Antônio Carlos Macedo e
a Gaúcha nos Jogos Olímpicos de 1992
2016
Luiz Artur Ferraretto
Do
ponto de vista radiofônico, uma das coberturas mais complicadas acaba sendo a
dos Jogos Olímpicos, ainda mais considerando o pouco apoio, por exemplo, ao
atletismo no Brasil. Isto explica certo desinteresse do público e a redução,
durante algum
tempo, do acompanhamento jornalístico, neste tipo de evento, às partidas de futebol. Há
que considerar também a dificuldade de descrever competições cujas regras não
são de domínio de todos os ouvintes e, mesmo, de alguns profissionais. No Rio
Grande do Sul, isto começa a mudar em 1992, com o trabalho realizado por Antônio Carlos Macedo, da Rádio Gaúcha,
na Olimpíada de Barcelona. Antes, a emissora do Grupo RBS acompanhara a Seleção Brasileira na disputa do futebol, com João Carlos Belmonte, nos jogos de 1984,
em Los Angeles, e, com Claudio Dientsmann, do jornal Zero Hora, de 1988, em Seul. No entanto, a primeira cobertura de uma
Olimpíada em si por uma rádio do estado foi a realizada no ano de 1992, em Barcelona. A respeito,
Macedo recordaria em depoimento ao Projeto Vozes do Rádio – http://eusoufamecos.uni5.net/vozesdoradio/
–, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul:
Agora, nessas coberturas, sem dúvida nenhuma, a mais importante para mim foi a cobertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, que foi, a rigor, a primeira cobertura de Olimpíada efetivamente da rádio. A Rádio Gaúcha já tinha estado em Los Angeles, em 1984, com o Belmonte, mas ele foi com uma função muito específica. Cobrir as atividades do Internacional, que representava o time de futebol. Ele fez futebol apenas, a rádio não deu importância ao evento como uma competição esportiva mundial. Deu importância ao time do Inter lá.
Em 1988, eu cheguei a estar pré-escalado para ir para a Coréia, mas. por questões econômicas, a empresa resolveu que Pedro Ernesto iria cobrir um torneio de futebol, que foi o Torneio da Independência, na Austrália, e que a cobertura das Olimpíadas, que viriam a seguir, seria feita por Claudio Dienstmann, de Zero Hora, que faria boletins também para a Rádio Gaúcha. Mais uma vez, não foi uma cobertura de Olimpíada, foi uma cobertura de futebol. Embora tenha sido importante no dia do dopping do Ben Jonhson, que entrou na rádio, não era uma cobertura sistemática dos jogos.
Veio então 1992. Primeiro detalhe: futebol eliminado antes – tá fora, então a rádio decidiu mandar uma pessoa, no caso eu, para cobrir um evento esportivo, já sabendo que não tinha futebol. Eu fui como único repórter de rádio aqui do Rio Grande do Sul. O outro representante era da Caldas Júnior, Hiltor Mombach, que sequer estava credenciado. Ele não ia no local dos eventos, quem fazia isso para ele, pois estava credenciado como voluntário, morando naquela época na Espanha, era o Túlio Milman. Ele tinha acesso, aproveitava e gravava tudo para o Hiltor. Então eu era o único repórter de rádio aqui do Rio Grande do Sul, e acabei dando uma sorte tremenda, porque foi naquela competição que o vôlei estourou mundialmente ganhando a primeira medalha de ouro do Brasil em esporte coletivo.
Todo grande repórter
precisa de uma dose correspondente de inspiração. Trata-se daquela ideia que
faz a diferença e garante um momento especial dentro de uma cobertura
jornalística. É aquela história: onde alguns veem só dificuldades, outros
enxergam a oportunidade essencial para a fazer a diferença. Foi o que aconteceu
com Antônio Carlos Macedo em Barcelona. Por questões econômicas, a Gaúcha não
contava com telefone celular na Espanha, algo muito caro para os padrões da
época. O Banco do Brasil, patrocinador da equipe de vôlei, possuía com um
assessor de imprensa, profissional com celular disponível.
Chegando nele eu fiz uma proposta... Digo que eu cito o Banco do Brasil na rádio, se ele me emprestasse o celular. O Brasil vence. Eu estou lá em baixo esperando me preparando para gravar. De repente, aparece todo o pessoal do Banco do Brasil... O Bernard era o secretário de Esportes... Toda aquela turma para fazer festa, faturar em cima da conquista. E eu fui direto: “Tenho um negócio para te propor... Troco o teu celular por citações do Banco do Brasil na rádio”. “Qual é o número?”, ele me falou puxando o celular. Fiz então toda a cobertura. Entrevistei todos os jogadores ao vivo. Realmente algo sensacional. No decorrer da cobertura, o assessor me pergunta: “Pode entrevistar o secretário?”. O Bernard era secretário dos Esportes, tinha sido medalha de prata no vôlei em Los Angeles, e nós tínhamos como comentarista da rádio, o Renan Dalzoto, colega dele. Coloquei então o Renan a conversar com o Bernard. Foi um estouro!
O sucesso da cobertura
protagonizada por Antônio Carlos Macedo iria garantir o interesse da emissora em
preparar um acompanhamento mais intensivo para quatro anos depois.
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