Daniel Scola e o terremoto no Chile
2010
Luiz Artur Ferraretto
Este texto não foi atualizado em relação à versão
original de 2010. O motivo é simples: transmitir o mesmo impacto
positivo causado pelo trabalho de Daniel Scola naquela ocasião, quando a
cobertura dos grandes acontecimentos ganhava espaço novamente no rádio de Porto
Alegre.
Em sua coluna, na época publicada no jornal Correio do Povo, Flávio Alcaraz Gomes
definiu a cobertura da Guerra do Golfo, fazendo uma comparação. Disse, lá no
início da década de 1990, que acompanhar de Amã, na Jordânia, um conflito no
Kuwait era como um jornalista argentino ficar em Porto Alegre para cobrir o
carnaval do Rio. Era a constatação de quem estivera nos principais conflitos
dos anos 1960 e 1970. Mudara muito o trabalho dos enviados especiais a países
em guerra ou assolados por tragédias naturais. Lembrei muito da frase do Flávio
na primeira semana de março, quando o repórter Daniel Scola foi deslocado ao
Chile para acompanhar as consequências do terremoto que atingira aquele país.
E, lá, fez jornalismo no calor dos acontecimentos e longe do copiar-colar que
infesta muitas redações. Com medo de esquecer alguém, lembro que, lá no Oriente
Médio, Marcelo Rech e Oziris Marins, também na Guerra do Golfo, driblaram, como
bons jornalistas, as imposições de governos e as dificuldades de regiões
abaladas por catástrofes, sejam as provocadas pelo ser humano, sejam as de
origem na natureza.
Daniel Scola atuou no Chile como os grandes repórteres que o
precederam na história. Jornalismo se faz no palco de ação dos fatos. Em um
país onde o transporte, o atendimento médico, a comunicação e mesmo as
condições de segurança e alimentação não existiam, existiam muito pouco ou
estavam ameaçadas, o enviado do Grupo RBS descreveu o fato sem esquecer das
pessoas nele envolvidas. Chegou a ser um protagonista. Poderia ter ficado em
Santiago, a capital, onde as condições, mesmo com o impacto do tremor inicial e
de suas réplicas, eram melhores dos que as de outras cidades.
Optou justamente
pelo deslocamento para cidades como Concepción e Talcahuano, em uma das regiões
mais atingidas. E viveu a vida do cidadão comum. Sem outra opção, com a audácia
dos grandes repórteres, conseguiu se acomodar junto a uma família, gente comum,
a gente que, nos noticiários, não raro, é só estatística, aquela gente que mais
sofre, em geral, com as catástrofes.
Os boletins que fez para a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre,
descreviam, assim, não só o fato em si, acrescido do ponto de vista do
repórter, mas as dificuldades de qualquer um que tentasse se deslocar em meio
ao caos do Chile. Fica para a história do rádio e do jornalismo do Rio Grande
do Sul a transmissão do áudio de um corre-corre após um dos tantos tremores de
terra subsequentes ao grande terremoto inicial. Daniel Scola foge da casa
chilena, em meio ao pavor de todos, enquanto o chão parece escapar dos seus
pés. E alguém, no melhor espanhol com o sotaque daquele país dos lados do
Pacífico, grita: “Daniel, apúrate!”. O boletim que fez no programa Gaúcha Hoje, contendo esta gravação,
fica já como um dos melhores momentos do rádio do Sul do país neste início de
2010.
Demonstra a simplicidade, a dedicação e a coragem de um grande
profissional. E, afinal, jornalismo é isto.
Daniel Scola narra a
situação da população chilena em meio aos tremores de terra no Chile (4 de março
de 2010)
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