo II a Porto Alegre, em 1981; cria o Jornal da Tarde, no mesmo ano; reestrutura o Correspondente Renner, em 1982; e comanda a cobertura das eleições daquele ano, a última grande vitória da Guaíba sobre a Gaúcha neste tipo de abordagem jornalística:

Quem é que segurou a bronca da eleições na Caldas Júnior? Eu, que era o chefe; o [Marco Antônio] Baggio; o [Antônio Carlos] Macedo; e o velho Caldas Milano, que era o cara que ajudava na área de computação. Aí a gente dividiu o estado. Eu fui para um lado, o Baggio para outro e o Macedo para outro. Fechamos os correspondentes. Fizemos a apuração paralela, usando credenciais de partidos. Foi usada uma fórmula matemática para definir o momento em que o candidato vitorioso poderia ser apontado com segurança pela apuração paralela.

Com o apoio do Centro de Processamento de Dados do GBOEx, a apuração paralela foi um sucesso. No programa, foi embutida então a possibilidade de saber quando a eleição estaria ganha matematicamente por Pedro Simon, do PMDB, ou por Jair Soares, do PDS.

 Como a disputa foi muito ferrenha, a Guaíba anuncia o resultado na sexta-feira à noite, véspera do fechamento da apuração oficial. Na Gaúcha, o esquema de apuração furou e começaram a colocar projeções no ar. Daqui a pouco, tinham mais votos do que eleitores no Rio Grande do Sul. Tiveram de parar e recontar tudo. E nós não paramos e acertamos.

Em 1984, com a Guaíba enfrentando a mesma série de problemas que acabaria suspendendo a publicação dos jornais Correio do Povo e Folha da Tarde, também da família Caldas, Luiz Figueredo transfere-se para a Rádio Pampa, de Otávio Gadret. Antes, passa dois anos trabalhando na TVE com Cândido Norberto.

Quem comanda o projeto de radiojornalismo na Pampa é o José Augusto Baches de Oliveira, que havia sido contato comercial na Guaíba. O primeiro a ser contratado é Adroaldo Strech. Lauro Quadros foi o terceiro. Entrei logo depois. Na sequência, são contratados Rogério Mendelsky, Walter Galvani, Tânia Carvalho, José Barrionuevo... 
Mas quem organizou a programação fui eu. Não recordo os nomes dos programas. Iniciava às 6h com Joabel Pereira. Às 8h, entrava Adroaldo Streck, que abre espaço para Rogério Mendelsky e José Barrionuevo. Em seguida, Mendelsky ganha um programa próprio. Às 10h, entrava Lauro Quadros. Do meio-dia às duas da tarde, Walter Galvani ocupava o microfone. Na sequência, ficava Tânia Carvalho, que, mais tarde, iria para a faixa da manhã. 
Eram poucos repórteres... Uns quatro ou cinco. Na redação, era o mínimo possível para a produção do Correspondente Alfred, lido por Lauro Hagemann, em quatro edições: 8h, 12h, 18h e 20h. O slogan adotado era: “Venha para o meio do rádio”.

Na segunda metade da década, Figueredo teria importante passagem pelo Correio do Povo, já então sob o comando de Renato Ribeiro. Seria o responsável pela reformulação do jornal, que chega a ser distribuído a preço simbólico após ter o seu formato reduzido de standard para tabloide. Trabalha também com assessoria. Ao falecer, em 2007, atuava na função dentro da Universidade Luterana do Brasil. Hoje, uma rua de Porto Alegre, no bairro Passo das Pedras, leva o seu nome.

Inauguração da rua Luiz José Biernfeld Figueredo (17 de dezembro de 2008)
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Ulbra (fotógrafo Aldrin Bottega).

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