Edy Amorim, um apaixonado pelo rádio
2023
Luiz Artur Ferraretto

Edy Amorim (anos 1990)
Fonte: Acervo de Leonel de Souza.

Ele adorava tanto Porto Alegre, que costumava brincar. Dizia que, quando morresse, iria convidar o poeta Mário Quintana para juntos passearem pela Rua da Praia e pela Praça da Alfândega. O amor pela capital não era maior do que o pela sua cidade natal, São José do Norte. A suplantar quereres pelas cidades onde viveu e onde nasceu só mesmo a sua adoração pelo rádio e o seu respeito pelo público. Edy Rosário de Oliveira Amorim fez tanto sucesso no rádio popular de Porto Alegre que chegou a receber um convite para se transferir para a Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Não foi. A família pesou na decisão, o que também diz muito a seu respeito.

Quando eu cursava o então Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fiz muitas entrevistas e pesquisei em jornais e documentos. Localizei o que pude para tentar contar a história do rádio deste canto do país. O resultado: a dissertação de mestrado Rádio no Rio Grande do Sul (anos 20, 30 e 40): dos pioneiros às emissoras comerciais e a tese de doutorado Rádio e capitalismo no Rio Grande do Sul: as emissoras comerciais e suas estratégias de programação na segunda metade do século 20, publicadas na forma de livro, respectivamente, em 2002 e 2007. Durante a produção dessas obras, ouvi várias referências a Edy Amorim como um dos principais radialistas populares do Rio Grande do Sul. Infelizmente, não consegui localizá-lo. Trata-se de uma lacuna que tento, agora, preencher.

Sei que parte da história do rádio sobrevive na memória dos ouvintes. E, infelizmente, por falta de registro pode desaparecer junto com o seu público. Do rádio popular gaúcho dos anos 1960 e 1970, sobraram poucos áudios. Neste ano de 2023, por meio de Maria de Fátima Amorim, filha de Edy, recebi informações e, mais do que tudo, um pequeno tesouro: trechos de programas do pai dela na Rádio Minuano, de Rio Grande. Pois esta, então, é uma parte da história do radialista.
Edy Rosário de Oliveira Amorim nasceu em São José do Norte, no dia 21 de setembro de 1938. Coincidentemente a data seria consagrada, durante décadas, como a do Dia do Radialista. Oriundo de família humilde, começou a trabalhar muito cedo. Foi carroceiro e, depois, porteiro do Cine Teatro Independência, na sua cidade natal. Aos 16 anos, com o estímulo e a ajuda do seu irmão mais velho, que o observava brincando de rádio, começou a trabalhar em um sistema de alto-falantes.
Em 1958, foi servir ao exército em Pelotas. Num dia de folga, resolveu ir até a Rádio Tupanci para fazer um teste. Foi aprovado, mas o diretor achou melhor que Edy terminasse o período de quartel para depois assumir um programa na emissora. A experiência serviu para deixá-lo com a autoestima elevada. Retornando para São José do Norte, logo em seguida, foi contratado pela Rádio Minuano, de Rio Grande. 
Edy ficou pouco tempo na emissora. O prefeito de São José do Norte, Dario Futuro, do Partido Trabalhista Brasileiro, providenciou a sua ida para Porto Alegre com uma carta de apresentação para a Rádio Itaí. Na emissora, o radialista fica 15 anos, trabalhando em programas como Turfe e Boa Música e, em especial, Café da Tarde, um dos mais ouvidos daquele período. Nos anos 1970 e 1980, passa pelas rádios Gaúcha, Farroupilha e Capital. Em 1983, chega a apresentar o Gaúcha na Madrugada. No ano seguinte, na Farroupilha, comanda o programa A Noite é Nossa. Muito ligado à cultura gaúcha, faz, na Rádio Capital, o Capital CTG, programa que contava, semanalmente, com a participação de Paixão Côrtes. Era amigo de outro grande tradicionalista, o cantor e compositor Leonardo, autor de Ceú, Sol, Sul, Terra e Cor, um dos hinos da música gaudéria. Orgulhava-se de ter recebido, pelo seu talento como declamador, um troféu das mãos do poeta Mario Quintana. Uma amostra desse talento aparece no chorinho Lua Cheia, de Nadir do Cavaquinho, que evoca a cidade do Rio Grande.
Lua Cheia, de Nadir do Cavaquinho
Composição de Everton Luís e Nadir do Cavaquinho.
Edy Amorim faz a parte declamada.
Fonte: Acervo da família Amorim.
A última rádio em que trabalhou foi exatamente a em que começou a sua carreira, a Minuano, de Rio Grande, onde apresentou os programas As Eternas Sucesso Absoluto, com flashbacks, e Minuano na Madrugada, com a participação de ouvintes.
Edy Amorim no Minuano na Madrugada
O radialista conversa com Marlene Correa e Marcelo Conde,
ouvintes frequentes do programa.
Fonte: Acervo da família Amorim.
Morador de Porto Alegre por 30 anos, Edy Amorim recebeu o título de cidadão da cidade. Além de radialista era formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Viúvo, tinha sete filhos, nove netos e três bisnetos, quando faleceu, em 17 de abril de 2012. 

4 comentários:

  1. Que maravilha, inclusive a voz das vinhetas é a minha...Edy Amorin meu amigo e ídolo!

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  2. Adorava ouvir ele na itai, 1974, e depois, entre 80 e 82, na radio capital AM onde tinha sempre como fundo musical a música: Look for a star com Billi Vaughn. Fiquei sabendo no início de 2012 que ele tava afastado do rádio, tava na cidade dele e que trabalhava como advogado.

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  3. Sempre tive a curiosidade de saber que rumos o querido Edy tinha tomado, pois depois de 82 eu não ouvi falar mais dele.

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  4. Meu pai, que trabalhou 20 anos na gaucha, conheceu ele. O pai era o Gilberto Raimundo.

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Em breve, estaremos analisando a sua postagem. Grato pela colaboração.