Cândido Norberto, o início de carreira do mais importante
radialista gaúcho
2006
Luiz Artur Ferraretto
No início dos anos 1940, o bageense Cândido Norberto Santos
divide seu tempo entre o estudo e o trabalho como repórter na Folha da Tarde, então um sucesso
editorial. Por vezes, acompanha o colega João Bergmann, o Jotabê, conhecido
cronista das coisas de Porto Alegre, à Rádio Difusora Porto-alegrense e vai
tomando contato com o veículo que marcará sua trajetória profissional ao longo
das sete décadas seguintes.
– O Jotabê era locutor da Rádio Difusora e, como nós
trabalhávamos juntos na Folha pela
parte da manhã, era comum que almoçássemos também juntos e, depois, a partir de
certo momento, continuássemos a conversa na Rádio Difusora, que era a “PRF-9 –
Rádio Difusora Porto-alegrense, a sua emissora”. Era o slogan dela. Enquanto rodava um disco e outro, ficávamos
conversando dentro do estúdio. Uma tarde, por estas coisas da vida, houve um
imprevisto e ele teve de sair urgentemente para atender um telefonema, mas o
telefonema se prolongou. Abriu o microfone e o operador fez sinal... E eu li
uns textos. A partir daí, fui convidado para fazer locução comercial. Já entrei
também como redator de textos comerciais. Logo em seguida, já estava fazendo um
comentário chamado O Fato e Algumas Palavras,
que ia à noite.
Da Difusora, tempos depois, Cândido passa a trabalhar na Rádio
Gaúcha, ambas as emissoras, na época, sob o controle de Arthur Pizzoli. A
versatilidade já marca, então, a carreira do radialista.
– Certa vez, eu saí de um jogo do campo do Força e Luz [time de futebol da empresa que fornecia
energia elétrica à capital gaúcha]. Eu estava narrando um jogo de futebol em plena Semana Santa.
Saí do campo, larguei o microfone, entrei correndo no estúdio, na rádio, e
começamos a tratar da interpretação da vida, paixão e morte de Jesus Cristo.
Por sinal, era uma Quinta-feira Santa. Sabe quem era o Jesus Cristo? Eu. Aquele
santíssimo homem. [fazendo o sinal da
cruz] A paz esteja convosco! Saí da narração estridente de um jogo de futebol
para fazer o suave Jesus Cristo. Era algo alucinante.
Como diretor artístico da Rádio Gaúcha, Cândido protagoniza
duas iniciativas pioneiras na radiodifusão do Rio Grande do Sul. Numa época de
novelas transmitidas duas ou três vezes por semana, ele introduz a irradiação
em capítulos diários apresentados na primeira parte do programa Tapete Mágico. A atração faz o sucesso
das noites da Rádio Gaúcha, de segunda a sexta, das 20 às 21h, na virada da década
de 1940 para a de 50. Além disto, em 14 de maio de 1949, Cândido torna-se o
primeiro profissional de rádio do Rio Grande do Sul a transmitir um jogo de
futebol fora do país. Nesta fase, fazendo frente à Farroupilha, Cândido
contrata, também, Walter Ferreira e Adroaldo Guerra. Junto com eles, cartazes
de destaque no rádio porto-alegrense, divide, em 1948, os papéis principais de Os
Três Homens Maus, novela de Raymundo Lopes, um grande sucesso junto ao
público:
– A coisa chegou a
tal extremo de popularidade, de força, que o mais frequente era encontrar, em
qualquer ponto de Porto Alegre, Oficina Mecânica Três Homens Maus, Padaria Três
Homens Maus, não-sei-o-que Três Homens Maus...
Cartão promocional da novela Os Três Homens Maus (1948)
Da esquerda para a direita, Cândido Norberto, Adroaldo Guerra
e Walter Ferreira.
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, 9 jul. 2001. p. 46.
Cândido fica conhecido, também, pelo Pensando em Voz Alta ,
espaço de opinião sempre marcado pela Glenn Miller Orchestra interpretando Moonlight
Serenade, que serve de cortina musical. O comentário torna-se um dos tantos
trabalhos do radialista a permanecer na memória dos ouvintes. Décadas depois,
numa homenagem ao Dia do Rádio, em 1975, a pedido da produção do programa Opinião Pública, de José Antônio Daudt,
na mesma Difusora em que começara sua carreira, Cândido relembraria os tempos
de pensar em voz alta, não que deixasse de refletir assim nas três décadas
seguintes. Até porque, nem só dos tempos do rádio espetáculo se fez a sua
trajetória profissional. Por isto, sobre o Cândido, há que voltar a falar,
mesmo, mais adiante. São décadas de rádio e 79 anos de vida completados no dia
18 de outubro deste 2006.
Cândido Norberto revive o comentário Pensando em Voz Alta
(1977)
Entrevista realizada por José Antônio Daudt para o programa Opinião Pública, da Rádio Difusora
Porto-alegrense, transmitido em 26 de setembro de 1977.
Fonte: Acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa.
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